Embora fosse o final da festa, Isabela ainda via alguns convidados entretidos na pista de dança, enquanto a música lenta e envolvente ecoava pelo salão. Luzes suaves iluminavam o espaço, criando sombras que oscilavam conforme as pessoas se moviam. Ela tentava disfarçar seu cansaço e irritação, observando à distância Juliano ainda em conversa com Bianca, sentindo-se invisível.
Foi nesse momento que Rafael se aproximou, segurando um copo de uísque em uma mão e ostentando aquele mesmo sorriso desdenhoso que ela começava a reconhecer tão bem. Ele parecia confortável, como se nada o abalasse, e Isabela não pôde deixar de notar a confiança quase arrogante na sua postura. O seu traje preto e branco impecável ainda trazia ecos da noite anterior, e seus olhos negros cintilaram quando se aproximou.
— Parece que a senhorita ainda não conseguiu relaxar. Comentou Rafael, tomando um gole do uísque enquanto observava os convidados ao redor.
Isabela voltou-se para ele, ainda irritada pela audácia dele mais cedo, quando havia feito comentários sobre a sua vida de forma tão abrupta.
— Talvez eu não esteja no clima. Ela respondeu, tentando manter a voz firme. — Ou talvez seja porque alguns convidados não sabem quando parar de falar sobre o que não conhecem.
Rafael ergueu uma sobrancelha, fingindo surpresa, mas seu sorriso só se alargou.
— A vida é cheia de críticos, não é? Disse ele, com um tom leve, embora a suas palavras carregassem um peso velado. — Mas eu não esperava que você se importasse tanto com opiniões alheias.
Isabela sentiu o sangue ferver um pouco mais.
— Eu não me importo. Ela retrucou rapidamente, as suas palavras quase mordendo o ar entre eles. — Só acho que há momentos e lugares para tudo.
Rafael riu suavemente, seu olhar fixo em Isabela como se estivesse se divertindo com sua reação. Ele inclinou-se ligeiramente para ela, de uma maneira que a fez sentir o calor de sua presença.
— Esse é um dos seus melhores trajes, sabia? Disse ele, mudando de assunto repentinamente. — No entanto, não combina muito com essa sua irritação.
Ela bufou, cruzando os braços e se afastando um pouco dele, mas Rafael não pareceu intimidado.
— O que você quer, Sr. Navarro? Perguntou ela, cansada de jogos e de provocações.
Ele ergueu o copo, apontando com a cabeça para a pista de dança onde outros casais ainda giravam lentamente.
— Apenas oferecer uma última dança para encerrar a noite. Respondeu ele, com um leve tom de desafio em sua voz. — Ou será que sou uma companhia tão insuportável assim?
Isabela hesitou, os seus olhos passando de Rafael para a pista de dança e depois de volta para ele. Ela sabia que aceitar significava ceder um pouco mais à presença enigmática que ele insistia em impor sobre ela. Mas recusar seria admitir que ele a afetava, e isso era algo que ela não estava disposta a fazer. Com um suspiro contido, ela deu um último olhar ao redor e não encontrou Juliano, nem mesmo Bianca.
O coração de Isabela apertou ao perceber que Juliano não estava ali para ser seu porto seguro, para oferecer a mão e guiá-la em uma última dança. Em vez disso, ele estava em algum canto, talvez ainda rindo e conversando com Bianca. Uma pontada de ciúmes tomou conta dela, fazendo-a morder levemente o lábio inferior enquanto tentava controlar a expressão em seu rosto. Era frustrante e irritante que Juliano não estivesse ali, que não fosse ele a tomar a iniciativa, como tantas vezes ela imaginou em seus devaneios mais românticos.
Ela queria que fosse Juliano, o homem que ela tinha idealizado como seu futuro, que estivesse ali, de mãos estendidas, pronto para compartilhar aquele momento final da noite. Ela imaginava seus olhos gentis e o sorriso que sempre a fazia sentir especial. Em vez disso, o que tinha à sua frente era Rafael, com sua presença imponente e aquele olhar penetrante que parecia enxergar além do que ela estava disposta a revelar. A decepção e o ciúme borbulhavam dentro dela, enquanto ela tentava não demonstrar sua frustração.
Rafael, como se captasse o tumulto interno de Isabela, manteve seu olhar fixo nela, seus lábios curvando-se num sorriso que parecia saber mais do que deveria. Ele não dizia nada, mas o silêncio dele era quase provocativo, como se desafiasse Isabela a admitir o que estava sentindo.
Finalmente, ela soltou um suspiro, lutando contra o nó em sua garganta e a pontada de ciúmes que ameaçava transparecer.
— Juliano deve estar ocupado com outras prioridades. Disse ela, mais para si mesma do que para Rafael, mas ele ouviu claramente.
Rafael inclinou ligeiramente a cabeça, como se considerasse as palavras dela, e deu um passo à frente, estendendo a mão novamente.
— Talvez. Ele disse suavemente, sem tirar os olhos dela. — Mas isso não significa que você deva desperdiçar o fim de sua noite.
Isabela olhou para a mão estendida, hesitando apenas por um segundo. Em seu coração, desejava que a mão fosse de Juliano, que fosse ele ali, disposto a preencher aquele momento. Mas ao invés de se render aos ciúmes, ela colocou sua mão na de Rafael, decidida a não deixar que suas inseguranças a consumissem.
— Uma última dança. Concordou Isabela, mantendo a voz firme enquanto encarava Rafael, tentando ignorar o redemoinho de emoções que ainda agitava seu peito. Ela não daria a Rafael a satisfação de saber o quanto estava vulnerável, o quanto aquela noite estava longe de ser o que ela esperava.
Enquanto Rafael a guiava para a pista, Isabela se forçou a erguer o queixo e sorrir, mantendo a compostura mesmo com o vazio deixado pela ausência de Juliano. Ela poderia lidar com aquela dança, com Rafael e seu jeito desconcertante. Mas, por dentro, uma pequena voz sussurrava que talvez fosse hora de reconsiderar o que ela realmente queria e quem realmente estava disposto a estar ao seu lado quando importava. — Só uma dança. Disse ela finalmente, tentando esconder a faísca de curiosidade que começava a surgir em seu peito. — E depois cada um segue seu caminho.
Rafael sorriu, mostrando seus dentes brancos e retos.
— Como desejar, senhorita. Respondeu ele, estendendo a mão para ela.
Enquanto eles se dirigiam para a pista, Isabela não pôde deixar de se perguntar quem realmente era Rafael e por que ele parecia tão decidido a cruzar seu caminho.
Isabela sentiu um misto de irritação e desconforto com as palavras de Rafael. A maneira como ele a segurava, com firmeza e confiança, só servia para intensificar sua confusão e o desejo de se afastar dele. A pista de dança parecia menor agora, e o som da música era abafado pelas batidas aceleradas de seu coração. Ela tentou manter a compostura, mas era difícil ignorar a provocação no olhar de Rafael.
— Eu realmente gosto de Juliano. Ela repetiu, sua voz mais firme enquanto tentava soltar-se dos braços de Rafael, que continuavam a guiá-la com precisão.
Rafael a observou com um sorriso quase debochado, como se a luta dela só servisse para entretê-lo mais.
— Acha mesmo que tenho algum interesse na senhorita? Ele perguntou, a voz baixa e carregada de uma ironia que fez Isabela estreitar os olhos.
Ela mordeu o lábio, segurando o impulso de pisar no pé dele e correr para longe daquela situação. Mas havia algo em Rafael que a impedia, uma mistura de curiosidade e teimosia que a mantinha ali, enfrentando-o.
— Então por que pediu para dançar comigo? Ela desafiou, os olhos brilhando com uma faísca de indignação. — E sem mencionar o valor que pagou. Não faz sentido gastar tanto por algo que você despreza.
Rafael inclinou a cabeça ligeiramente, observando-a como se estivesse avaliando cada reação dela.
— Talvez eu goste de ver até onde as pessoas vão para sustentar suas próprias ilusões. Ele deu de ombros, sem um pingo de remorso ou explicação mais clara. — Você parece o tipo de garota que já idealizou o casamento perfeito, não é? O noivo dos sonhos, a casa cheia de flores, os filhos correndo pelo jardim... Aposto que até já escolheu os nomes.
Isabela arregalou os olhos, sentindo um calor subir por seu rosto. A irritação pulsava em suas veias, mas ela sabia que reagir bruscamente só daria a Rafael mais satisfação.
— E o que há de errado nisso? Isabela rebateu, tentando manter o tom calmo, embora a frustração fosse evidente. — Não há m*l nenhum em querer algo bom para si, em sonhar com uma vida que traga felicidade.
Rafael deu um sorriso enviesado, um que parecia dizer que ele sabia mais do que ela gostaria que soubesse.
— Não há m*l, desde que você consiga distinguir o sonho da realidade. Ele disse, puxando-a um pouco mais para perto, seus olhos negros perfurando os dela. — Mas será que você consegue? Ou está tão perdida nesse conto de fadas que não consegue ver o que realmente está ao seu redor?
Isabela sentiu o peito apertar com a provocação. Ela queria retrucar, queria dizer a ele que não sabia nada sobre seus sonhos ou sua vida, mas as palavras se prenderam em sua garganta. Ela segurou o olhar firme de Rafael, recusando-se a recuar.
— Eu sei exatamente o que quero. Ela afirmou, sua voz soando mais confiante do que ela se sentia. — E, definitivamente, não é o seu tipo de arrogância que vai me fazer questionar isso.
Rafael apenas riu, um som baixo e incrédulo, enquanto ele a soltava suavemente ao fim da música.
— Espero que tenha razão, senhorita. Ele disse, dando um passo para trás e fazendo uma leve reverência, sem desviar o olhar intenso. — Espero que saiba exatamente o que quer... antes que seja tarde demais para mudar de ideia.
Isabela o observou se afastar, seu coração ainda martelando no peito. A irritação se misturava a uma estranha sensação de alerta, como se as palavras de Rafael tivessem plantado uma semente de dúvida em seu coração. Mas ela se recusou a deixar que ele percebesse isso. Endireitando-se, Isabela ergueu o queixo, determinada a não deixar Rafael ou qualquer outro homem ditar o que ela deveria pensar ou sentir.