**Fenrir**
Ninguém poderia retirar o orgulho que brilhava no meu peito ao ver a minha companheira finalmente transformada. Ela era a loba mais incrível que eu já tinha visto. Finalmente, eu sentia o meu peito mais leve por saber que ela tinha passado por aquilo e estava bem; aquilo era tudo de que precisava naquele momento.
Quando vejo Nala vacilar, preocupo-me, vejo-a desmoronar à minha frente. A luz que emanava dela expande-se num feixe, encolhendo-se e revelando novamente o corpo de Zara diante de mim. Rapidamente, pego-a nos braços, rosnando para os outros que estavam no quarto.
— Aqui, Alfa — diz Celina, estendendo-me um lençol com o qual cubro o corpo de Zara.
— Não se preocupe, Alfa Fenrir, ela está apenas exausta. Uma boa noite de sono lhe fará bem — diz Isacar antes que a preocupação pudesse dominar a minha mente.
— Espero que possa dar-me algumas respostas, conselheiro Isacar — digo, sem deixar de lado o que estava acontecendo. Sabia que ele estava me escondendo algo.
— E as terá, Alfa Fenrir. Estarei à sua espera lá em baixo; quando estiver pronto, basta encontrar-me — diz ele, virando as costas e saindo.
Não respondo; não sabia se conseguiria sair do lado de Zara depois de tudo o que tinha acontecido. Eu só queria ficar ao seu lado, sentindo o seu cheiro, até que o meu coração entendesse que tudo aquilo tinha terminado.
— Eu fico com ela até que volte, Alfa — diz Celina, ao ver a minha indecisão.
— Obrigado, Celina. — Com Zara nos meus braços, deixo o nosso quarto e levo-a até um dos quartos de hóspedes que havia ali, já que parecia que iríamos ficar um tempo lá.
— Não acredito na tranquilidade de vocês com tudo o que está acontecendo — diz Ethan, balançando a cabeça incrédulo.
— Ela é apenas um lobo dourado, Ethan — diz Celina, olhando-o de forma séria.
— Vou ignorar o seu sarcasmo, Celina — diz ele, fazendo-a rir.
— Estou tão chocado quanto você, Ethan, mas espero poder obter respostas de Isacar — digo enquanto coloco Zara na cama. — Chama-me se ela acordar.
— Sim, Alfa — responde ela.
Senti os passos de Ethan atrás de mim; ele estava tão curioso quanto eu para entender o que estava acontecendo. Quando chego à sala, encontro Isacar e outra pessoa sentados, tomando chá.
— Espero que não se incomode com a presença do meu motorista — diz ele, indicando o homem ao seu lado.
— Não me incomodo — digo, sentando-me de frente para ele. — Pelo que vejo, irá passar a noite aqui.
— Isso te incomoda, Alfa Fenrir? — pergunta ele em tom de desafio. Ele não me incomodava; a falta de respostas é que me incomodava.
— Não, realmente — respondo, e viro-me para Ethan. — Podes mostrar um dos quartos ao acompanhante do conselheiro?
— Sim, Alfa — diz ele, levantando-se e indicando ao homem para que o seguisse.
— Gosto disso em você, Alfa Fenrir — diz Isacar, rindo depois que os outros saem. — Sempre transparente.
— Não gosto de mentiras — digo.
— E ninguém está mentindo para você — diz ele, levando a xícara aos lábios.
— Sabe o que eu quero — digo, esperando uma resposta. Isacar suspira, deixando a xícara de lado e voltando-se para mim.
— O que sabe sobre os lobos dourados? — pergunta ele.
— Que existem e têm vários dons — respondo, e vejo um sorriso abrir-se em seus lábios ao perceber o quão pouca informação eu tinha.
— Não sabe nada, Alfa — diz ele, sério. — Mas vou contar-lhe o suficiente para entender o que está acontecendo.
Eu sabia que ele não me diria tudo; para isso, ele precisava confiar em mim, e não éramos tão próximos assim. Mas eu precisava que ele confiasse em mim, pelo bem de Zara, preciso de respostas e naquele momento ele era o único que podia me dar.
— Os lobos dourados são raros, e atualmente só existem algumas famílias que possuem os genes; a minha é uma delas — aquilo choca-me, e olho para ele sem disfarçar o meu espanto evidente.
— Quais são as outras famílias que possuem os genes? — pergunto, querendo saber mais sobre o que estava a acontecer.
— Lamento, Alfa, mas algumas delas estão sob sigilo — responde ele.
— Isso não esclarece muita coisa — digo, frustrado.
— Sei disso, mas os lobos dourados estão quase a desaparecer. Hoje em dia é raro que um apareça; por isso, o conselho dos lobisomens determinou que a sua existência fosse mantida em sigilo — fazia muito sentido o que ele estava dizendo. O nosso mundo vivia em guerra, e se alguém possuísse um lobo com habilidades além do comum, seria um grande trunfo contra um possível inimigo.
— É uma forma de proteção — digo.
— Sim, somos uma espécie que desenvolve um grande poder quando ganhamos o nosso lobo. É claro que, como viu, isso tem um preço alto — diz ele, e lembrar-me de Zara sofrendo fazia o meu peito doer. — Depois que nos transformamos, cada lobo ganha um poder que é mais latente na sua vida ou mais necessário. Isso ainda é um mistério para mim.
— Então não há como saber que poder ela irá despertar? — pergunto.
— Não, a única coisa que sabemos ao certo é o que já percebeu: podemos comunicar-nos mesmo não sendo membros da mesma matilha — agora tudo fazia mais sentido. Mas se até mesmo Isacar tinha um conhecimento limitado sobre os lobos dourados, o que eu poderia fazer para ajudar a minha companheira tornava-se uma piada, partindo do princípio de que ele estava a ser sincero comigo e não escondendo nada.
Pensar em tudo aquilo dava-me dor de cabeça, mas ao menos já tínhamos uma ideia do que tinha acontecido, e agora a certeza absoluta de que Zara realmente não era filha do Alfa James. Mas havia ainda um a pergunta que tirava o meu sono. Quem era os pais dela?