A noite se abatia sobre Salem com uma lentidão inquietante, como se o próprio céu hesitasse em mergulhar nas trevas que se acumulavam. Na casa entre a floresta e o luto, Madison e Aradita encontravam refúgio onde o mundo não podia entrar, pelo menos, não completamente.
Uma tapeçaria inacabada pendia sobre o tear. Seus traços revelavam duas figuras entrelaçadas sob uma lua crescente, mas Aradita ainda hesitava em finalizar o desenho. A última linha exigia coragem.
Madison sentou-se ao lado dela, com um punhado de lavanda seca nas mãos. O perfume era como um feitiço de paz. Em silêncio, ela começou a entrelaçar os ramos em um círculo, uma coroa simples, mas carregada de significado.
— Isso é para você? — murmurou Aradita.
— Não. É para nós.
O fogo crepitava baixo, lançando sombras suaves pelas paredes. Madison pegou a mão de Aradita e a levou até um pequeno baú escondido sob o assoalho. Dentro, havia folhas antigas com símbolos desenhados, escritos da avó de Madison, e um pequeno espelho de prata escurecida.
— Ela dizia que um espelho não serve apenas para refletir o rosto... mas a alma de quem está ao lado.
Aradita olhou para o espelho, depois para Madison. Seu coração batia como se tentasse atravessar décadas de silêncio, de medo, de perda.
— Você quer que eu me veja ao teu lado?
— Quero que você se veja como eu te vejo. Forte. Bela. Uma história que merece ser contada, não apagada.
Ali, sob o rito simples de olhar juntas para o espelho, elas selaram uma promessa: não deixariam que o mundo as separasse sem luta. Começaram a escrever pequenos encantamentos juntas, bordar símbolos que combinavam cura e proteção, amor e resistência.
E naquela casa, cercada por olhares de julgamento do lado de fora, duas mulheres começaram a criar algo além do amor. Um pacto.