O passado

1090 Words
Lunna Eu nunca tive medo da morte, aliás ela sempre foi uma companheira Eu tinha seis anos quando eu vi os olhos da morte a primeira vez, minha mãe me acordou de madrugada e me levou para a floresta, a lua estava cheia, as vezes eu ainda tenho a sensação de pavor que eu senti aquela noite. Havia algo ou alguma coisa correndo atrás de nós, minha mãe me escondeu embaixo de uma árvore com galhos baixos e continuou correndo. Foi então que eu a vi, a morte passou por mim, pegou a minha mãe pelos cabelos e cortou sua garganta, indo embora logo depois. Eu fiquei ali, parada não conseguia me mexer, não me lembro quanto tempo eu fiquei ali naquele lugar, olhando para o corpo sem vida da minha mãe, até uma pessoa se aproximou, um ser tão bonito que eu não soube se a luz que estava por detrás dele era sua luz natural como uma estrela ou se era os primeiros raios de sol que passavam por ele. -Oi pequena Foi o que ele disse, a voz não saia da minha garganta e eu comecei a chorar aquele homem gigante me acalentou e me levou para a minha casa, o lugar estava cheio de policiais, e pessoas com roupas iguais as do meu salvador na época eu era muito pequena para saber mas eu era a última sobrevivente da minha família, meu pai era um homem importante no Haiti para ser mais exato era o embaixador e quando os rebeldes assassinaram todo o governo minha família foi marcada pela morte. Pelo menos foi isso o que me disseram, que eu era a única sobrevivente da minha família, cresci com meus avós, mas nunca esqueci aquele homem que me resgatou da floresta, nunca esqueci daqueles olhos e hoje a noite o vi novamente naquele Monstro em forma de homem. Dois homens me sequestraram na porta da faculdade, confesso que estava morrendo de medo, mas tudo passou quando eu vi aqueles olhos. O homem me colocou nesse quarto, e para meu espanto e a cópia do meu, na minha casa, meus livros, discos, cadernos até meus bichos de pelúcia tudo exatamente igual, o que eu não sei se e um alento ou um desespero, moro sozinha a alguns anos depois da morte da minha Avó, não tenho amigos ou vizinhos que poderiam sentir a minha falta, minha vida nada mais são meus estudos e meu trabalho, e nem no trabalho sentiriam a minha falta. Talvez o porteiro do condomínio. Mas dentro de mim algo me consolava, depois que olhei no fundo daqueles olhos eu sabia que tudo ia ficar bem. Monster Eu a coloquei no quarto que eu separei para ela e tranquei a porta atrás de mim, voltei para sala e para minha surpresa Estevan meu irmão caçula me esperava de pé no meio da minha sala suja com móveis caindo aos pedaços Eu olho para ele com cara de o que você está fazendo aqui? Eu não gosto de pessoas muito menos de surpresa na minha casa, não me entendam m*l, não é que eu não goste de pessoas, só às acho inúteis e desnecessárias, isso inclui membros da família, por isso, não quero olhar, tocar, respirar ou interagir com qualquer ser que não seja eu mesmo. -O que você quer? -Perguntei -Isso aqui está um chiqueiro, Eu respiro fundo para não explodir -Tudo bem Estevan, já fiscalizou a sujeira da minha casa, agora vá. -Eu trouxe comida, e como você pediu enchi seu estoque de cerveja e whisky, agora posso mandar alguém para limpar amanhã. Eu coço a cabeça - Se a pessoa não falar ou respirar ou se fazer notar por mim tudo bem. -E como uma pessoa não se faz notar? Pessoas invisíveis não existem. -Isso é uma pena, porque se existissem eu não estaria tendo esse diálogo agora. -Temos que limpar essa casa vai dar rato -Espera eu sair de casa. -Heitor, você não sai de casa, como posso mandar alguém para limpar sem a pessoa correr o risco de você cortar a garganta dela. Eu paro e penso - Esse risco existe -Sim, existe e é bem real -Então deixa do jeito que tá, vá embora, me deixa em paz. -E quem vai cuidar da menina? -Eu cuido. -Eu não pensei que você fosse capaz de trazê - la para cá depois de tantos anos. -Eu não queria - Eu olho para a porta que dá para o corredor onde Lunna estava -Eu sei irmão, mas você não pode mantê-la trancada ali. -Lá dentro ela está segura, Agora vá embora, e venha amanhã com a pessoa da limpeza, e não a deixe sozinha. Eu subo as escadas trancando a porta do quarto, Estevan é o único dos meus homens que tem livre acesso a minha casa, e ele que enche a dispensa e traz a comida, quando eu como. Eu olho para o meu lado direito e sento em minha mesa. Várias cartas dela, da minha Lunna. Era meu quinto ano de cadeia, quando uma das assistentes sociais disse que alguns presos com bom comportamento iria começar a receber cartas de crianças, eu não sei da onde eles tiraram que homens maus poderiam ser reabilitados recebendo cartas de crianças. Eu não tinha esperança alguma de ser selecionado para esse projeto, então as cartas começaram a chegar. Nos primeiros meses eu não as lia, imaginando que a tal menina iria desistir, depois que eu li a primeira carta, não quis responder, o que um ser torto e perturbado como eu teria para dizer para uma criança de 10 anos? Ela me contava do seu dia, da sua escola, de como ela preferia ler livros a ter amigos, dos seus sonhos, e de como ela sentia a falta de seus pais. Ela me contava tudo, os prêmios de soletrar e de redação e de como ela não se sentia mais sozinha só de saber que eu lia duas cartas mesmo não respondendo. Aquela menina virou a minha luz, minha pequena miss Sunshine, o meu raio de sol. Eu nunca respondi suas cartas, até o meu último ano na cadeia, agradeci pela sua dedicação e por ter me ajudado a suportar os piores anos da minha vida foram dez anos de correspondência unilateral para ela, e para mim era a única coisa que me fazia levantar da cama todos os dias. Quando eu saí da cadeia, pensei em ir atrás dela e fui, mas não pude me intrometer em sua vida… Não até agora.
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