SAMUEL’S POV
A música fluía das cordas da minha guitarra, lenta e melódica, enquanto eu pensava em Lily. As palavras vinham aos poucos, como se cada nota me guiasse a uma nova linha da canção que eu tentava compor para ela. O silêncio da casa, sem a presença de Samantha e Doug, parecia me dar o espaço que eu precisava. Estava absorto, quase em transe, quando um som do lado de fora chamou minha atenção. Um carro parou na entrada.
Franzi a testa, curioso, e me aproximei da janela, afastando a cortina levemente. Lá fora, Aidan estava com Lily. Meu coração acelerou instantaneamente ao ver a proximidade entre eles. Ela estava com uma saída de praia por cima do biquíni vermelho, mas mesmo assim... não havia como esconder o quão provocante ela parecia. E, por Deus, aquele biquíni era demais. Realçava suas curvas de uma maneira que eu nunca havia visto antes. O ciúme cresceu dentro de mim, uma chama que queimava no peito, ainda mais quando vi Aidan se inclinar para beijá-la.
Levantei-me da cadeira num impulso, quase derrubando a guitarra. A irritação subiu à minha cabeça, e antes que pudesse me conter, eu já estava abrindo a porta da frente com força.
“Lily! Entra agora.” Minha voz saiu ríspida, quase um grito.
Ela se virou, surpresa, me encarando por um segundo, mas depois voltou sua atenção para Aidan, como se eu não estivesse ali.
"A gente se vê amanhã na igreja então?"
Aidan me olhou de relance, desdenhoso, e respondeu,
"Até amanhã", antes de virar as costas e seguir em direção ao carro.
Lily passou por mim sem dizer uma palavra, sem me encarar. Isso só aumentou minha raiva. Fechei a porta atrás de nós e respirei fundo, tentando me acalmar, mas a situação me incomodava demais. Quando me virei para perguntar onde ela tinha estado, só ouvi o som da porta do quarto dela batendo com força. Ela estava me evitando.
Eu podia ter deixado pra lá, mas a raiva que borbulhava dentro de mim me fez agir sem pensar. Subi as escadas correndo, com o coração acelerado, e nem sequer bati. Apenas abri a porta do quarto de Lily.
Ela estava de costas para mim, tirando a parte de cima do biquíni. Parou de repente, segurando o tecido contra o peito, os olhos arregalados de surpresa e irritação.
"O que você está fazendo aqui? Você não sabe bater?"
Mas a minha raiva não me deixou pensar direito.
"De quem é esse biquíni?"
Ela me olhou confusa.
"Como assim, de quem? É meu."
Dei mais alguns passos à frente, a mandíbula travada.
"Mentira."
Lily franziu o cenho, séria.
"Por que eu mentiria pra você? O que faz você pensar que eu preciso disso?"
Eu me aproximei, sentindo meu rosto esquentar de frustração.
"Esse biquíni não é você, Lily. Não faz o seu estilo."
Ela se afastou, deixando escapar um suspiro de exasperação. "Você tem razão. Não é meu, é da Ashley."
Meu peito apertou com a confirmação.
"Onde você esteve?"
Lily pegou algumas peças de roupa na cama, o rosto cheio de desdém.
"Não consegue adivinhar?"
Aquilo me irritou ainda mais.
"Você pode parar com isso por um segundo? Dá pra gente ter uma conversa normal?"
Ela parou de mexer nas roupas e me encarou, os olhos faiscando de raiva.
"Fui à Montrose Beach."
Eu segurei o impulso de reagir imediatamente e perguntei, tentando manter a calma, "Com quem?"
Ela deu de ombros, como se não fosse nada demais. "Com o Aidan, a Ashley e o pessoal dela."
Aquilo me atingiu como um soco. "Esse pessoal não é seu amigo, Lily. Emily sim."
Lily revirou os olhos, claramente irritada com o que eu disse. "Eu sabia que você ia falar da Emily."
"Porque ela é sua amiga de verdade! Não essa galera que só quer te usar."
Lily se virou, furiosa, pegando mais roupas. "Você não sabe nada das minhas amizades. Não me conhece o suficiente pra julgar. E, por favor, para de falar da Emily. Eu não quero saber dela."
O jeito como ela falava, como me ignorava, só fazia a raiva crescer dentro de mim. "Eu só quero que você enxergue que essas pessoas não têm nada a ver com você. Estão te usando, Lily."
Ela começou a tirar a saia com uma calma inquietante, como se quisesse me desafiar. Eu fiquei parado, sem saber o que ela ia fazer a seguir.
Lily me olhou nos olhos, tirando as roupas. "Deita na cama logo."
Fiquei sem reação por um momento. "O quê? Do que você tá falando?"
Ela deu um passo à frente, os olhos frios e calculistas. "Não foi pra isso que você veio aqui? Pra t*****r? Então faz logo, porque eu ainda tenho que tomar banho e dormir."
Fiquei completamente chocado com as palavras dela. "Claro que não! Eu vim aqui pra conversar com você."
Lily riu, um riso frio e cheio de sarcasmo. "Não, Samuel. Você não veio aqui pra isso e nós dois sabemos disso. E, pra sua informação, você não é tão diferente desse pessoal. Afinal, toda vez que me procura, é pra isso, pra transar."
Ela pegou as roupas que tinha separado e começou a caminhar em direção à porta do quarto. Eu queria responder, queria explicar que ela estava errada, mas as palavras não saíam. Antes de sair, ela se virou, me encarando por cima do ombro.
"Fecha a porta quando sair."
E com isso, ela foi embora, deixando-me sozinho no quarto, sufocado pela mistura de raiva, frustração e uma tristeza crescente.
Eu fiquei ali por alguns segundos, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Eu queria ajudá-la, queria que ela visse que eu me importava de verdade. Mas, de alguma forma, tudo o que eu disse e fiz parecia empurrá-la ainda mais para longe.
Olhei em volta, para o quarto dela, vazio e quieto agora. O som do chuveiro ligado ao fundo era a única coisa que quebrava o silêncio. Fechei os olhos por um momento, tentando controlar a torrente de emoções dentro de mim.
Eu queria tanto protegê-la, fazê-la ver que o caminho que ela estava seguindo só ia machucá-la mais. Mas, talvez, no fim das contas, eu era tão parte do problema quanto aqueles que ela queria manter por perto.