Verdades e desculpas

1084 Words
O refeitório estava mais tranquilo quando Lana voltou para terminar seu almoço. Ellen e Shirley logo vieram sentar-se ao lado dela, trazendo suas bandejas. — Lana, querida… — começou Shirley, lançando um olhar compreensivo. — Não fique chateada com o que aconteceu mais cedo. Ellen completou: — É verdade. Aquela noiva do Patrick, sinceramente… ela vive para diminuir os outros. Faz isso com a gente também, não é de hoje. Você não deve se abalar por causa dela. Lana respirou fundo e deu um pequeno sorriso. — Eu não me incomodo com isso, não. Sei muito bem quem eu sou e a educação que recebi. Só não gosto de ser o centro das atenções. Foi isso que me incomodou. Ela fez questão de me chamar de “barril de banha” bem alto… aquilo poderia gerar um processo. Mas não vou fazer isso em consideração ao Sr. Patrick, que teve a dignidade e a postura de me defender. Shirley assentiu, com um sorriso de aprovação. — O Patrick é um homem íntegro. Ele jamais permitiria aquilo. E, sinceramente, tenho certeza de que aquela provocação toda partiu da Cindy. Ellen concordou: — Sim. Os rapazes, apesar de serem homens feitos — mais de trinta anos — às vezes agem como adolescentes. São bons rapazes, bons patrões, mas gostam de tirar brincadeira. E tenho certeza de que hoje fizeram aquilo só pra provocar a Cindy. Eles não a suportam. Lana soltou um leve suspiro. — Eu percebi. Mas, sinceramente? Não dou importância. Meu pai já tinha me falado como eles são. Já sabia que era para tomar cuidado. Ela olhou para as duas, com um brilho firme nos olhos: — Agora que eles olharam para mim, sei que vão querer investir. Mas não há chance alguma. Não tenho o menor interesse. Ellen sorriu com admiração. — Você é uma moça linda, Lana. Linda em todos os sentidos. Isso a Cindy nunca será, por mais luxo, maquiagem e dinheiro que ela use. Ela jamais terá sua beleza física, muito menos a sua beleza moral. Shirley completou: — É isso mesmo. Continue assim, de cabeça erguida. Você tem um brilho que ninguém consegue apagar. Lana agradeceu com um sorriso sincero. — Obrigada, meninas. Podem ficar tranquilas. Eu sei me portar. E não vou me deixar atingir por gente pequena. E assim, entre confidências e conselhos, Lana voltava ao seu equilíbrio — ainda sem saber que seu nome e sua imagem já haviam mexido mais fundo do que imaginava… e não apenas na mente dos colegas, mas em um certo coração que a cada minuto se inquietava mais. Após a conversa no escritório de Patrick e o acerto de consciência, Harry e Louis continuavam inquietos. Algo lhes dizia que um simples pedido de desculpas verbal não bastava. Na sala de Louis, ambos conversavam: — Harry… a gente precisa fazer algo mais. Não podemos deixar assim. — disse Louis. Harry concordou. — Estava pensando exatamente nisso. Mas tem que ser algo elegante. Nada que soe como… tentativa de conquista. Tem que ser um pedido de desculpas sincero. Foi então que Louis teve a ideia: — Orquídeas. Harry franziu o cenho, curioso. — Orquídeas? Louis sorriu. — Sim. Uma planta, não um buquê. Orquídeas são delicadas, lindas… e resistentes. Como ela. Vai simbolizar o respeito que temos por ela. Harry sorriu, agora animado. — Perfeito. E uma caixa de chocolates suíços, para acompanhar. Mas cada um de nós manda uma orquídea. E cada um manda uma caixa de chocolate, para deixar claro que é um pedido individual, não combinado. Decidiram então chamar a Shirley. Momentos depois, ela entrou na sala. — Pois não, senhores? Louis explicou: — Shirley, queremos que você providencie duas plantas de orquídeas, bem bonitas. E duas caixas de chocolates suíços. Uma de cada um. Queremos que sejam entregues para a senhorita Lana hoje mesmo, com um cartão de cada um de nós. Harry completou: — No cartão, vamos explicar que é um pedido de desculpas. Sem segundas intenções. Só respeito. Shirley sorriu. — Achei uma atitude muito bonita da parte de vocês. Vou providenciar tudo. Vocês querem que eu traga os cartões para assinarem? — Por favor. — respondeu Louis. Quando Shirley saiu para fazer as compras, Harry não resistiu e soltou: — Só espero que a Barbie do 7 Além não veja isso. Vai espumar de ódio. Shirley, já à porta, riu. — Barbie do 7 Além… um dia ainda descubro de onde vocês tiraram esse apelido. Louis piscou. — Melhor não saber, Shirley. Melhor não saber. Poucas horas depois, no final do expediente de sexta-feira, Lana estava na sala de Shirley quando um funcionário da recepção apareceu com um sorriso: — Senhorita Lana? Trouxe uma entrega para a senhorita. Ao ver, Lana arregalou os olhos. Eram duas orquídeas lindíssimas, cada uma em um vaso elegante, com laço discreto. E duas sofisticadas caixas de chocolates suíços. Havia também dois cartões, um assinado por Harry e outro por Louis. Ela leu o primeiro: "Senhorita Lana, Orquídeas, assim como você, são lindas, delicadas e resistentes. Que este gesto seja visto como um sincero pedido de desculpas, com todo o respeito e consideração que você merece. Harry." Depois leu o segundo: "Senhorita Lana, Com todo o respeito, venho me desculpar mais uma vez pelo comportamento inadequado. Que estas orquídeas representem nossa admiração por sua postura e sua beleza — física e moral. Louis." Lana soltou um leve riso. — Eles já estão tentando me conquistar… — comentou em voz baixa. Shirley, que estava ao lado, sorriu. — Não é isso, Lana. Eles me disseram claramente que era um pedido de desculpas sincero. E que decidiram enviar as orquídeas justamente porque elas são delicadas e fortes — como você. E… para provocar a Barbie do 7 Além, claro. Não sei bem o que é isso… Lana não conteve a risada. — Ah, Shirley… 7 Além é um canal no YouTube de histórias de terror. Um portal para o desconhecido. Pelo visto, a Barbie ganhou um novo apelido… e bem merecido. Ambas riram juntas. Lana, com um sorriso tranquilo, olhou para as orquídeas. — Bem… pelo menos mostraram que sabem reconhecer um erro. Mas isso não muda nada. Eles continuam no lugar deles, e eu no meu. Shirley assentiu. — Está certíssima. Mas uma coisa eu te digo: você tem muito mais valor do que aquela Barbie jamais terá. E Lana saiu dali com a certeza de que estava no controle. Ela seria amiga se quisesse — e jamais seria manipulada.
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