**Zara**
Eu me sentia à deriva; podia ouvir a voz de Fenrir ao longe, mas não conseguia acordar. Ver o desespero dele doía-me muito, mas não tinha controle sobre o meu próprio corpo. Lembro-me de ter deitado para descansar logo após Diana deixar o meu quarto, e depois de algum tempo comecei a sentir o meu corpo estranho, como se estivesse a flutuar numa névoa muito espessa da qual não conseguia sair.
O meu desespero apenas aumentava por não conseguir ouvir Nala na minha mente. Sinto quando Fenrir me pega nos seus braços e, segundos depois, algo gelado me toca. Tudo aquilo era muito confuso, e eu não entendia o que estava acontecendo.
– Estou aqui, alfa – ouço alguém dizer, mas não conseguia saber quem era, ainda me sentia presa na minha própria mente. – Ao que parece, a temperatura dela está voltando ao normal.
Podia ouvir o alívio na voz da pessoa, e isso preocupava-me um pouco. Tento forçar-me a abrir os olhos, mas não conseguia, o que apenas me frustrava mais.
– Eu não sei, Celina; ela não acorda – ouvir o desespero na voz de Fenrir foi a coisa mais difícil que já ouvi, e, num impulso na minha mente, volto a mim.
– Zara! – diz ele, abraçando-me apertado. Apenas permito ficar nos seus braços enquanto a água continua a cair sobre mim. Fenrir acariciava o meu rosto e as minhas costas, balbuciando palavras de conforto para mim. Eu sentia-me segura e protegida enquanto a minha respiração lentamente se regularizava novamente.
– Deixe-me examiná-la, alfa – pede Celina, tirando-nos daquele momento. Vejo que Fenrir resiste um pouco, mas era algo necessário; eu também queria saber o que tinha acontecido.
Fenrir fecha a água e pega-me nos seus braços, levando-me de volta para o quarto; ele coloca-me com cuidado na cama. Sentia a camisa dele grudada ao meu corpo, o que me deixava constrangida, pois não havia apenas Celina e Fenrir no quarto – eu podia ver o Beta Ethan e Diana num canto, observando-nos atentamente.
– Estou molhada – protesto quando ele tenta cobrir-me.
– Eu não me importo, só quero que fique bem – diz, acariciando o meu rosto. Podia ver nos seus olhos o quanto ele estava preocupado com a minha situação, e isso aquecia o meu coração.
– Eu ajudo-a, alfa – diz Diana, aproximando-se um tanto receosa.
– Quero que a doutora a examine primeiro; só ficarei tranquilo quando ela disser que está bem – diz ele de forma firme. Sabia que Fenrir não mudaria de ideia, então apenas assinto para ele.
– Quero que me diga o que houve, Luna – pede Celina, aproximando-se de mim e colocando um termómetro debaixo do meu braço.
– Eu estava dormindo, mas o meu corpo estava estranho, e, quando tentei acordar, não consegui – explico-lhe.
– E a sua loba, como está?
– Eu não sei; tentei alcançá-la, mas não consegui – digo com a voz embargada, e sinto Fenrir envolver-me nos seus braços.
– Calma, querida, vamos descobrir o que está a acontecer – diz ele com carinho.
– Quando foi a última vez que se transformou, Luna? – pergunta ela enquanto retirava o termómetro do meu braço.
– Eu nunca me transformei – digo, e vejo os olhos dela arregalarem-se.
Quando tinha ganhado a minha loba, estava fraca demais para uma transformação, então apenas sentia Nala na minha consciência; nunca tinha parado para pensar que não havia terminado o processo.
– Acho que entendo o que está a acontecer – diz ela, olhando para mim.
– Tem a ver com a loba dela? – pergunta Fenrir.
– Sim, a Luna nunca se transformou, e, dada a forma como chegou aqui, entendo bem que o corpo dela não tinha energia para isso, mas agora que ela está a recuperar, ele está a começar a exigir essa transformação, daí a febre alta – explica ela.
– Ela pode sofrer algum risco, doutora? – pergunta Fenrir, apertando-me mais contra si.
– Sempre há um risco quando se passa do prazo, alfa. Isso preocupa-me, principalmente porque o corpo dela está drenando toda a sua energia para a transformação. Se algo como hoje voltar a acontecer, pode ser que a Luna entre em coma – isso faz o meu corpo arrepiar-se; não queria pensar que poderia não acordar mais, não agora que tudo está a encaixar-se para mim.
– Mas eu marquei-a; por que isso não está a funcionar? – pergunta Fenrir.
– Para dar certo a cem por cento, ela precisaria marcá-lo também, algo que não é possível já que ela ainda não passou pela transformação. O que você pode fazer é dar um pouco da sua energia sempre que ela precisar. Quanto mais tempo passar com ela, mais forte ela ficará – explica Celina.
– Então, basicamente, não posso afastar-me dela? – pergunto-lhe.
– Exatamente. Se perceber que ela está cansada ou que pode desmaiar, basta que Koda passe um pouco da sua energia para ela, e tudo ficará bem – responde Celina.
Olho para Fenrir e vejo os seus olhos mais tranquilos; no fundo da sua íris, brilhava algo diferente que eu não conseguia reconhecer. Ele vira-se para mim, olhando-me fixamente nos olhos.
– Ouviu o que a doutora disse? Agora vou levá-la para tomar um banho – diz ele, já pegando-me nos seus braços.
– Não! A Diana pode ajudar-me – digo, tentando soltar-me dos seus braços.
– Só que há um pequeno problema nisso, querida – diz ele, parando no lugar.
– E qual é? – pergunto, um tanto desconfiada.
– A Diana não é seu companheiro – diz ele com um sorriso de canto. Arregalo os meus olhos, e agora entendo o que era aquilo que tinha visto nos olhos dele. Tento retrucar, mas nada sai da minha boca, impotente, assisto-o levar-me para o banheiro novamente.