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Maré - Identidade Proibida

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Blurb

Após a morte do pai, Máscara assume o comando do Complexo da Maré, mantendo sua verdadeira identidade em segredo. Frio, calculista e temido, ele não imaginava que sua nova sub traria caos e sentimento em dose igual.Angel, uma mulher de rosto inocente, cabelos de fogo e alma manchada de sangue. Ela carrega no olhar a dor de quem já perdeu demais e nos braços, o pequeno Noah, que sem saber vai roubar o coração do homem mais temido da Maré.Entre segredos, lealdades e mortes, nasce um sentimento que nenhum dos dois estava preparado para viver.Mas o passado que Angel tenta esconder pode colocar em risco a identidade que Máscara jurou proteger com a própria vida.

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Capítulo 1
Máscara Narrando Meu pai sempre preservou a minha identidade. Desde moleque, ele dizia que meu rosto não podia ser visto por ninguém. Que no nosso mundo, mostrar quem a gente é de verdade é o mesmo que entregar a alma pro inimigo. Cresci longe da Maré, em Copacabana, com a minha mãe. Pra quem via de fora, eu era só mais um garoto normal: escola particular, futebol na praia, típico filhinho de papai. O que ninguém imaginava era que, quando a sexta-feira chegava, eu subia a Maré, por trás, escondido, pra treinar no galpão com ele. Meu pai me moldou para comandar. Sem piedade. Sem fraqueza. Ele dizia que o morro era como o mar, bonito de longe, perigoso de perto e que só quem aprendia a respirar debaixo d’água sobrevivia. Meu vulgo ele que deu. Mas eu escolhi ser o: Máscara. Desde o início, ficou decidido que seria assim. Ninguém veria meu rosto. Ninguém saberia meu nome. Só meu pai e meu padrinho, o Bomba, chefe do Comando, conheciam a verdade. O resto... o resto, só conhece o Máscara, já o homem por trás dela, poucos tiveram a chance de conhecer. Muita gente se pergunta como eu faço para esconder minha identidade. É simples: no asfalto, eu sou um empresário. Dono de uma concessionária de carros importados, bem vestido, discreto. Aquele tipo de homem que fala baixo e assina cheque alto. Ninguém desconfia que o mesmo cara que vende carros de luxo é o mesmo que manda no Complexo da Maré. Mas, aqui em cima, no alto do morro, a história é outra. Sou o homem que impõe respeito. O que tem o olhar frio e a mão firme. O que protege os moradores, mas que não perdoa quem trai. Meu pai sempre dizia: “Cuida dos teus, que eles cuidam de você.” E é assim que tenho feito. Assumi o morro há pouco mais de seis meses, depois da morte dele numa invasão do BOPE. Aquela noite ainda me persegue. O barulho dos tiros ecoando no beco, o cheiro de pólvora no ar, o sangue misturado com a chuva. Meu pai caiu lutando. E eu jurei que ninguém mais ia subir e derramar sangue na Maré além de mim se caso for necessário. Desde então, me mudei de vez pra cá. Minha mãe preferiu ficar no asfalto, e eu achei melhor assim. Ela sempre foi a parte boa da história e o morro não perdoa quem é bom demais. Agora tô aqui, sentado na minha sala, de frente pra janela larga que mostra toda a comunidade. De longe, a Maré parece um mosaico bonito de luzes e vozes. De perto, é um campo minado. Cada beco tem um segredo, cada esquina um traidor em potencial. Meu rádio toca na mesa, chiando. — O sub tá subindo, chefe — avisa o vapor. Cruzo os braços e olho pro relógio. Meu padrinho disse que mandaria alguém de confiança. Um sub “perfeito” para comandar do meu lado. Mandou o modelo do carro e a placa pra já deixar liberado na barreira. Eu não costumo confiar em ninguém, mas quando o Bomba fala, eu escuto. Ele foi o homem que ajudou meu pai a erguer o morro, e me conhece desde que eu usava fralda. Pego a garrafa de whisky, encho o copo e dou um gole. O líquido queima na garganta, e o silêncio me invade. Ser líder é isso, engolir fogo e mostrar frieza. Por dentro, o inferno. Por fora, o comando. Peguei o rádio na mesa, e avisei ao F1, um dos vapores da contenção da boca, que o sub tava subindo que poderia deixar passar direto pra minha sala. Levantei o olhar para a porta e, por um instante, o tempo pareceu desacelerar. Quando a porta se abriu, o que eu vi não era nada do que eu esperava. Nada, nem ninguém tinha me preparado para aquilo. Eu esperava um homem. Um daqueles caras grandes, de expressão dura, olhar de soldado e sangue frio nas veias. Mas o que entrou foi ela, uma mulher. Cabelos vermelhos que pareciam pegar fogo sob a luz fraca do teto, olhos castanhos, firmes, que não se abaixavam para ninguém. Tinha algo naquele olhar... algo que queimava e gelava ao mesmo tempo. Ela entrou com a postura ereta, ombros retos, o queixo erguido como quem já carrega o peso do próprio inferno nas costas. Por um segundo, o ambiente até pareceu menor. — Máscara. — Ela falou meu nome com segurança, a voz rouca, firme. — O Bomba me mandou. Ela não esperou que eu a convidasse para se aproximar. Deu dois passos pra frente e parou bem no meio da sala, olhando direto pra mim. Nenhum tremor, nenhuma hesitação. — Angel, satisfação. — se apresentou, e o nome soou estranho ali dentro, como um contraste entre o santo e o profano. Por trás da máscara, deixei o olhar correr por ela não de forma invasiva, mas avaliando. Era assim que eu fazia com todo mundo que entrava na minha vida. E o que vi em Angel não era fragilidade. Era gelo. E dor. — Satisfação, Angel. — Minha voz saiu mais baixa e rouca do que eu esperava. E o silêncio se espalhou pela a sala. — Você veio sozinha? — perguntei, quebrando o silêncio. Ela respirou fundo, ajeitou os cabelos atrás da orelha e respondeu com naturalidade: — Vim com meu filho e com a minha mãe. Estão lá fora, no carro. Aquilo me pegou de surpresa. Filho? Mãe? Naquele mundo, mulher já era algo raro dentro do comando. Mulher com família, então... era quase impossível. — E o pai do menino? — perguntei, mesmo já sabendo que a resposta não viria fácil. Ela me olhou direto, sem piscar. — Morto. Uma única palavra, dita com firmeza, sem nenhuma emoção. Porém sem muita verdade. E no mesmo segundo, o assunto morreu ali. Já percebi que ela tinha um jeito de encerrar as conversas que nem o silêncio ousava atravessar. Ela não era o tipo de mulher que pedia para ser compreendida. Era o tipo que sobrevivia. Cruzei os braços, apoiando as costas na poltrona. — O vapor vai mostrar onde fica a tua casa — disse, mantendo o tom neutro. — Como já tá tarde, a gente deixa pra alinhar as coisas do morro amanhã de manhã. Ela apenas acenou com a cabeça, sem discutir, sem agradecer. Virou as costas pra mim e foi em direção à porta. E quando passou, o perfume dela ficou. Era leve, mas deixava rastro. Uma mistura de flor e pólvora. Fiquei olhando enquanto ela saia, e por um instante me peguei imaginando o que uma mulher como aquela fazia num lugar como esse. Uma mulher com rosto de anjo… e olhar tão sombrio. Peguei o copo com whisky e dei outro gole. O gosto amargo pareceu se misturar com o que eu sentia. Não era desejo. Ainda não. Era curiosidade. E curiosidade, no meu mundo, é uma coisa perigosa. A noite tinha caído de vez sobre a Maré, quando saí da minha sala e fui pra minha casa. Entrei e fui direto pro meu quarto, tirei a camisa, joguei na cadeira e fui pra varanda. As luzes dos becos acendiam como estrelas tortas no meio da escuridão. Aqui de cima, do meu quarto, dava pra ver as vielas serpenteando como veias pulsando sob o concreto. O morro respirava, vivo e inquieto. Me encostei na grade da varanda e fiquei observando a casa ao lado. Ela deve estar se instalando neste exato momento, e uma das melhores que tínhamos, mais afastada, com vista pro alto, segura o bastante pra quem carrega uma criança. Não sei por que me importei com isso. Não costumo me importar. Mas desde que ela entrou naquela sala, parecia que alguma coisa tinha se mexido dentro de mim. Talvez fosse a lembrança da minha mãe, que viveu metade da vida com medo de perder o homem que amava. Ou talvez fosse o fato de ver uma mulher trazendo uma criança pra dentro de um território como esse, como se desafiasse o destino, o medo, o próprio inferno. Angel. O nome soava suave demais pra quem trazia aquele olhar de tempestade. Pensei no filho dela. Em quantos anos o menino tinha, se parecia com ela, se era tranquilo ou danado. E aquilo me desconcertou mais do que qualquer arma apontada. Porque eu sabia o que aquele mundo fazia com os inocentes. Ele os engolia. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando espantar os pensamentos. Mas a imagem dela, aquele cabelo de fogo, aquele olhar firme, aquela resposta fria sobre o pai morto, continuava voltando. Quem era ela, afinal? De onde tinha vindo? E o que fez pra ganhar a confiança do Bomba a ponto de ser enviada pra mim? Lá fora, o morro seguia o seu ritmo: o funk que ecoava em algum beco distante, o riso das crianças que ainda brincavam no campinho, as motos subindo devagar pelas ladeiras. Mas dentro de mim, o barulho era outro. Tinha alguma coisa em Angel que me deixava em alerta. Não só pelo mistério, mas pela sensação estranha de que ela carregava um passado que podia explodir a qualquer momento. E se tem uma coisa que aprendi com meu pai, é que o passado sempre volta. Principalmente quando a gente tenta enterrá-lo. Sentei na poltrona. Peguei um cigarro, acendi e deixei a fumaça subir devagar, formando um véu cinzento no ar. Aquele quarto, que sempre me pareceu um refúgio, agora parecia pequeno demais. Talvez fosse o cheiro que ela deixou no ar e ficou impregnado no meu nariz. Ou talvez fosse a lembrança do olhar dela firme, mas cansado. O tipo de olhar de quem já perdeu demais e ainda assim continua em pé. Meu pai sempre dizia que o crime era feito de três tipos de gente: os que matam, os que morrem e os que sobrevivem. E Angel, com aquele jeito de quem enfrentou o inferno e voltou, parecia se encaixar no último grupo. Mas o que uma mulher com olhar de soldado e nome de anjo fazia no comando? Qual era a história por trás daquela força silenciosa? E, mais do que isso, o que ela escondia por trás daquele rosto calmo? Porque, no fundo, eu sabia, ninguém sobrevive tanto tempo nesse mundo sem carregar sangue nas mãos. A fumaça do cigarro se desfez no ar, e eu me levantei, entrando pro quarto. A máscara refletia no espelho do lado da cama metade do rosto escondido, metade exposta. Um pedaço do homem, o resto do monstro. Passei a mão sobre o material frio tirando a máscara. Quantas vezes eu já quis arrancar ela e respirar de verdade? Mas era impossível. Máscara não é só um vulgo. É o que eu sou. É o que restou de mim. Olhei de novo pela janela e vi o clarão fraco vindo da casa dela. Angel ainda devia estar acordada. Talvez ajeitando o filho pra dormir. Talvez olhando pro mesmo céu, se perguntando onde foi que a vida deu errado. E eu, aqui, me perguntando o mesmo. Porque, por mais que eu tentasse negar, algo nela me atraía. Não era pela beleza embora fosse impossível ignorar. Era pela escuridão. A dela, tão parecida com a minha. Dois mundos diferentes, mas feitos do mesmo caos. A noite avançou, e eu continuei ali, imóvel, com o barulho distante da favela embalando meus pensamentos. O vento batia nas janelas, o cheiro de chuva se misturava ao da fumaça, e o nome dela ainda ecoava dentro de mim. Angel. A mulher de rosto de anjo e alma de fogo. E isso, no meu mundo, é o tipo de coisa que mata.

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