Patrick entrou no ambiente reservado do refeitório da empresa, onde normalmente só os diretores e alguns funcionários-chave tinham acesso. Era um espaço moderno, discreto, com janelas amplas e som ambiente suave. Mas nada daquilo prendia sua atenção.
Nada, exceto Lana.
Ela estava sentada à mesa central, ao lado de Shirley e mais duas secretárias. Ria de algo que a colega dizia, enquanto partia seu frango grelhado com a delicadeza de quem não fazia ideia do efeito que causava. Patrick parou por um instante na entrada, como se tivesse esquecido a razão de estar ali.
— Terra chamando o CEO, — murmurou Louis, ao seu lado, com um sorriso debochado. — Vai comer ou vai só babar?
Harry bufou rindo, já puxando Patrick pelo braço.
— Bora, Romeu. Vamos sentar. Pelo menos disfarça.
Sentaram-se todos próximos, mas não na mesma mesa que Lana. Era política da empresa manter a distância hierárquica nos horários de refeição. Patrick fingia interesse no prato à frente, mas seus olhos voltavam sempre para ela — o jeito que Lana gesticulava levemente com as mãos, o modo como ela mastigava com educação, o sorriso de canto, os olhos brilhando quando contava alguma história.
— Olha isso, — sussurrou Louis, cutucando Harry. — O cara tá se apaixonando pelo jeito que ela mastiga arroz.
— Se ela espirrar ele chora, — devolveu Harry, rindo com a mão cobrindo a boca.
Patrick fingiu ignorar, mas apertou os talheres com mais força.
— Eu não sei o que eu faço com vocês dois — disse, baixo, sem tirar os olhos dela.
— Aguenta firme — cochichou Louis. — Mas só te aviso: tem reunião daqui a pouco. Se não conseguir levantar da cadeira, já sabemos o motivo.
— Vai usar o paletó de novo como escudo? — completou Harry.
Patrick soltou um meio sorriso, com os olhos ainda fixos nela.
“Se soubessem o que passa aqui dentro...”
Lana, sem perceber os olhares, se despediu das colegas com educação e caminhou de volta para sua sala. Patrick acompanhou com os olhos cada passo, cada movimento suave de quadris, cada gesto simples que, nele, causava um turbilhão.
Harry e Louis trocaram olhares cúmplices. A missão estava sendo cumprida com sucesso: Patrick estava completamente dominado.
E a tarde ainda estava só começando.
Lana já estava sentada na ponta da mesa, organizando os últimos gráficos no notebook, pronta para compartilhar o relatório de pré-auditoria. Vestia o conjunto masala impecável, com a blusa branca delicadamente enlaçada ao pescoço com o lenço de seda no mesmo tom. A maquiagem leve deixava seu rosto ainda mais angelical — mas o corpo… Ah, aquele corpo...
Patrick entrou na sala como se estivesse indo para o matadouro. E de certa forma, estava mesmo.
— Tudo pronto, senhorita Ferreira? — perguntou, com a voz mais firme que conseguiu reunir.
Ela assentiu com um sorriso discreto, mas educado.
— Sim, senhor. Os gráficos estão no ponto e eu organizei as anotações do doutor Louis também.
Ele nem respondeu. Apenas se sentou. Não podia levantar. De novo.
Harry e Louis trocaram aquele olhar malicioso. Sentaram-se também, contendo os sorrisos.
— Senhoras e senhores — começou Lana, conectando o notebook ao projetor —, como alinhado ontem, a auditoria começará na próxima segunda-feira. Teremos duas semanas intensas, então organizamos um cronograma para as áreas que serão priorizadas…
Enquanto ela falava, Patrick observava. Maldita voz doce. Maldito coque firme. Maldito lenço no pescoço. Ela não sabe o que faz.
Ou será que sabia?
Ele fixava os olhos no decote discreto, mas visível. Quando ela se abaixava para mudar o slide, o perfume suave preenchia o ar. O movimento da respiração fazia os s***s subirem e descerem suavemente. E aquele maldito lenço parecia um laço esperando para ser puxado.
Imagens perigosas.
Pensamentos piores ainda.
— Senhor Patrick? — a voz dela o trouxe de volta.
— Hã… sim?
— Gostaria que eu projetasse a planilha de riscos financeiros agora?
Ele suspirou fundo — não, sem pigarrear, Patrick! — e apenas acenou positivamente com a cabeça. Permaneceu sentado. Harry e Louis, que já estavam preparados para o show, cruzaram os braços, tentando esconder os risos.
— Eu não acredito nisso — murmurou Harry, quase imperceptível. — O cara tá mesmo duro de novo.
— Aposto que não levanta nem com uma empilhadeira — respondeu Louis, fingindo escrever no tablet.
— Vocês dois vão me pagar — rosnou Patrick, entre os dentes, sem olhar para eles. — Se soubessem a dor que eu tô sentindo aqui…
— Tá difícil? — provocou Harry, sorrindo.
— Não, está impossível — respondeu Patrick, mantendo os olhos no gráfico só pra disfarçar. — Mas se um dia vocês passarem por isso, eu vou cobrar cada segundo. Vai ter troco.
A apresentação seguiu, mas a mente dele estava longe. Cada vez mais perto do limite.
E eles sabiam disso.
Lana finalizou a apresentação com a serenidade de uma executiva experiente, mesmo que estivesse no cargo há apenas alguns dias. Patrick se perguntava como era possível aquela mulher ter um domínio tão natural, tão elegante, sem nem perceber o que causava nele.
— Com licença, senhores — disse ela, com um sorriso breve. — Estarei na minha mesa finalizando o relatório e atualizando o cronograma. Se precisarem de mim, estarei disponível.
E saiu. Passos firmes. Quadril marcando o ritmo. O blazer masala justo realçava ainda mais sua silhueta. E então…
— Meu Deus — sussurrou Patrick, ainda sentado, a mão tapando discretamente a boca. — Eu tô ferrado.
Louis escorou na cadeira, cruzando os braços com gosto.
— E ela nem se esforça, irmão. Isso é o mais bonito de ver.
Harry assentiu com ar de provocação.
— Vai resistir até quando, senhor CEO de aço? Quer que a gente ligue pro Guinness? Pode ser recorde mundial.
Patrick resmungou algo incompreensível e passou a mão no rosto.
— Eu tô tentando trabalhar. Tentando manter o foco. Mas como eu vou conseguir manter a compostura com ela do lado? Aquela boca... aquela postura... o cheiro dela!
Louis fingiu anotar algo no celular.
— Vou começar a contar os dias. A minha aposta foi há duas semanas, lembra?
— A minha foi um mês — disse Harry. — Mas do jeito que tá indo, não passa do próximo happy hour.
Patrick fez menção de levantar, mas se acomodou de novo com um suspiro abafado.
— Se eu levantar agora, minha reputação afunda junto. Vocês não têm ideia do que está acontecendo comigo. Eu sempre fui centrado, discreto, profissionalmente. E agora tô parecendo um adolescente no primeiro estágio hormonal.
Louis caiu na risada.
— Bem-vindo ao clube dos que se apaixonam sem saber. E ainda por cima, pela filha do porteiro. Que ironia deliciosa, não?
Patrick lançou um olhar mortal.
— Cuidado com o que vocês dizem. Ela é uma profissional excepcional. Merece respeito.
— A gente respeita — disse Harry. — Mas isso não muda o fato de que você tá completamente fora de si por causa dela. Tá nos olhos. Tá no jeito que você fala com ela. Tá na forma como você desvia o olhar e finge que não está olhando. Mas tá.
Patrick balançou a cabeça e finalmente se levantou, ajustando o paletó com um leve desconforto disfarçado.
— Preciso respirar. Me dar cinco minutos antes da próxima reunião. E lembrem-se: se vocês me fizerem perder essa aposta, eu vou me vingar. Com gosto.
— E se você perder sozinho? — rebateu Louis, sorrindo.
Patrick saiu da sala sem responder. Mas o rubor em seu rosto dizia tudo.