Parei os meus passos e Marco fez o mesmo. Graças a Deus.
A mão que segurava a arma estava trêmula, assim como o Henry. A segurança do Marco me deixava extremamente preocupada, quero tirá-lo dali.
Meu marido estica o braço pra mim e abre as mãos, pedindo para que eu ficasse onde estou. Não posso deixá-lo, morreria se algo acontecesse a ele.
- Você - Henry acusa o Marco - Você roubou a minha família e agora age como se fosse o pai dele. - Trinca os dentes e salivas escapam, ele está espumando de ódio.
Olho pra trás me certificando de que Pedro não está no meu campo de visão é muito menos do Henry, meu coração suspira aliviado por não vê-lo. Algumas pessoas começam a reparar no que está acontecendo e em questão de segundos todos estão horrorizados, outros saem correndo. O murmurinho começa.
- Você que criou isso! - Marco fala calmamente, olhando diversas vezes de canto pra mim. Ele está visivelmente preocupado com a minha segurança.
Meu sangue corre rápido em minhas veias, preciso pensar em alguma coisa, porém o Marco levar um tiro invade a minha mente e me apavora.
- Henry. - Chamo a atenção dele pra mim. Os olhos azuis estão arregalados e raivosos, nos cantos as lágrimas de ódio escorrem. - Não faça isso. Você não quer ser o cara r**m, tudo bem? Você não é esse cara.
- Sua v***a! - Gritou. Estremeci e dei um passo pra trás. Céus, ele está incontrolável.
- Amélia, sai daqui. - Marco sussurra preocupado - Pelo amor de Deus, sai daqui.
- Não vou deixar você sozinha com ele! - Um nó gigantesco forma na minha garganta. - Não posso. - Movo os lábios sem força.
- Cadê o meu filho? - Ouvir isso faz com que todo o meu corpo se arrepie.
Não.
O Pedro não.
- Não ouse! - Fecho as mãos irritada - Não ouse, Henry!
- Eu perguntei do meu filho! - Engatilha a arma na minha direção, segurando-a com as duas mãos. Porém ainda tremia muito.
O barulho de sirenes faz com que ele guarde a arma por baixo da blusa de frio preta e corra. Marco menciona ir atrás dele e eu seguro seu braço com força
-Não! - Ordeno. - Você não vai atrás dele! Ele tem uma arma, Marco! - As lágrimas escorrem pelo meu rosto vermelho de preocupação.
- Ele está ameaçando a nossa família! Olha isso - Apontou pra trás.
Só então vi o Pedro se debatendo nos braços da Gabriela enquanto ela levava ele pra longe. Meus pais chorando e os pais dos amiguinhos do meu filho horrorizados.
- Isso é só o começo, Amélia. Ele está doente. - Alerta nervoso.
Mordo a bochecha apreensiva.
Eu sei que Henry não iria parar tão cedo, não depois desse show de horrores.
- Vai com os meus pais pra casa, eu vou ligar para o Augusto...
- O que? - Interrompeu desentendido - Ligar para o pai do cara que te apontou uma arma?
- Marco! Por favor, faça o que estou pedindo! Cuida do Pedrinho, por favor. Ele é o único que pode parar o Henry.
- Mamãe! - Pedro grita desesperado.
Corro até o meu filho e abro os braços quando ele vem na minha direção. Seu choro é alto, me sinto h******l por ter deixado ele passar por essa situação. Quero tirá-lo daqui o mais rápido possível, desejo apagar o meu passado e do pai dele, e ser apenas nós dois.
- Oi garotão. - Marco abaixa na nossa altura e afaga as costas dele.
Ou talvez, nós três.
***
Entro em casa após uma séria conversa com o Augusto pelo telefone. Mesmo o conhecendo pouco era notável a sua voz desapontada e desesperada pelo telefone, ele perdeu o controle do próprio filho e com a morte da sua esposa tudo ficava cada vez mais difícil.
Garantiu que seguranças nos acompanhariam por esses dias até que ele encontrasse o filho. Eu sabia que Augusto faria isso o mais rápido possível, a segurança do neto sempre foi a sua maior prioridade.
Marco está sentado no sofá e Pedro adormecido em seu corpo. Cabeça no tórax, pernas encaixadas na cintura do Marco. O meu marido acaricia seus cabelos loiros enquanto observa a televisão, seus olhos ansiosos são transferidos pra mim assim que nota a minha presença.
Ele pede um segundo e levanta com Pedro em seu colo. Me impressionava com a destreza que ele fazia isso. O que me faz lembrar dos primeiros anos do Pedro que ele m*l conseguia segura-lo. Agora dava janta, banho e tudo o que um...um pai faz.
Me jogo exausta no sofá, verifico meu relógio e vejo que já passa das oito da noite.
- E então? - Marco pergunta descendo as escadas.
- Está arrasado. - Respondo soltando uma lufada de ar.
- Ele? - Ironizou.
Sentou ao meu lado e puxou o meu corpo pra ele, deitei em seu peito onde Pedrinho estava há alguns minutos, ainda sinto o seu shampoo de bebe misturado com o perfume do Marco.
- Amor, já pensou em nos mudar? - Perguntou baixinho. O assunto era delicado.
- Sim. Mas meus pais ficariam arrasados, a Gabi, e até o Augusto.
- Eu sei, linda. - Coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e começa a fazer um carinho gostoso na minha cabeça - Estou preocupado, só isso.
Lembro de horas atrás, do terror que o Henry fez eu e a minha família passar. Meu corpo treme ao relembrar o medo de perder o meu filho.
- Cadê os meus pais?
- Foram descansar, sua mãe está muito agitada e seu pai deu um calmante pra ela dormir um pouco.
- Meu Deus. - Suspiro sentindo os meus olhos arderem. - Amanhã vamos na delegacia abrir um boletim de ocorrência, hoje estou sem forças para levantar daqui.
- Relaxa. A Gabi já ligou para o Eduardo. - Avisa e começa a mexer na minha orelha, o sono vem.
- Sério? - Fico surpresa pois a minha melhor amiga não é o tipo de mulher que engole orgulho.
- Sim. Ela faria de tudo por vocês, sabe disso. Nós todos faríamos. - Beija o alto da minha cabeça. Meu coração fica quietinho após escutar as suas palavras.
- Eu te amo tanto, amor. - Fecho os olhos sentindo o meu corpo relaxar pela primeira vez.
- Eu também te amo, linda.
E assim como Pedro, eu me entreguei ao sono profundo no abraço e aconchego do meu marido. Os olhos do Henry raivosos insistiam em me atormentar. Fazendo-me questionar se o perigo já havia passado ou apenas começou.