Estaria mentindo se falasse que não passei essas últimas semanas com cortinas fechadas e aproveitando para dar uma espiada as vezes o lado de fora. Mas a única coisa que tinha era o carro preto dos dois seguranças armados que o Augusto contratou.
Mesmo assim, eu não me sentia segura. Henry tinha o mesmo poder do pai nas mãos, poderiam ter outros dois desses atrás de nós.
A mão na minha cintura faz eu sobressaltar. Meu coração bate forte e a minha garganta fecha.
- Calma, linda. - Marco sussurra e eu relaxo imediatamente, porém ainda sinto as rápidas batidas no peito.
- Estou ficando maluca. - Fecho a cortina e viro o meu corpo pra ele. Estou exausta.
- Não. Só está preocupada. - Consolou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e em seguida as mãos na minha bochecha. - E tudo bem ficar preocupada, eu também estou. Mas estamos seguros aqui, ok? Nada vai acontecer ao Pedrinho.
- Faz dias que ele não vai à aula. Está questionando e eu estou interferindo na educação do meu filho. Que tipo de mãe eu sou, Marco?
- Do tipo que faz qualquer coisa para proteger o seu filho. Ei! Presta atenção! Eu sei bem o que é uma péssima mãe, e você está longe de ser uma. Você é incrível, forte e incrivelmente protetora! Você é o suficiente, Amélia. E eu te amo mais ainda por ser a mãe que é.
Meus olhos ardem, quero segurar o choro mas com ele me consolando é praticamente impossível. Não quero chorar, de novo. Eu só sei chorar e reclamar da segurança do meu filho. Estou impotente.
- Não chore, amor. - Passa o polegar lentamente nas minhas lágrimas. - Vocês não estão sozinho, estamos juntos, somos uma família. - Me puxa para o seu peito e afaga as minhas costas enquanto me aperta contra o seu corpo.
Eu o amo. O amo intensamente.
Com os problemas sobre o Henry, acabei me esquecendo de falar com a Gabriela. Mesmo que ela ligasse todo santo dia, não tocávamos no assunto do Eduardo.
Me sinto péssima por isso.
Deixo o Pedro adormecido em seu quarto, e saio lentamente para não acorda-lo. Marco foi ao escritório, mesmo eu odiando a ideia dele sair, alegou que era urgente.
Minha vontade era de colocar todos em uma quarentena. Eterna. Estou ficando maluca.
Disco o número da minha amiga, dou mais uma espiada na janela e lembro do que Marco falou: relaxe.
Talvez eu devesse mesmo. Estamos seguros aqui, Henry é só um homem deprimido que anda por aí com uma arma na mão, totalmente descontrolado e...
- Alô. - Gabi atende antes que eu começasse com as paranóias. - Amélia? Tá tudo bem? - Preocupadíssima.
- Oi, sim. Tudo bem. - Respondo apressada. - E você?
- Bom, não tem um sociopata atrás de mim. Você está bem?
- Estou. Estamos todos bem. E o Edu? Não conseguimos conversar sobre ele, desculpa.
- Pois é, você acha que só porque o pai do seu filho apontou uma arma pra você, tem o direito de não conversar sobre o s****o do meu ex.
Rimos. Era inevitável não rir nas conversas com a Gabi. Ela sempre arrumava uma forma de descontrair e se saía super bem nisso. Por isso é a minha melhor amiga. Em todos os momentos ruins e bons da minha vida ela esteve lá.
- Fala. - Peço. Ela suspira do outro lado da linha.
Assunto difícil. Não se resolveram pelo visto.
- Ele está insistente em querer se explicar, mas eu não sei se quero uma explicação. Não estou pronta para ouvir a verdade dele.
- E se a verdade dele não for o que você pensa?
- Não acredito que seja isso. Ela é incrivelmente linda - Solta uma lufada de ar - O que ele tem na cabeça?
- Você é linda. - Falo sério e ela solta uma risadinha nasalada. - Sério, Gabi. Por favor, né?
- Aí amiga, não sei o que pensar.
- Quer que eu fale com ele?
- Não. Claro que não. Não vou te colocar em mais um problema.
- Na verdade seria ótimo ter uma distração, e mais um homem em casa. - Rimos.
- Você viaja.
- Quer? - Pergunto novamente. Faria isso com todo o meu coração, com a aprovação dela.
- Não acho que é assim que devo resolver as coisas. Somos adultos, né? Céus, estou me achando uma menininha assustada.
- Ela entrou em contato com você novamente?
- Não. Sumiu. Só o Eduardo que me liga incansavelmente. Mandou bilhetes, ligou no meu trabalho e já tentou se aproximar. Eu disse que chamaria a polícia e como um bom advogado ele nunca mais tentou proximidade.
- Uma bela novela mexicana, não?
- É...Acho que sim. Amiga, preciso terminar de resolver as coisas aqui se não eu vou m***r o estagiário. Posso passar aí hoje? Não quero ficar sozinha e nem deixar vocês sozinhos.
- Claro. Vai ser ótimo, vem sim! Bom trabalho amiga, te amo.
- Te amo!
Desligamos e eu respiro fundo. É tentadora a vontade de ir dar mais uma conferida na janela, porém sigo o conselho do Marco e vou até a cozinha para começar a fazer o jantar. Vou fazer macarrão com molho branco, o preferido da Gabi. Talvez consiga deixá-la um pouco melhor.
Quando estou prestes a terminar o Marco chega, meu coração fica tranquilo. Ele está bem.
Contou o quanto o escritório está bagunçado por conta do novo gerente, disse que Eduardo está cada dia pior.
Os dois trabalham no mesmo escritório, Edu arrumou pra ele quando ele foi cortado do outro emprego. Marco é do financeiro, então são picos de nervoso ou de felicidade. O mercado está complicado.
Conversamos mais um pouco até Pedrinho chegar na cozinha ainda sonolento, olhei o relógio e eram seis horas da tarde.
- Dorminhoco! - Mandei um beijo e ele sorriu.
- Oi tio Marco. - Cumprimentou beijando a ponta do nariz do Marco. Era coisa deles.
- Oi garotão. - O pegou no colo e o sentou em uma das suas pernas. - Tudo bem?
- Tudo, estou com sono ainda. - Deitou no ombro do Marco e fechou os olhos.
- Vamos jantar, tomar um banho e depois eu te coloco pra dormir, combinado?
- Não sou mais um bebe, né tio. - Da risada.
- Lógico que é! Quem disse que não!? - Interfiro na conversa dos dois.
- Mãe, eu fiz cinco anos. - Abriu as mãozinhas para mostrar a idade.
- Mocinho - Tampei a panela e coloquei as mãos na cintura ao encara-lo - Primeiro é mamãe, segundo você sempre será o bebê da mamãe.
Ele joga a cabeça pra trás em uma gargalhada e Marco o acompanha, achando graça.
- Não a irrite. Sabe que esse é o ponto fraco dela. - Meu marido junta-se a ele e eu espremo os olhos ameaçadores em sua direção.
- Tá bom. Desculpa, mamãe.
- Ah, ótimo. Aprendeu a debochar. Quem será que ele puxou, não é Marco? Porque eu não foi.
- Foi o meu pai!? - Os olhos brilham esperançosos. Pedro tinha uma imagem totalmente oposta sobre o pai.
Não sei como ele criou, ou quando. Mas eu ainda não tive forças e nem coragem para tirar esse pensamento dele. O que eu diria a uma criança de cinco anos?
- Ei. Olha. Meu Deus! - Marco faz uma voz de falsa preocupação. Levanta a mão livre em uma garra e imita uma aranha na direção do meu filho. - O garra acordou!!! - Afunda a mão na barriga do Pedrinho fazendo cócegas e arrancando gargalhadas do meu filho.
O Pedro joga os braços no padrasto e o abraça, tentando fugir da garra que eles adoram brincar.
Ele é só uma criança...
Marco o abraça de volta e me encara preocupado. Ele sabe o quanto esse assunto é delicado pra mim. Dou um sorriso triste sem mostrar os dentes e ele faz o mesmo.
Talvez estejamos sendo errados ao evitar esse assunto com o meu filho. Super-protetores, não sei.
Mas não me perdoaria por quebrar o seu pequeno coraçãozinho.
A Gabi chega logo em seguida e a noite é banhada de conversas e risadas, há tempos não me sentia tão bem assim. Tão completa com a minha família.
Evitamos o nome Eduardo e Henry durante todo o jantar e quando o Pedro foi dormir tomamos uma garrafa de vinho, lembrando dos anos que passaram. Estamos envelhecendo. Parece que não somos mais os jovens de três anos atrás, amadurecemos tanto que as vezes me esqueço de como éramos.
Nunca imaginei que a minha amiga espoleta e rainha das festas estaria apaixonada por um homem nerd. Nem que o Marco, rei das piadas e gracinhas seria um ótimo marido e padrasto para o meu filho.
Os dois vão até a cozinha pegar outra garrafa para continuarmos à noite. Sexta feira estava liberado.
O celular no sofá vibra ao meu lado, e pego para ver quem é. O papel de parede é nós três, porém não é o meu celular, peguei do Marco por engano.
Minha boca seca ao ler a mensagem que está escrita. Inspiro lentamente com as mãos trêmulas e releio.
Fico tão nervosa e ansiosa que a minha garganta fecha. Não quero me mover e por uns segundos a minha audição fica h******l. Sinto o sangue subir para a cabeça e ela esquentar.
Isso não poder ser verdade. Então porque essa ânsia de vômito insiste? Porque o meu estômago está doendo e estou desesperadamente aflita?
Releio pela milésima vez, esperando que aquela mensagem suma dali. Que nunca tenha existido é que seja apenas os homens do futebol e eu tenha lido errado.
Isabel Goméz:
Amei te ver hoje! Podemos marcar mais vezes, não é?
Não pode ser. O Marco está me traindo?