Após finalizarem as compras do enxoval na loja, Patrick se dirigiu ao balcão de entrega e passou o endereço do apartamento onde ele e Lana moravam. Tinham adquirido muitos itens, uma compra robusta, quase trinta mil dólares em produtos de bebê. Era impossível carregar tudo no carro. Ele foi claro:
— Por favor, envie tudo para esse endereço. Queremos que esteja lá ainda hoje, se possível — disse com firmeza educada à responsável pela logística.
Lisbeth, que acompanhava tudo com profissionalismo e humildade, não conseguia disfarçar o alívio silencioso que sentia. Não era dito em voz alta, mas seu pensamento corria: “Esse mês vai ser menos apertado...”.
Ela sabia que, apesar da boa comissão dessa venda, teria que dividir com a funcionária do caixa e com o pessoal do estoque, como a loja determinava. Ainda assim, depois de meses em que as contas apertavam cada centavo, aquela venda representava um respiro. Ela não tinha luxo — nem ambições maiores no momento — além de manter a guarda da irmã e quitar as dívidas do hospital da mãe.
Patrick observou Lisbeth de canto de olho. Havia algo nela que despertava um sentimento protetor. Ela era jovem, mas com um semblante cansado, típico de quem carrega o mundo nas costas e não reclama. Ele virou-se para ela:
— Agora vamos ao supermercado. Queremos ajudá-la um pouco mais. Depois disso, vamos deixá-la em casa, tudo bem?
Lisbeth ficou surpresa por um instante, mas sorriu, discreta.
— Claro, senhor Patrick. Não precisam... mas agradeço muito.
— Fazemos questão — respondeu Lana com firmeza gentil. — Você nos atendeu com tanta dedicação, agora é nossa vez de cuidar um pouco.
O supermercado era amplo, e Patrick não poupou esforços. Escolheu alimentos saudáveis, itens de café da manhã, guloseimas infantis e até algumas comidas congeladas para facilitar os dias corridos de Lisbeth. Lana também ajudava, separando produtos de higiene, frutas, iogurtes e até biscoitos de chocolate que imaginava que uma criança gostaria.
Lisbeth não sabia onde enfiar a gratidão. Ajudava na organização do carrinho, mas estava visivelmente comovida. Ao passarem no caixa, Patrick pagou tudo sem pestanejar.
— Vamos levá-la até em casa — disse ele enquanto organizavam as sacolas no carro.
Ela hesitou:
— Eu moro um pouco longe...
— Não tem problema. Queremos conhecer sua realidade, e hoje vamos encurtar seu caminho.
O trajeto demorou. Conforme saíam das regiões mais centrais de Boston e adentravam os bairros mais simples, Patrick e Lana percebiam que ela de fato faria um esforço diário para trabalhar naquela loja. Dois ônibus, ao menos, e caminhadas consideráveis.
Chegaram a um conjunto de apartamentos de classe média baixa. Eram prédios simples, de construção antiga, mas bem-cuidados. Pequenos jardins na frente, algumas bicicletas infantis encostadas nas paredes e janelas com cortinas coloridas. Era uma área digna, embora humilde.
Lisbeth desceu com eles e caminhou até uma das portas no térreo. Bateu com suavidade. Uma mulher de cerca de quarenta anos abriu com um sorriso.
— Já chegou, Lisbeth! Que cedo hoje!
— É um casal gentil me trouxe. Eles quiseram me conhecer melhor — explicou, com um gesto educado para Patrick e Lana.
A mulher sorriu para os dois e, atrás dela, surgiu uma garotinha de cabelos castanhos cacheados e olhos vivos — muito parecida com Lisbeth.
— Bela! Vamos, querida. A irmã chegou — chamou Lisbeth.
— Já jantei, Beth! A tia me deu jantar!
— Que bom, minha flor. Então é só preparar um lanche para mim e posso descansar mais cedo.
Ela agradeceu à vizinha, com um abraço apertado, e em seguida pegou as sacolas. Patrick e Lana ajudaram com tudo. Subiram juntos ao apartamento da jovem.
Ao entrarem, foram recebidos por um ambiente modesto, porém limpo e organizado. O sofá era simples, o chão encerado e brilhante. Havia brinquedos cuidadosamente guardados num canto da sala. Uma pequena estante com livros escolares e cadernos arrumados. A geladeira era antiga, mas bem cuidada.
Patrick olhou em volta com atenção. Lana sorriu com carinho.
Ali moravam duas sobreviventes. E ali também nascia algo novo: respeito, gratidão e, quem sabe, um novo futuro.
Assim que a porta foi aberta, um ambiente humilde, mas limpo e organizado os recebeu. As paredes estavam pintadas de branco, havia um sofá simples com uma manta dobrada sobre ele, prateleiras com livros, e brinquedos cuidadosamente guardados em caixas plásticas. O chão brilhava. Tudo era muito simples, mas cada detalhe transbordava cuidado.
— Nossa — disse Bela, olhando para as sacolas nas mãos de Patrick e Lana — quanta coisa!
— Foi o Sr. Patrick e a esposa dele que compraram para você — explicou Lizbeth, apontando para o casal.
Ela então tirou da sacola um pequeno pacote com um laço.
— Eles compraram até um presente só pra você. Olha aqui!
Bela pegou o pacote, desembrulhou com pressa e arregalou os olhos.
— Chocolate! — gritou, animada. — Mas...
— Vai guardar para amanhã. — Lizbeth já completava com um sorriso. — Você pode levar no lanche da escola. Eu vou preparar seus sanduíches, e você leva o chocolate como sobremesa. Apenas um, tá?
— Tá bom — disse ela, assentindo animadamente. — Como é que se diz, irmãzinha?
Bela virou-se para os dois visitantes, ajeitando os cachinhos e sorrindo.
— Muito obrigada! O senhor é muito lindo, viu?
— Ops! — completou, tapando a boca com a mão. — Desculpa! Não fica com ciúme, não, dona Lana. Tia Lana. Mas ele é lindo mesmo!
Patrick riu alto, surpreso com a espontaneidade da pequena.
— Eu não tenho ciúme — disse Lana, com delicadeza. — O Patrick realmente é lindo. E você também é, viu? Uma menina adorável.
— Você está esperando bebê? — perguntou ela, se aproximando de Lana.
— Estou sim. Três, na verdade.
— Três?! — exclamou Bela, arregalando os olhos. — Bete! Três bebês!
— É, minha pequena. E quem ganhou foi você — respondeu Lizbeth, sorrindo. — Ela quis muito vir conhecer você.
— Obrigada! Moço bonito, você é bonito, mas a sua esposa, com essa barriga, está mais linda ainda!
Todos riram juntos. Bela então olhou para Lana, séria de repente.
— Eu posso beijar sua barriga?
Lana se surpreendeu por um segundo, mas logo assentiu.
— Claro, meu amor. Pode sim.
A menina se aproximou e, com delicadeza, encostou os lábios na barriga de Lana. No mesmo instante, os bebês mexeram.
— Eles gostaram! — Lana disse, rindo com emoção.
— Eu gostaria de ter irmãozinhos... Mas eu só tenho a minha Lis. Ainda bem que a mamãe deixou a Lis pra cuidar de mim. Vocês sabiam que a assistente social quer me tirar da Lis? Mas elas não vão conseguir! Porque a minha irmã é a minha heroína!
Patrick se emocionou com a força daquelas palavras ditas com tanta doçura. Olhou para Lizbeth e, com firmeza no olhar, disse:
— Sim. Ela é sim.
Ele se aproximou, tirou o cartão do bolso e o entregou à jovem.
— Aqui está meu cartão. A partir de agora, todas as compras que fizermos na loja, serão com você. E qualquer coisa... qualquer coisa mesmo que você precisar, entre em contato conosco.
— Obrigada, Sr. Patrick. Obrigada, Lana.
— Você ainda não me deu seu número — ele disse. — Me passe, por favor.
Ela ditou, com voz calma, o número do celular e o telefone do apartamento. Ele digitou no celular e confirmou.
Bela, então, se aproximou com os olhinhos brilhando.
— Eu posso dar um beijo em você, príncipe?
Patrick se abaixou e abriu os braços.
— Claro que pode, princesa.
Ela o beijou na bochecha, depois correu até Lana.
— E em você, princesa?
— Claro, meu amor.
Ela beijou o rosto de Lana e depois voltou à barriga.
— E nos bebês também! Oi, bebês! Eu sou a Bela. Eu espero conhecer vocês um dia, tá? Beijo!
E mais uma vez, os três mexeram em uníssono.