Capítulo cinco

1313 Words
Quero dizer o quanto estou incomodada com a mensagem, porém não consigo. É como se eu não quisesse viver esse pesadelo ainda.  Minhas poucas palavras e distância do Marco faz com que a nossa noite vai esfriando aos poucos. Sinto a todo momento um incômodo no estômago e a sensação de que vou chorar a qualquer momento. Não quero aceitar que tudo o que nós vivemos foi insignificante.  Eu o coloquei na casa dos meus pais, na minha casa e o mais importante na vida do Pedrinho. Ele se tornou uma figura extremamente importante para o meu filho e agora estava prestes a se tornar um pesadelo.  - O que foi? - Ele move os lábios enquanto a Gabi manda uma mensagem.  O ignoro e olho para o carpete onde está a minha taça de vinho. Ele é o amor da minha vida, como teve coragem de fazer isso comigo? Depois de mais alguns minutos decidimos ir dormir. O relógio já apontava quatro e meia da manhã quando tirava a roupa da cama do guarda-roupa no quarto de hóspedes. Entreguei a Gabi que foi esticando na cama de casal.  - Preciso lhe contar uma coisa... - Suspiro triste.  Ela para com o travesseiro na mão e me olha curiosa. Sentamos na beira da cama e eu tento não chorar antes de dizer. Falar em voz alta tornava a situação real. - Acho que o Marco está me traindo. - Meus ombros caem. Estou derrotada.  - Oi? Calma. Como assim? - Coloca uma mexa de cabelo atrás da orelha. - Amiga, jura? - Vi uma mensagem. Presumo que sim. Uma menina pedindo para se encontrar novamente...  A imagem vem a minha mente e eu fecho os olhos para esquecê-la, mas tudo o que consigo imaginar é onde o Marco passou essa tarde.  - Não é possível. - Balançou a cabeça, cética. - Digo, não estou desconfiando de você, só não consigo entender. Eu vou m***r esse puto! - Ainda não conversamos. Infelizmente vamos precisar conversar.  - Eu vou m***r esse puto. - Repetiu indignada - Amanhã vou sair com o Pedrinho para vocês conversarem. Eu o Pedrinho e os MIB. - MIB? - Questionei, confusa. - É. Os homens de preto que não saem da sua porta e do seu lado. Caímos na risada e por alguns segundos esqueci de que meu casamento estava a um passo de acabar. Quando cheguei ao quarto, meu marido já estava deitado e em um sono profundo. Deve ser as inúmeras taças de vinho que tomamos. Ou será que ele já havia bebido mais cedo?  Droga. Para Amélia.  Se esta tão preocupada com isso, por quê não pergunta? Deitei ao seu lado e parte de mim evitou o seu toque quanto o seu braço livre tentou entrelaçar não minha cintura como sempre fazíamos.  Resolvi virar de costas pra ele e deitar o mais próximo da beira da cama possível. As lágrimas começaram a molhar o travesseiro, não quero deixá-lo. Mas não quero ter sido traída. Não quero que o Marco seja um desses homens que trai a mulher e age como se nada tivesse acontecido. Afinal, ele é o Marco, o meu Marco.  Gabi cumpriu o que disse e quando me levantei e fui ao quarto do meu filho notei que ele já não estava lá. Verifiquei o relógio vendo que passava das dez da manhã.  Deveria ir até o quarto, acordar o Marco e resolver essa situação? Sim. Desço até a cozinha e me sirvo com uma xícara de café preto. Daqui a pouco resolvo isso, afinal, terminar um casamento não é tão fácil assim.  Meu celular vibra acima do balcão e eu transfiro os meus olhos para o número desconhecido.  Merda. Meu coração congela. Não deveria ter deixado a Gabi sair com o Pedro.  Aperto a xícara entre os meus dedos enquanto o celular se mexe de tanto vibrar.  Merda. Aperto para atender e fico em silêncio. Do outro lado barulho de carros e caminhões, como se fosse uma estrada.  - Eu vou acabar com a sua vida. - A voz do Henry faz com que eu esbarre não xícara e a derrube no chão, espalhando café por toda parte.  - Henry. - Engasgo desesperada.  - Você acabou com a minha vida Amélia. Vou acabar com a sua.  O meu marido aparece na cozinha e percebo que ele veio correndo. Apenas de bermuda preta e sem camisa ele apoia as mãos no batente antes de enfiar os pés descalços nos vidros.  - O que foi? - Pergunta sonolento e preocupado. Henry desliga.  Eu também desligo de alguma forma, tudo o que eu consigo ouvir é a respiração pesada carregada com rancor e ódio. Só consigo imaginar as inúmeras formas que ele imagina de acabar comigo.  A forma mais fácil seria o Pedro. Ele seria capaz? De machucar o próprio filho?  Ou talvez o Marco? Que tenta pular os cacos de vidros e me pergunta repetidamente quem era ao telefone.  De alguma forma tudo o que eu penso e sinto se intensifica. A falta que sinto dos meus pais, a saudade que tenho da minha antiga casa, a segurança do Pedro e a infidelidade do Marco. - Você está me traindo? - Pergunto sem forças, sem voz e sem querer ouvir a resposta que eu sei qual é.  Ele para e sobe os olhos lentamente até os meus. Sua testa franzida me deixa ainda mais nervosa e desesperada. Ele é o meu ponto de paz, o meu Porto Seguro, preciso saber se realmente é seguro.  - O que? - Questiona balançando a cabeça algumas vezes - Como assim? - Marco. - Respiro fundo e fecho os olhos. Prometo a mim mesma que não vou deixar uma lágrima cair. - Me diga, e não minta! Você está me traindo? - Repito a pergunta e ele n**a. - De onde você tirou isso, amor?  Amor.  De alguma forma essa palavra sair da sua boca me causa repulsa. - Arruma as suas coisas. - Apoio as mãos no balcão pois minhas pernas falharam. - E vai embora, por favor. - Amélia. Pelo amor de Deus. - Ele se apavora. - Me explica o que está acontecendo.  - Eu vi, Marco. - Mordo o lábio. Não posso chorar, não posso.  - Viu o que, linda? - Indaga se aproximando.  - Seu celular, ontem. A mensagem. Onde você estava ontem?  Ele coça a cabeça e vejo um pequeno sorriso tentar escapar no canto do seus lábios. Por que ele está suspirando aliviado?  Ele esta gargalhando? Jura?  Pego o saco de açúcar e taco contra ele antes de pensar direito. Marco se esquiva e joga a cabeça pra trás rindo alto.  - Marco! Não tem graça! - Falo alto. - É a mãe da Gabi. - Tentou parar de rir mas não conseguiu. Voltou a gargalhar e eu me senti a pessoa mais ridícula do mundo.  - Mãe da Gabi? Marco, sério? - Você disse a ela? Não disse? Óbvio que disse, vocês contam tudo uma pra outra. Contou o nome? c*****o, Amélia. Que susto! - Susto?? - Abro a boca. - Você que tomou um susto? - Lógico, não sei viver em um mundo do qual não tenha você. Eu te amo e amo a família que você me deu, amo cada momento que nós temos e nunca em hipótese alguma eu deixaria vocês por uma aventura.  Nem por nada nesse mundo. - Há uma pausa, quero me aproximar mas sou orgulhosa demais pra isso. Parte de mim está aliviada, na verdade estou totalmente aliviada. Ele tira o celular do bolso e mostra a foto e a conversa. Realmente...  A mensagem que me aterrorizou era da tia dele.  - Você é doida. - Me puxou para um abraço. Quis desabar, quis agarra-lo com todas as minhas forças e não soltá-lo nunca mais.  Mas tínhamos coisas para resolver, uma ameaça para se proteger.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD