Arthur
O estúdio é um caos controlado. Luzes brancas e quentes, refletores de prata, cabos serpenteando pelo chão. No centro do furacão, está ela.
Briana.
Vestindo um conjunto de lingerie da nova coleção "Sedução" – um sutiã de renda preta e uma calcinha fio dental, quase nada. A pele dela brilha sob as luzes, um corpo esculpido, curvas generosas no lugar certo, uma cintura que minhas mãos já imaginam segurar.
É pura luxúria.
É um sonho acordado que eu, ironicamente, paguei para ter aqui.
Estou parado na sombra, longe do rebuliço, os braços cruzados.
Observo.
Sempre observo.
Mas hoje a observação tem um sabor diferente. É uma caça. Uma busca por uma confirmação final.
O fotógrafo, um francês efusivo chamado Jean-Pierre, grita instruções.
— Magnifique, Briana! Agora, vire um pouquinho... isso! Perfeito! Agora olhe para mim com esse sorriso... nada inocente, chérie! Me dê um pouco de fogo!
Ela obedece, girando.
Seu sorriso se transforma.
Os olhos, que minutos antes brilhavam com uma doçura de novata, agora escurecem.
A boca se abre levemente.
É o olhar da Mascarada.
É exatamente a expressão que ela faz quando está no controle da tela, provocando, prometendo.
Meu p*u lateja dentro da calça, um traidor insistente. Eu o ignoro, focando em cada detalhe.
Ela se move para o próximo conjunto, um modelo mais ousado em vermelho.
Precisa trocar os sapatos.
Ela se curva para ajustar a tira de uma sandália de salto agulha.
E é então que eu vejo.
Na curva suave da sua clavícula esquerda, bem no ossinho, uma pequena cicatriz. Uma linha branca, fina, com não mais que um centímetro.
O mundo para.
Eu conheço aquela cicatriz.
Eu a vi dezenas de vezes.
Nos vídeos.
Quando a Mascarada arqueava as costas, quando ela levava a mão ao pescoço, aquela pequena marca ficava exposta, um detalhe imperfeito em um corpo perfeito. Eu me perguntei, inúmeras vezes, como ela havia conseguido.
Um acidente de infância?
Uma queda?
E agora, aqui está. Na pele de Briana. O mesmo formato, no mesmo lugar exato.
Não é coincidência.
Não é parecido.
É a mesma cicatriz.
A confirmação me atinge com a força de um trem. Um misto de triunfo e de puro terror me invade.
É ela.
Sem margem para dúvidas.
A mulher que eu contratei é a mulher que eu observo todas as noites. A fantasia e a realidade colidiram de uma vez por todas, e eu estou no epicentro.
Meu coração acelera, bombeando sangue quente para todo o meu corpo. Cada gesto dela agora é um convite, um lembrete vívido. O jeito como ela joga o cabelo para trás... a Mascarada faz isso antes de começar uma performance. O sorriso tímido que ela dá para a maquiadora... é o mesmo que ela dá para a câmera antes de um suspiro falso.
Eu estou enlouquecendo.
Estou duro como uma rocha, suando sob o terno caro, e completamente incapaz de desviar o olhar.
Lucas materializa-se ao meu lado, silencioso como um fantasma.
— Ela foi a melhor escolha, chefe. — ele comenta, sua voz neutra quebrando o feitiço por um segundo. — A garota é um espetáculo. A lingerie parece que foi feita no corpo dela.
Eu não respondo de imediato. Meus olhos ainda estão colados nela. Ela ri de algo que o estilista disse, um som claro que ecoa no estúdio.
É a risada dela.
A mesma.
— Sim. — eu finalmente saio, a voz mais rouca do que o normal. — Parece mesmo.
Jean-Pierre a chama para mais uma sequência.
— Briana, ma chérie! Vamos lá! Imagine que você tem um segredo... um segredo muito, muito gostoso. E só você sabe. Me mostre esse segredo, apenas nos seus olhos! Vamos, chérie!
Eu vejo os olhos dela se encontrarem com os meus, por acaso ou por destino, através da distância. E por uma fração de segundo, a máscara da modelo profissional cai.
Eu vejo um flash de desafio.
De reconhecimento.
É rápido, mas está lá.
Ela sabe que eu estou a observando.
E ela gosta.
Ela vira para a câmera, e sua expressão se transforma novamente. É a Mascarada na sua essência. Sedutora, no controle, dona de um segredo que eu, e apenas eu naquela sala, sei qual é.
Ela coloca a mão no quadril, arqueando as costas, e sussurra algo para a câmera, tão baixo que só Jean-Pierre deve ter ouvido.
Meu punho se cerra no bolso do terno. Eu quero ser aquela câmera. Eu quero ser o alvo daquele sussurro. Eu quero arrancar aquelas poucas peças de renda e possuir o corpo que eu conheço tão bem, mas nunca toquei.
A Briana é um espetáculo, como Lucas disse. Mas a Mascarada... a Mascarada é a minha ruína. E agora, elas são uma só, dançando diante dos meus olhos, um lembrete constante de que eu não estou mais no controle. A obsessão saiu da tela e agora está a alguns metros de distância, vestindo lingerie vermelha e me desafiando a fazer algo a respeito.
E eu, Arthur Moreau, não sei por quanto tempo conseguirei resistir ao chamado.
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