O CEO QUE ASSUME

975 Words
Patrick entrou na sala de reuniões com a calma de um homem que já havia tomado sua decisão. A sala ampla, envidraçada, ficava no andar mais alto da empresa. Uma vista privilegiada de Boston se estendia atrás dos membros do conselho, que já ocupavam seus lugares: advogados, acionistas, o diretor financeiro, o de RH, e Louis, que, apesar de mais novo, tinha presença forte e estratégica entre eles. Harry também estava presente, apoiando como m****o consultivo, sempre com sua postura mais informal, mas olhos atentos. — Bom dia a todos — disse Patrick, ajustando os punhos da camisa com tranquilidade. — Agradeço por estarem aqui tão cedo. Prometo ser breve e direto. O silêncio foi absoluto. Quando Patrick assumia aquele tom de voz — firme, porém calmo — era porque algo importante estava por vir. Ele puxou a cadeira na ponta da mesa, sentou-se e, com as mãos entrelaçadas sobre a madeira escura, começou: — Quero comunicar algo de cunho pessoal, que, por ética e respeito a esta empresa, considero necessário compartilhar com vocês. Os olhares se cruzaram. — Eu e a senhorita Lana Alves — minha assistente direta — estamos nos aproximando emocionalmente. E, como sabem, ela é funcionária desta empresa, filha do senhor Francisco, que trabalha aqui há mais de vinte anos, e uma profissional competente, dedicada e correta. Não houve nenhum envolvimento físico ou conduta imprópria no ambiente de trabalho até aqui. Mas para que isso permaneça ético e transparente, eu vim propor meu afastamento da supervisão direta dela. Silêncio. Um dos acionistas, o senhor Grayson, um homem grisalho com sotaque britânico e expressão analítica, recostou-se na cadeira. — Patrick, com todo respeito, você pretende se afastar da presidência? Patrick sacudiu a cabeça. — Não. Apenas da supervisão direta da Lana. Posso delegar essa função a outro diretor enquanto definimos a melhor estrutura. Estou pronto para aceitar qualquer orientação, inclusive restrições. Mas não quero esconder algo que está acontecendo de forma limpa, verdadeira e respeitosa. Louis interveio: — Patrick é o CEO mais eficiente que esta empresa já teve. Com todo o histórico e resultados que trouxe, não há motivo para afastamento. O que temos que fazer aqui é estabelecer uma linha clara: ética e discrição. Se for para punir um líder por estar apaixonado — sendo tudo feito com transparência — então estamos sendo hipócritas. Outros membros do conselho murmuraram em concordância. O diretor de RH, uma mulher chamada Amanda Clark, foi a primeira a verbalizar: — Já vi muitos casos de relacionamentos m*l conduzidos em ambientes corporativos, mas também já vi histórias que se tornaram sólidas. A questão é: ela se sente pressionada? Existe risco de favorecimento? Patrick respondeu sem hesitar: — Não. Lana é a mulher mais íntegra que conheci. E se houver algum problema, ela será a primeira a apontar. Por isso estou propondo a retirada da supervisão direta. Mas... Amanda o interrompeu: — Não precisa. Já que você trouxe isso com honestidade, e sabendo que a senhorita Alves está prestes a iniciar um projeto de auditoria com outro colaborador, Henry Dales, não há conflito imediato. O senhor Grayson assentiu. — Concordo com Amanda. E quero deixar claro: você tem nossa confiança. Só pedimos descrição. E que ela siga o fluxo normal de avaliação como qualquer outro funcionário. Patrick respirou aliviado. — Assim será. Harry, que até então estava calado, deu uma risadinha sarcástica. — Bem... agora só falta você contar isso pra ela. Aposto que a Lana vai ficar pálida. Todos riram levemente, quebrando o clima de tensão. Patrick esboçou um sorriso. — Não estou esperando flores. Mas estou pronto para encarar seja o que for. Lana organizava planilhas na sala ao lado quando Louis entrou, batendo levemente na moldura da porta. — Tem um minuto? — Claro, pode entrar — respondeu ela, empilhando os relatórios. Louis aproximou-se e sentou-se à frente dela. — Só queria te avisar que o Patrick acabou de dar uma das demonstrações mais bonitas de integridade e coragem que eu já vi. Ela franziu o cenho, confusa. — Como assim? — Ele comunicou ao conselho que está apaixonado por você. Que está começando algo com você. E que, por ética, queria se afastar da sua supervisão direta. Mas... o conselho não deixou. Disseram que ele é excelente, e que vocês só precisam manter discrição. Nada de afastamento. Lana ficou imóvel. O ar parecia ter sumido da sala. — Ele... ele fez isso? — Fez. Com todos os riscos. Com todos os olhares. E com o coração na mesa. Isso é raro, Lana. Muito raro. — Louis se levantou, tocando levemente o ombro dela. — E ele não está esperando um “obrigada”, ele está esperando que você confie. E, se for pra viver isso, que viva com a cabeça erguida. Sem medo. Lana ficou ali, sentada, as mãos tremendo. Uma mistura de emoções a dominava: gratidão, admiração, medo... e uma onda de amor que lhe subiu pela garganta, quente e inesperada. --- Na hora do almoço, Patrick a esperava no jardim interno do edifício. Um espaço arborizado entre os prédios da empresa, com bancos de madeira e um pequeno café ao lado. Ela se aproximou em silêncio. Ele se levantou assim que a viu. — Você soube? — Soube — respondeu, olhando nos olhos dele. — E... eu não sei o que dizer. Ninguém nunca fez isso por mim. Nunca. Patrick segurou suas mãos, com delicadeza. — Eu não vou te prometer perfeição, Lana. Mas vou te prometer respeito. Clareza. E verdade. Você aceita viver isso comigo, mesmo com os desafios? Ela assentiu, com os olhos cheios d’água. — Aceito. Patrick a puxou suavemente para um abraço, ali mesmo. Nada indevido. Apenas duas pessoas que decidiram não esconder mais o que sentiam. Enquanto o mundo girava ao redor, eles estavam parados no tempo. Pela primeira vez, juntos — de verdade.
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