Bem Vinda à Sua Nova Casa!
Nunca esquecerei aquele dia, cada imagem está gravada na minha mente, os cheiros, as texturas, as cores, as pessoas, tudo.
Estava sentada no banco traseiro do carro, olhava pela janela as ruas de São Paulo, ainda sem acreditar que finalmente aquele dia tão aguardado tinha chegado. Depois de pouco mais de um ano no abrigo, um casal tinha se interessado em me adotar e eu podia me considerar muito feliz em estar ali, porque eram muito incomuns as adoções na minha idade, e ainda mais incomuns para quem estava a tão pouco tempo naquela instituição, acho que eu era uma garota de muita sorte.
O mês de julho estava particularmente gelado aquele ano, mas eu me sentia bem quentinha usando um casaco rosa e lilás, que eles me presentearam naquela manhã, ele era tão bonito e quentinho.
De onde estava, via a parte de trás da cabeça de meu novo pai, seu cabelo curto e castanho, e seu pescoço bem coberto pelo casaco preto que ele usava. Olhei para quem estava ao seu lado e vi o cabelo loiro de minha nova mãe, preso num r**o de cavalo; ela usava uma jaqueta de couro marrom, que a fazia parecer, ao mesmo tempo, uma mulher moderna e charmosa. Inesperadamente ela se virou para trás e me olhou, abrindo um sorriso sincero, que eu logo retribuí com outro igualmente feliz e ansioso.
— Nervosa? — Me perguntou.
— Um pouco — Respondi, com a voz tremendo ligeiramente.
— Não se preocupe! — Ela disse. — Seus irmãos estão tão felizes ou até mais do que nós, não é verdade, Vitor?
— Sem dúvida! — Ele respondeu, animado. — Acho que nem dormiram direito essa noite, de tão empolgados que estavam! — O homem completou, me olhando rapidamente pelo retrovisor.
Soltei um suspiro ao ouvir aquilo, pois eu também m*l tinha pregado o olho na noite passada, por causa da expectativa do que aconteceria pela manhã.
Pouco tempo depois, entramos num bairro bem residencial, onde observei que havia muitas casas, alguns prédios baixos e pouco comércio. O carro foi desacelerando e logo em seguida Vitor estacionava o carro em frente a uma casa grande e bonita, de tijolos vermelhos e dois andares., parecia bem grande.
— Chegamos! — Papai disse, abrindo o cinto de segurança e virando-se na minha direção. — Pronta?
Eu estava tão nervosa que não consegui falar, tive medo que, se tentasse dizer alguma coisa, não conseguiria parar de gaguejar, então preferi acenar afirmativamente com a cabeça. Depois, abri a porta do meu lado, saí para a calçada, olhei para cada coisa à minha volta, e apertei firmemente a alça da mochila que eu carregava com alguns pertences mais pessoais.
Caminhamos em direção à casa da minha nova família, os Smith. Fui guiada pelas mãos da minha mãe e seguindo o meu pai, que carregava a minha única mala, com o restante das minhas coisas. Passamos por uma cerca baixa, de metal, e atravessamos o pequeno jardim. Subimos então os poucos degraus da entrada da casa, onde se abriu uma porta bonita e envernizada. Entramos num pequeno vestíbulo, tiramos nossos casacos e os penduramos nos cabides, que estavam presos em uma das paredes da entrada, tudo me parecia tão novo e estranho ao mesmo tempo.
— Bem-vinda, minha querida! Esta agora é a sua casa — Disse, emocionada, Alexandra, minha nova mãe.
— Vou chamar as crianças, elas devem estar loucas de curiosidade! — Comentou Vitor, meu novo pai.
Seguimos em direção a uma sala grande e espaçosa, dividida em vários ambientes. Meus olhos captavam tudo ao mesmo tempo: um conjunto de sofá de couro marrom, acompanhado de duas poltronas confortáveis; um enorme tapete com motivos geométricos cobria todo o chão; na parede lateral ao sofá, uma lareira cercada de grades protetoras, e acima desta, mais ao alto na parede, um lindo e grande quadro com moldura dourada, com uma bela paisagem, provavelmente do interior da Inglaterra, um bosque com muitas árvores e um riacho; nas outras paredes, alguns quadros menores, geralmente com os mesmos temas de paisagens ou fotos de família; nas janelas, cortinas brancas e esvoaçantes ajudavam a tornar o ambiente claro e agradável. Percebi também, em locais estratégicos, algumas cantoneiras com pequenos vasos que continham flores variadas. Olhei curiosa ao redor, achando tudo muito bonito e de bom gosto, andamos mais um pouco e paramos no início da escada que dava acesso para o segundo andar.
— Crianças! Estamos aqui — Chamou mamãe.
Meu coração batia descompassado, eu estava séria, reflexo do meu nervosismo, e minha mãe percebendo isso me abraçou pelos ombros, parecia tão bondosa e carinhosa. Ouvi passos, e em seguida três pares de pernas apareceram correndo acompanhados de três pares de olhos castanhos ansiosos.
— Crianças, ela chegou, sua nova irmã chegou! — Informou nosso pai.
Primeiro vi duas meninas altas e morenas, que assim que me viram sorriram para mim, e em seguida surgiu um lindo menino de cabelos castanhos, como os de Vitor, e com bochechas rosadas.
Ele me olhou de forma curiosa, mas estranhamente permaneceu sério, observando-me com atenção. Todos eles usavam calça jeans, camisetas coloridas e meias nos pés; então, ao observar minha própria roupa, não me senti deslocada, praticamente estávamos usando o mesmo estilo, esportivo e casual.
Meu coração, que já batia fora de ritmo, acelerou mais ainda, batia tão forte no peito, que fiquei com medo que pudessem escutar, por isso procurei respirar calma e profundamente, tentando me acalmar. Também tentei ficar imóvel, com medo de que, se andasse, tropeçasse nos meus próprios pés e desse vexame, despencando no chão, imagina a pagação de mico que seria logo no meu primeiro dia em minha casa nova..
— Malu, estes são seus novos irmãos, Mellany ou Mel, como ela gosta de ser chamada. Angelina ou Angel, e esse garotão é o Diogo, ou só Di. — Apresentou Vitor.
— Muito prazer — Respondi timidamente.
— Ficamos felizes por você estar aqui, Malu — Disse Mel, que aparentava ser a mais velha.
— Obrigada, também estou. — Falei, com um leve sorriso tímido.
Eles me rodearam, observando-me. Foi então que aconteceu. A partir daquele momento e para sempre, quando meus olhos se encontraram com os de Diogo, fui atingida por um sentimento muito forte, e naquele instante alguma coisa surgiu dentro de mim. Apesar da minha pouca idade, eu sabia que havia sido plantada a semente de algo especial e único, algo que no futuro eu chamaria de amor, mas que naquele momento era apenas o início de uma bela amizade.
Quando ele veio à escada e eu olhei em seus olhos, o mundo pareceu menor, e eu não entendia direito o que estava havendo, mas aquele menino bonito, que me olhava desconfiado, transformou-se no príncipe encantado dos meus sonhos infantis.
— Quer ver seu quarto? —Perguntou Angel.
— Sim. — Respondi baixinho meio tímida.