Rita de Cassia
Não sabia que daria tanto trabalho limpar a casa da Alicia.
- p***a, c*****o, buceta...
- Não vai adiantar nada reclamar, trabalha e fica quieta, meu tio deve estar chegando.
Olhei minha roupa desgastada, de mendiga, que a minha amiga havia me emprestado.
- Olha pra mim?!
Apontei pra mim mesma com desgosto.
Alicia olhou bufando, parando de esfregar o piso da escada.
- O que foi agora dondoca?
Sorri forçadamente enquanto limpava o corrimão na parte superior da escadaria.
- Estou insalubre com essas roupas. Se o seu tio me ver assim...
- E daí. Não pense que vai conseguir alguma coisa com ele.
Abri um largo e despretensioso sorriso fazendo ela ficar um cadinho preocupada.
- A não! Sua p**a!
Avançou subindo as escadas feito uma fera. Fiquei ali esperando o que ela iria fazer.
- Que foi? Quer sentar no copo do titio antes de mim, é?
Quando ela ia pegar nos meus cabelos uma voz rouca invadiu rapidamente o ambiente.
- Que baderna é essa querida sobrinha?
Imediatamente congelamos, mas antes que conseguisse piscar e olhar melhor de quem pertencia aquela voz, a Alicia saiu daquele descongelamento para se virar totalmente.
- Oi tio Sebastian!
Ela desceu as escadas correndo enquanto que eu sempre tão segura de si tentava a todo custo procurar um esconderijo. Por Deus! Olha pra mim vestida desse jeito.
Fiquei tão preocupada com o meu estado caótico que nem queria olhar direito para ele.
- Olha quem cresceu meio centímetro da última vez que te vi.
- Ah tio, seu bobo. Ainda bem que a minha mãe perdoo seu ultimo vacilo.
- Não foi tanto assim, sua mãe as vezes leva as coisas muito a sério. Mas... Não vai me apresentar sua amiga?
Virei o rosto enrolando as mãos suadas na blusa gasta. O que diabos esta acontecebdo comigo? Nunca me senti assim? acuada! Insegura?
- É né, mas diz como você está. Como foi de viagem?
Ouvi os passos deles vindo, me deixando mais e mais desesperada. Eles cochicharam entre si.
- Sua amiga é tímida? Ela fala? Tem algum problema?
- Não tio, ela está...
- Oi. - Parou na minha frente esticando a mão na minha reta. - Pode olhar pra mim pequena dos cabelos escuros.
Instantaneamente olhei diretamente para aquele rosto, e o que encontrei me deixou sem fôlego. Nunca havia visto um rosto tão perfeito assim, a mandíbula quadrada naturalmente, necessidade de harmonização facial, o queixo mais proeminente com um buraquinho no meio, Aff! E os olhos dele são duas esferas negras que dava vontade de ficar encarando. Mas não por muito tempo, senão me traria grandes problemas.
- Olá, sou a Rita de Cassia.
Ele deu um sorriso de lado de uma maneira tão sedutora que fez a minha b****a fisgar na hora.
- Que nome... interessante. Pelo jeito sua amiga não quer pegar na minha mão.
Desviei o olhar daquela boca máscula toda sem jeito.
- Deixa ela tio, vou te mostrar seu quarto. Ele já está todo limpinho. A sua espera.
Eles dois foram se afastando mas senti o olhar dele sobre mim feito duas bolas de fogo me queimando viva.
Decidi sair dali correndo pra minha casa, não podia ficar ali depois da adrenalina que senti. E precisava imediatamente de um banho.
Sebastian
Olhei o cômodo notando que havia fotografias minhas com a minha irmã Olga na época da nossa infância penduradas como molduras na parede. Me trazendo velhas lembranças.
- Acho que a mamãe nunca esqueceu de você.
A voz da minha única sobrinha me trouxe de volta ao presente.
- Claro que não, afinal sou tudo que restou da nossa família.
Me virei para ela notando mais uma vez como havia mudado.
- Vem aqui.
Estendi os braços para ela, que de imediato veio me abraçar. Se aconchegando no seu tio.
- Nossa família é pequena, nossos pais morreram num acidente de vôo. Não tivemos primos. Mas quem sabe quando você crescer possa se casar com um homem bem rico e virar uma parideira de primeira.
Ri internamente vendo ela se afastar dando um tapa no meu peito.
- Que pensamento ganancioso e machista, tio. O senhor não é assim.
- Tem razão, não sou. - Sorri passando a mão de leve no seu r**o de cavalo. - Agora, vou desfazer arrumar as minhas coisas, deixei as malas no carro, vou lá buscar.
Era uma desculpa pra ver se a amiga dela ainda estava na casa, achei a atitude dela estranha com a minha chegada. Diferente de minutos atrás quando a vi provocando a minha sobrinha. Aquilo não parecia condizer com a verdadeira personalidade da branquinha de escuros.
- Tá bom, então vou chamar a Rita pra me ajudar a cozinhar.
Apontou pra porta, mas assim que passamos por ela não encontramos a tal.
- É, me parece que a sua amiga te deu um bolo.
- Aff! Aquela vaca.
- Do que você chamou ela?
Coloquei as mãos na cintura olhando como sua expressão mudou ficando avermelhada.
- Nada não tio. Deixa pra lá, melhor cozinhar sozinha mesmo. Rita nem sabe fritar um ovo, aquela inútil.
- Alguma coisa se útil ela deve fazer, então por que você seria amiga dela? Minha sobrinha é muito inteligente.
Ralei as costas dos dedos sobre a sua cabeleira desgrenhada, fazendo-a sorrir com gosto. Rapidamente afastei o toque.
- Vamos fazer o seguinte, me ajude com as malas, que te ajudo na cozinha. Sou um ótimo cozinheiro, faz parte do meu charme.
Levantei as mãos sorrindo sem modéstia. Eu me gabava muito disso.
- Nossa, como ficou sem namorada sabendo cozinhar tão bem? - perguntou sem saber o quanto essa pergunta me afetava, mas logo reparou na minha feição triste.
- Pois é... - respondi descendo as escadas.
- Tio, me desculpa. Nossa, como fui tão indicada assim? - Veio correndo me seguir. - Deve ser a convivência com aquela boca de caçapa, eu não era desse jeito.
Sorri pra dentro pensando na minha própria vida.
- As vezes mudamos certos hábitos por causa de algumas pessoas.
- Verdade. - Concordou comigo enquanto íamos lá fora organizar meu novo começo. Esperava que dessa vez pudesse encontrar alguém que pudesse entender meus gostos peculiares, já que a última dama me deu um fora.