Amor e resistência

Capítulo I – Sob a Lua de Samhain

A névoa rastejava pelas trilhas de terra batida como um véu que escondia segredos ancestrais.Madison caminhava com passos silenciosos, o cesto cheio de folhas secas e raízes recém-colhidas balançando suavemente em seu braço. A lua cheia, alta no céu de outubro, parecia observá-la com olhos cúmplices. Aquela noite marcava o início do Samhain, uma celebração esquecida pelos puritanos, mas viva nos murmúrios das bruxas silenciosas que ainda se permitiam lembrar.

Na casa de pedra à beira da floresta, Aradita esperava. A luz do fogo tremulava sobre suas tapeçarias penduradas, desenhando sombras nas paredes como espectros das histórias que seus dedos haviam tecido. Ao som do estalar da lenha, ela ouvia os próprios pensamentos ecoarem: vozes de saudade, de medo, de uma esperança que se recusava a morrer.

Madison entrou sem bater. Entre elas, o silêncio era conforto, não ausência. Colocou o cesto sobre a mesa, e seus olhos encontraram os de Aradita, não havia necessidade de palavras. Com mãos cuidadosas, começou a preparar um cozimento, esmagando folhas de jasmim e raiz de valeriana, suas ações como uma coreografia antiga que só as almas que conhecem o luto e o amor podem dançar.

– Trazem bons sonhos – disse Madison, finalmente, oferecendo o chá. – E te protegem da ira dos homens que não sabem amar o mistério.

Aradita sorriu de leve, o tipo de sorriso que escapa quando a alma reconhece um abrigo. Ela estendeu a mão, deixando que seus dedos tocassem os de Madison por um instante a mais do que o permitido. Ali, naquela casa cercada por árvores que já haviam testemunhado horrores e belezas, duas mulheres desafiavam o mundo, não com gritos ou violência, mas com ternura e coragem.

Lá fora, a vila borbulhava em julgamentos, rezas e olhares acusadores. Aqui dentro, entre tapeçarias e ervas, entre chá quente e respirações entrelaçadas, nascia algo mais forte que o medo: uma promessa silenciosa de resistência.