Gotas de chuva deslizam pela janela da sala de aula. Está escuro, a tempestade tinha acabado com o gerador do internato, restando apenas as lanternas de emergência para iluminar.
Enquanto espero a chuva passar, escrevo as próximas atividades que devo aplicar. Estou aliviado que as atividades sobre mitologia tenham acabado. Já estava ficando difícil os sonhos com Akhlut e meus remédios para dormir passaram a acabar igual água .Uma pílula só não estava adiantando nada.
No início, pensava que os sonhos com Akhlut eram mais leves que os do homem de mãos grandes, mas logo eles passaram a ser tão horríveis e grotescos quanto o do homem de mãos grandes .Os problemas para dormir pioraram gradativamente e cheguei a ter olheiras por ficar acordado na madrugada. Minha única distração era o Will para eu brincar enquanto tentava esquecer os pesadelos.
Se trouxesse Angus para morar comigo, possivelmente ele me faria companhia nesses momentos. Com certeza ficaria mais calmo e com pouco medo .Poderíamos conversar até dormir, eu poderia dormir abraçado com ele igual fazemos depois no s**o. Assistiriamos filmes na TV da sala que eu quase nunca ligo, na verdade, poderia trazer a TV para o quarto. Assistiriamos a TV enquanto eu o beijo ou enquanto transamos.
Quando ficasse e******o, apertaria seu corpo contra meu p*u. E quando ele sentisse, enfiaria a mão na minha cueca. Eu chuparia seu pescoço no instante que ouviria seus gemidos e no fim dormiria com o m****o dentro dele.
Eu vou amar tanto ele, tanto seu corpo, tanto seus lábios…
Quero ele me chupando, quero ele apertando meu p*u, quero seu corpo acima do meu e quero morder seus lábios.
Sinto o p*u começar a ficar ereto nas calças. Paro de deslizar uma das hastes do óculo no lábio inferior. Meus olhos continuam focados na mesa vazia, no instante que tento afastar esses pensamentos da cabeça.
Passo os olhos pelas mesas à minha frente. Ali era o lugar de Alice, agora é um pouco estranho levantar os olhos e não vê-la mais, como passou a ser tão estranho procurar Angus por uma fileira e não encontrá-lo dormindo na mesa.
Duas semanas. Há duas semanas Alice havia se machucado e Angus tinha ido para o castigo no subsolo. Felizmente, ouvi recentemente que Alice já estava se recuperando, mas teria que usar cadeiras de rodas por um pequeno período. Já Angus, não tinha notícias alguma dele e o máximo que tinha conseguido foi no terceiro dia dele no subsolo, que uma camareira me contou que ele parecia bem — só que sempre estava sozinho.
Idiota. Não devia ter assumido a culpa de Heather, eu poderia ter dado um jeito nela. Não seria difícil, daria qualquer porcaria para ela desmentir e Angus ficar livre.
Se bem que eu tenho um pouco de culpa nisso, poderia ter mudado as coisas no teatro, poderia ter feito Angus desmentir para o diretor e feito Mário confirmar. No entanto, fiquei tão irritado que ele contou sobre nós para a sua “pouca provável amiga”.
O t**a que dei nele também não adiantou, não devia ter feito isso, só atrapalhou. Também devia ter dito que iria tirá-lo do internato e para não se preocupar, porém eu não tinha nenhuma certeza ainda.
Só perdemos tempo discutindo sobre Alice. Devia ter revelado sobre ela antes. Com certeza não seria algo realmente lógico, Angus pensaria muito m*l de mim. Não é como se não pensasse agora também.
Ele tinha saido tão irritado do banheiro naquele dia, logo após discutirmos, e um pouco mais tarde, Alice furaria o pé em um prego e despencaria do palco fraturando um braço.
Não. Angus não parece o tipo de fazer algo r**m para outro. Porém, eu realmente não o conheço direito fora do s**o, mesmo antes, eu nunca imaginaria que ele fosse capaz de me ameaçar quando descobriu que tive Alice antes dele. Talvez quando trouxer ele para morar comigo posso conseguir conhecê-lo melhor.
Não deve ser difícil tirá-lo do internato. Eu sei como é a segurança e o que gerencia as câmeras, mas o problema seria começarem as buscas. Um garoto simplesmente desaparece de dentro do internato e logo depois um professor pede as contas. Com certeza tem que ser algo mais planejado.
Uma das soluções que surgiu seria eu entrar com interesse na diretoria para se tornar o representante materno de Angus. Assim conseguiria trazê-lo legalmente para casa e quando ele completasse dezoito anos, casaríamos. Mas Angus quer algo que seja logo e rápido, ele não aguentaria esperar todo o processo de adoção. Porém, se conseguir convencê-lo que esse é o melhor jeito, provavelmente pode esperar eu acelerar ainda mais o processo. Podendo conseguir a guarda dele ainda um pouco depois do passeio.
Angus não tem representantes maternos — não que se importem. A mãe dele havia sido degolada pelo o pai, e o pai pegou prisão perpétua e se matou na cadeia. O irmão mais velho de Angus simplesmente sumiu depois do que ocorreu e a tia o jogou no internato e desapareceu também. A única coisa que descobri o que houve com ela foi que se juntou com um grupo evangélico na cidade de nascimento de Angus, Whitehorse, e que não tinha mais interesse em ser representante materna de Angus. Os avós de Angus de parte de mãe já morreram e os de parte de pai não querem nenhum relacionamento com nada do pai de Angus.
As gotas na janela de repente parecem ficar mais fortes. Agora, demorará mais para eu ir para casa Em seguida, um zumbido soa pela sala e, no mesmo instante, a voz do diretor surge.
— Boa noite a todos. Alunos e professores. É de grande urgência que todos que estão nos andares do subsolo, térreo e andar um, passem a subir para os andares superiores por segurança. O prefeito acaba de nos enviar um aviso de emergência de catástrofes. Não se desesperem, o internato possui segurança contra inundações. Isso é apenas por segurança. Boa noite a todos.
Talvez seja a oportunidade de eu conseguir ver Angus e falar que vou tirá-lo daqui. Levanto da cadeira e esguio o corpo até a janela, visualizando os muros do internato. A chuva está forte e a ventania ajuda. As árvores do campo estão quase nuas e o gramado parece um lago de lama. Na curva do muro direito, uma onda escura maior que os muros atravessa e invade o exterior do internato. As pequenas árvores e mudas de flores são engolidas pela onda de barro e água em instantes.
Continuo observando aquele caos lá embaixo e percebo que o que está acontecendo é pior do que o diretor vinha dizendo.
Meu único pensamento de ação é sobre Angus. Uma angústia bate na garganta e logo saio da janela e movo as pernas para fora da sala.
O corredor está tão escuro quanto dentro da sala, alguns professores e monitores correm pra lá e para cá. Uma professora presta assistência emocional a um professor no meio do corredor. Ele está a chorar e a tremer como se fosse o juízo final. Um pouco mais à frente, duas professoras estão discutindo, uma está dentro da sala e a outra está na porta da sala.
— Eu sei que você pegou sua ladrazinha! — a do lado de fora da sala grita.
— Peguei mesmo, e já disse que vou comprar de volta! — a de dentro da sala responde.
— Mas eu não quero outro, eu queria aquele!
— Eu vou comprar de volta. Já não disse?!
E a discussão prossegue e eu continuo andando.
Ao chegar no elevador de deficientes, pressiono três vezes o botão para acionar, mas nada acontece e dou conta da luz de emergência vermelha e da escuridão na maior parte do corredor.
— Vou ter que ir de escada — digo a mim mesmo dando alguns passos para a entrada da escadaria.
Quase bem distante do sexto andar, chegando no refeitório, minha perna começa a falhar. Sabia que isso iria acontecer quando estava descendo o quarto andar com um monte de adolescentes de pijamas carregando roupas de cama.
Paro nos degraus restantes que conduzem ao refeitório. Aperto a mão no rosto tentando suportar a dor. Tomo força e prossigo. Nos dois degraus restantes, sinto meu sapato se encher de água. Movo o rosto para olhar toda a região do refeitório. O lugar inteiro está inundado de água escura.
Três pessoas tentam tirar o excesso de água com baldes enquanto duas lançam a água pela janela principal do refeitório.
Desço o último degrau e vou mancando pelo pátio. A lamacenta água vai cobrindo cada vez mais meus pés, até chegar ao tornozelo e os passos ficam mais difíceis.
Minha perna falha por um momento, mas tenho a sorte de me apoiar em uma mesa. Aperto os lábios, observando apenas a dor rasgar o meu joelho. Respiro, abro os olhos e noto a água rondar pelos tornozelos.
— Senhor Bake, o que faz aqui? — Romy Jufey surge de trás de uma mesa à minha esquerda. Está com os cabelos e as roupas encharcados, além de um olhar assustado.
— Eu… — tusso, mas levo uma mão para a boca. — Eu vim ajudar a tirar as crianças do subsolo.
— Oh sim, há muitos ainda presos no subsolo. Parece que as travas de segurança não conseguiram suportar. Tentei ir até lá com o diretor, mas a porta para o térreo está emperrada por algum tronco de árvore
— Emperrada? — a minha angústia de antes parece aumentar. — E quem ainda está lá?
— Todos os do subsolo!
O estilhaçar de água no meu rosto fez eu desviar o rosto de Romy para a janela principal. A chuva está invadindo o refeitório como um furacão, e as pessoas com baldes ficam cada vez mais cansadas e perdidas.
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Estava perto de completar o bacharelado em literatura na Universidade de Saskatchewan quando uma mulher gordinha de pele n***a entrou na biblioteca da universidade gritando pelo seu nome.
Hector estava caído em cima dos livros, após ter lido outro texto insuportável da Virginia Woolf. A saliva estava escorrendo pelas páginas dos livros e um lado do rosto estava avermelhado.
“Hector Bake!” A mulher gritou, mas já estava próxima o suficiente da mesa.
“O que… o que foi?” Hector esfregou os olhos com as mangas da blusa.
“Seu pai gostaria de te conhecer”, por um instante, Hector não raciocinou. Até há alguns segundos pensava que seu pai fosse um cliente qualquer da sua mãe e que jamais saberia quem fosse.
“Meu pai? Acho que está confundindo. Eu não tenho mãe e nem pai”, Hector começou a organizar os livros e as canetas. Aquilo com certeza era uma confusão, no entanto, sentiu-se feliz com a esperança de ter um pai.
“Pega suas coisas e vamos até a diretoria”, a mulher cruzou os braços e esperou Hector organizar todas suas coisas. Feito isso, Hector a acompanhou até a diretoria da Universidade de Saskatchewan.
Ao ver seu pai pela primeira vez quebrou toda imagem que havia construído durante anos e anos que esteve lutando para sobreviver. Imagiva que seu pai fosse um caminhoneiro qualquer, gordo, pobre, bêbado, depravado e cheio de filhos só com o registro do nome da mãe. Mas nada disso chegava perto do seu pai de verdade.
O senhor Camble era bonito, usava ternos caros, anéis de ouro, sapatos carmesim e sempre acompanhado de seguranças. As irmãs e a madrasta de Hector também eram assustadoramente elegantes e bonitas. Viveram na bela mansão do pai de Hector na cidade de Saskatoon, estudaram nas melhores universidades da Europa e estavam trabalhando nas maiores empresas do mundo.
Após o exame de DNA comprovar que Hector era realmente filho do senhor Servim Camble, ele pode conhecer a vida que podia ter desde criança. Contudo, os traumas eram tão ferozes que preferiu prosseguir construindo sua vida sozinha ao invés de contaminar a vida perfeita e bonita do seu pai com seus problemas.