Demônios

1034 Words
Monster Quando eu cheguei nesse lugar era tudo mato, literalmente mato, eu fiz a minha casa no ponto mais alto do lugar, no meio da floresta pra ficar o mais longe possível do povo, mas não adiantou, por mais que eu odeie as pessoas, todo mundo merece um pedaço de chão pra morar e uma sopa quente no estômago a noite, aqui na minha comunidade ninguém passa fome, neguim não passa necessidade, a mãe pode ir trabalhar tranquila porque tem lugar onde deixar suas crias. Enquanto eu viver elas terão um lugar bom e seguro para morar. Diferente dos outros lugares, aqui todo mundo tem como obrigação de ajudar quando alguém precisa, não tem essa de viver de auxílio do governo, a não ser os aposentados ou pessoas que não podem trabalhar, tipo deficiente, mas perdeu o emprego, se está precisando a gente ajuda, toda comunidade ajuda, mas assim que você tiver um emprego saiba que vai ajudar o outro. Aqui não tem lixo na rua, nem marido batendo em mulher, nem estupro, nem roubo, aqui vacilou e vala. Simples assim. Nas minhas andanças pelo mundo eu trouxe várias coisas para cá, uma delas são as câmeras, vigiar e o melhor método de manter as pessoas na linha, então nas umas da comunidade tem câmeras de segurança Eu vejo tudo, eu sei de tudo, se vacilou tá na rua. Pode ser exagero? Pode, mas aqui não tem erro, a bala aqui não é perdida, ela era achada, vagabundo aqui não cresce, comédia aqui não se cria. Estevan meu irmão, tem uma equipe de 5 pessoas que controlam as câmeras, aliás falando desse filodaputa me fez sair de casa para poder limpar tudo, deixei claro que ninguém chegava perto do ligar onde Lunna estava A lua sempre foi algo que me acalmou, e algo que me hipnotiza, acalma meus maiores temores, e meu pequeno anjo era tão fascinante como a lua que brilha lá no céu. E lógico que eu fui para o meu lugar secreto e levei o computador para ficar olhando para ela pela câmera, ela é linda, perfeita e doce. Ficou lendo e dormindo a maior parte do tempo, eu imaginei que nos primeiros dias ela estaria gritando por socorro ou se desesperando, mas não é como se ela não tivesse sido sequestrada e estava em meu poder. Eu sigo Lunna desde que sai da cadeia, mas porque eu tenho motivos sérios para pensar que a vida dela corre risco. Ela sempre foi uma pessoa depressiva, alguém que tinha algumas análises sobre a vida bem diferentes do usual, a depressão não era uma amiga na vida ausente na vida da minha pequena lua, não era difícil de saber que ela se marcava, mas ela tentou se matar tomando seis cartelas de remédio e colocando nas redes sociais. Eu dei um jeito da polícia ir no apartamento dela e eles a retiraram de lá quase sem vida. Depois desse dia eu coloquei algo na minha cabeça, eu precisava tê-la perto de mim, ficar de olho nela e não deixar que ela cometesse outra loucura. Assim que terminaram a limpeza terminou eu voltei para casa, eram umas quatro da tarde. Graças a Deus a casa estava vazia, sem ninguém e tudo limpo e o mais importante sem impressões digitais. Fui até a geladeira, peguei uma cerveja, coloquei um pouco de comida em uma bandeja e passei por debaixo da porta do quarto dela. Voltei pra sala, abri minha cerveja e liguei o monitor do computador para vê-la. Ela ainda dormia feito um anjo, seus hábitos são parecidos com os meus, ela passava muitas horas por noite assistindo série ou lendo livro e dormia de dia. Estevan entrou na sala e eu fechei o notebook. -O que você quer inferno? -Preciso de dinheiro, a filha da dona Esme tá grávida, e vamos construir um barraco. -Tu não veio aqui para isso né, tenho mais o que fazer. -Como ficar olhando sua pequena e gostosa prisioneira, você já pegou ela trocando de roupa? -Não -Oh se precisar, no puteiro que estamos comandando na VM tem umas putas novas, acho que você poderia ir lá dar uma olhada, quer dizer sem matar ninguém. -Não gosto que me toquem -Lá vamos nós de novo, pra f***r e preciso tocar e pra tocar e preciso contato, até quando você vai ficar nesse eterno luto pela Cíntia? -Sai daqui, me deixa em paz! Meu irmão sai irritado, desde a morte da minha esposa, nada de mulheres, nem mesmo depois da prisão, eu tentei algumas vezes mas não deu certo. Eu liguei o monitor do notebook novamente, Lunna tinha problemas psicológicos graves e eu precisava ajudá-la, mas quem iria me ajudar com meus próprios fantasmas!? Eu não suporto que me toquem, isso e desde criança, nem mesmo com Estevan rolava um abraço entre irmãos, um belo dia ele veio correndo com um artigo em uma revista que falava sobre, afefobia, um transtorno psicológico em que a pessoa tem um medo exagerado de tocar e ser tocado. Eu não sei se é medo, eu vejo como uma barreira, e a única que conseguiu furar-lá foi Cintia, minha falecida esposa. E depois da sua morte, tudo ficou bem pior, eu já vi a maldade humana, já observei o que o ser humano pode fazer com o outro por uma saca de feijão, já vi crianças matando crianças por um copo de água. Muitas vezes na guerra, você só pode olhar, e observar, como esses fotógrafos que vai para a África para tirar fotos de leões em seu habitat natural, eles não podem salvar o bebê gnu quando a leoa ataca, pois é para alimentar seus próprios filhotes. Na guerra e assim, uma mãe mata os filhos das outras para salvar seus próprios e nos não podemos fazer nada com isso. Eu bebo muito, para afogar meus próprios demônios, cada inocente que eu matei, cada inocente que eu vi morrer, cada um que eu não consegui salvar eles gritam, gritam tanto dentro da minha cabeça, tanto que quase me levam a loucura. E bebendo que essas vozes se calam, e continuando bêbado que eu consigo acalmar meus demônios e ter o mínimo de sanidade.
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