Depois de saírem da loja com todas as escolhas organizadas, Lana e a mãe de Patrick seguiram até um restaurante sofisticado no centro de Boston — um dos preferidos da futura sogra, onde ela almoçava com frequência.
Escolheram uma mesa próxima à janela, em um ambiente discreto e elegante. Lana estava com fome, mas também emocionada com tudo o que haviam vivido naquela manhã.
— Você está pálida, minha filha. Come direitinho — disse a mãe de Patrick, servindo um pouco da salada para Lana. — Agora você não come mais por um, e sim por quatro. Isso é uma bênção!
Elas riram juntas até que, de repente, uma voz conhecida ecoou do lado direito do salão.
— Mas não é a senhora Margareth? Sempre elegante.
As duas se viraram. Era a mãe da Brittany, arrumada como sempre, mas com o olhar carregado daquele veneno sutil e velho conhecido.
— Boa tarde — respondeu a senhora Margareth com um sorriso polido, mas firme.
A mulher pousou os olhos em Lana e fingiu um espanto.
— E essa é... a famosa noiva do Patrick? A que conseguiu laçar o solteirão? — disse com um sorriso torto, analisando a barriga de Lana. — Está… rechonchuda, não é? O bebê já está nesse ponto todo ou a gravidez veio só confirmar?
Lana respirou fundo. A expressão dela não mudou. Mas foi Margareth quem respondeu:
— Essa é minha nora, futura filha, mulher de coragem e coração nobre. Está esperando meus netos. Trigêmeos, para sua informação.
— Trigêmeos? — a outra arregalou os olhos. — Que pressa, hein?
— Pressa nenhuma. Destino. Amor. Respeito. Tudo o que você ainda precisa aprender — disse Margareth, olhando-a com firmeza. — E já que tocamos em filhos… você já foi visitar os seus netos?
A mulher hesitou.
— Ainda não tive tempo...
— Pois está perdendo momentos preciosos — interrompeu Lana com serenidade. — Eles são lindos. E a Brittany… sua filha… apesar dos erros, está sendo uma mãe maravilhosa. Eu, sinceramente, quero seguir o exemplo dela. Ela é uma leoa pelos filhos.
— Ah, então ser mãe solteira agora é símbolo de honra? — zombou a mulher.
Lana se manteve firme.
— Que honra a senhora encontra em menosprezar a própria filha? Em humilhar alguém que está se reerguendo? A senhora empurrou a Brittany para o erro, para o abandono. A senhora perdeu o marido, perdeu a moral… e agora, está perdendo também a chance de ser avó. E sabe por quê? Porque a sua soberba não permite que veja além do próprio orgulho.
A mulher bufou, sem ter o que responder. A mãe de Patrick se levantou, puxando suavemente a cadeira de Lana.
— Terminamos por aqui. Com licença, querida.
Pagaram a conta e saíram sem olhar para trás.
Do lado de fora, enquanto caminhavam rumo ao carro, Margareth suspirou, balançando a cabeça.
— Ela não aprende. Não muda.
— Ela é amarga — disse Lana com os olhos voltados para o horizonte. — Uma mulher infeliz sente prazer em diminuir os outros. Quase destruiu a própria filha por arrogância. Sabe, seria tão bom se ela mudasse… se ela descobrisse como é precioso acompanhar o crescimento dos próprios netos. Aposto que seria mais feliz.
Margareth sorriu e apertou o braço da nora com carinho.
— E é por isso que meu filho te ama.
Lana sorriu para a futura sogra enquanto ajeitava a bolsa no ombro.
— Já que o Patrick me dispensou hoje — disse com leveza —, a senhora quer conhecer os filhos da Brittany? Vamos ao hospital?
Margareth arqueou as sobrancelhas, surpresa.
—Você tem certeza?
— Tenho. Eu quero que a senhora veja com os próprios olhos a transformação dela. A Brittany de hoje não é mais aquela moça que se achava superior. Ela não é a cópia da mãe dela… Ela é a verdadeira Brittany. E, honestamente, eu me orgulho do quanto ela está lutando.
Margareth assentiu, tocada pelas palavras.
— Então vamos. Eu ficarei feliz em conhecer os meus futuros afilhados.
— Mas antes… — Lana sorriu, com aquele olhar cúmplice. — Vamos passar na loja de bebês? Quero comprar umas lembrancinhas para levar às crianças da Brittany.
Margareth sorriu como quem recebe um convite para uma missão nobre.
— Excelente ideia. E já vou aproveitar para comprar os primeiros brinquedos educativos dos meus netos.
Lana riu.
— São seus netos mesmo, meus afilhados e do Patrick.
As duas entraram na loja com os olhos brilhando de ternura. Cada cantinho do ambiente despertava emoção. Entre prateleiras de roupas minúsculas e brinquedos macios, Lana tocou um conjunto bege, bordado com as palavras “Eu amo papai e mamãe”.
— A senhora acha que serve para os três?
— Perfeito. Não sabemos ainda se virão duas meninas e um menino, ou o contrário… então tudo neutro, com bom gosto. Nada de exagero.
Margareth pegou três kits completos com body, calça com pezinho, toquinha, luvinhas, meias e uma mantinha, todos combinando.
— Os primeiros presentes dos meus netos. Os primeiros de muitos — disse emocionada.
— Sem bichinhos de pelúcia — Lana reforçou. — Patrick me pediu para ter cuidado com isso. Pode acumular pó, causar alergias...
Margareth balançou a cabeça, concordando.
— Concordo. Tudo aqui precisa ser antialérgico, seguro, prático. Nada de “coisas lindas, mas inúteis”. Quero que esses pequenos saibam desde cedo que foram esperados com amor e responsabilidade.
Elas riram, e a gerente, que as atendia encantada, comentou:
— Sabe… é raro ver futuras avós e noras com essa harmonia. É tão bonito. Dá gosto de atender.
Lana segurou a mão da sogra e sorriu com ternura.
— Quando o elo é o amor… o resto se ajeita.
Depois de concluírem as compras, com sacolas nas mãos e o coração leve, elas seguiram para o hospital, onde novos sentimentos as esperavam — não só pelos bebês, mas pelo reencontro com uma Brittany que renascia a cada dia.
Quando Lana e sua futura sogra chegaram ao hospital, foram recebidas pela enfermeira da ala neonatal, que explicou com delicadeza:
— A Britney está agora na UTI neonatal, alimentando os bebês. Se desejarem, podem observar da sala de espera externa. Assim que ela estiver disponível, avisaremos.
As duas a sentiram e caminharam até a grande parede de vidro que separava a UTI neonatal do corredor. Lá dentro, a cena tocou seus corações.
Britney estava sentada em uma poltrona acolchoada, usando touca e máscara cirúrgica. Com a calma de uma mãe zelosa, alimentava um dos recém-nascidos com uma pequena colher esterilizada, com movimentos suaves, olhos atentos a cada reação do bebê. Em seguida, embalou a criança com cuidado e a posicionou em seu ombro, acariciando levemente as costas enquanto esperava o pequeno arrotar. Depois o colocou no berço-térmico e repetiu o processo com o segundo bebê, com o mesmo zelo e ternura.
Lana sorriu comovida, segurando no braço da sogra, que permanecia em silêncio, visivelmente emocionada. Quando Britney levantou o rosto e as viu do outro lado do vidro, seus olhos brilharam. Ela sorriu por trás da máscara e fez sinal com a mão para que entrassem.
As duas foram orientadas a vestir o uniforme esterilizado: aventais, luvas, toucas e máscaras. Após os procedimentos de higienização, entraram com cuidado, respeitando o ambiente sensível dos bebês.
A sogra de Lana foi a primeira a se aproximar.
— Britney... — murmurou, emocionada. — Você está de parabéns, minha filha. Estou encantada com o cuidado, o amor... é lindo ver isso.
Britney sorriu, ainda com um bebê nos braços.
— Eles são a minha vida agora. Tudo o que fiz, tudo o que aprendi... foi por eles.
Lana se aproximou e, com carinho, disse:
— Ah, falando nisso... o Patrick pediu para eu conversar com você. Nós pensamos que, já que você vai ficar aqui por mais um tempo no hospital, talvez gostasse de se ocupar com algo especial. Que tal fazer o projeto da decoração do quartinho dos nossos bebês?
Os olhos de Britney brilharam. Ela ajeitou a mantinha sobre o pequeno corpo adormecido e respondeu com entusiasmo contido:
— Eu aceito. Eu vou pedir pro meu pai trazer o meu computador e pedir pra ele instalar os programas. Quero algo especial pra eles. E... também quero dizer que vou cuidar dos meus filhos até os seis meses. Depois disso, eu volto a trabalhar, mas vai ser em casa, em home office. E mesmo assim, só vou deixá-los com babá se eu precisar sair. Eles vão crescer com a mãe por perto.
A sogra assentiu, emocionada.
— Parabéns, minha filha. Você mudou, e mudou pra melhor.
Britney sorriu com serenidade.
— Tinha que ser. A vida ensina. Quando a gente cai, tem duas escolhas: continuar no chão ou levantar e se tornar alguém melhor. Eu escolhi levantar.
Aquela tarde, entre incubadoras e laços silenciosos, selou o início de uma nova fase — não só para Britney, mas para todas elas. Três mulheres, três histórias diferentes, entrelaçadas por algo maior: o amor incondicional por suas famílias.
Enquanto acariciava os pezinhos dos bebês ainda adormecidos, Britney ouviu a futura sogra de Lana se aproximar mais uma vez, agora com um sorriso cheio de propósito.
— Já que você vai começar a trabalhar novamente depois que terminar o projeto do quarto dos meus netos... — começou com voz doce, mas determinada — quero que você reserve um espaço na sua agenda para mim. Tenho algumas áreas na minha casa que quero reformar. Um novo jardim de inverno, talvez um escritório mais elegante... E não quero outra pessoa cuidando disso. Quero você.
Britney, surpresa, ergueu os olhos.
— Sério?
— Absolutamente. — ela assentiu. — Eu conheço o seu talento. Seu bom gosto, seu olhar atento aos detalhes. Sei que você é criteriosa, responsável, e, acima de tudo, dedicada. Você não tem ideia de como isso conta. Já vou avisar as minhas amigas. Quando souberem que você está voltando ao mercado, vão querer disputar sua agenda. E a concorrência? Não vai te bater. Você vai ser um sucesso, minha filha.
Com os olhos marejados e o coração aquecido por aquele incentivo inesperado, Britney sorriu.
— Obrigada. Eu... eu agradeço muito. Agora eu tenho dois filhos para criar. E mesmo que meu pai tenha dinheiro, eu sei que a responsabilidade é minha. Eu quero criar os meus filhos com o meu esforço. Quero ser o exemplo deles.
A sogra assentiu com ternura, segurando em seu ombro.
— Isso é louvável, minha filha. E é exatamente isso que te torna tão especial. Parabéns.
Aquela troca selava mais do que um apoio profissional: era o início de uma nova aliança entre mulheres que escolheram se apoiar, ao invés de se julgar. Um novo capítulo, onde as dores do passado davam lugar à reconstrução, à confiança, e à certeza de que o amor — por filhos, por si mesmas, e pela vida — pode mesmo transformar tudo.