Limites

1027 Words
Briana A luz do notebook é a única coisa iluminando o quarto agora que a live acabou. Desliguei a câmera, tirei a máscara e virei essa pessoa que fica remoendo as coisas no escuro. E hoje, o que não falta é coisa pra remoer. Arthur Moreau. O nome ecoa na minha mente como um tambor. A imagem dele naquela sala, de terno roxo, me encarando como se eu fosse um quebra-cabeça que ele estava decidido a montar, não sai da minha cabeça. O homem é um espetáculo à parte. Alto, daqueles que enchem uma porta, ombros largos, a postura de quem manda no mundo. O rosto... bom, o rosto parece esculpido, sério. Bronzeado, cabelo sempre impecável. Um verdadeiro Deus grego vestido de Armani. Deve ter uma mulher igualmente perfeita em casa, uma socialite fina e educada, que nunca sujou a mão de tanto trabalhar. Mas então, por que aquele olhar? Por que me escolher sem eu não ter nem ao menos aberto a boca, sem ter mostrado um centímetro a mais de pele do que as outras? E aquele... volume. Não foi coisa da minha cabeça. Eu vi. Ele ficou com uma ereção só de me olhar, de elogiar o meu anel. Ficou tão nervoso que meteu as mãos nos bolsos pra disfarçar. Será que ele é daqueles? Um tarado que acha que, por ser CEO, pode comprar tudo o que deseja, inclusive as pessoas? Esses caras ricos são assim, né? Acham que o mundo é um catálogo e eles têm cartão ilimitado. Um assediador de gravata que usa o poder como afrodisíaco. Sinto um frio na espinha. Será que aceitar essa campanha foi um erro? Me coloquei na boca do lobo? Uma parte de mim, a parte que é a Mascarada, sente um frio na barriga... mas é um frio excitante. Perigoso. A outra parte, a Briana, está com o sinal de alerta máximo ligado. Comigo não, eu penso, cerrando os punhos. Comigo não é assim, seu playboy metido a b***a. Eu não vendo meu corpo. Vendo imagem. Ilusão. São coisas diferentes. A raiva está começando a ferver dentro de mim quando o ding do notebook me tira do devaneio. É um som da conta de e-mail anônima. A da Mascarada. Abro a aba. É do Fênix n***a. O coração dá um pulo. Finalmente, a tal proposta comercial. Talvez seja algo decente, algum conteúdo exclusivo, uma parceria... Mas quando leio, o sangue parece gelar nas minhas veias e, em seguida, ferver num segundo. "Não. Nada de propostas. Nada de joguinhos. Eu quero me encontrar pessoalmente com você. Pago adiantado. Me diz teu preço." A fúria que explode dentro de mim é tão intensa que eu falo sozinha, alto, para o quarto vazio. — Que MERDA! A palavra ecoa nas paredes. Minhas mãos tremem. Eu não acredito. — Não sou garota de programa, senhor Fênix n***a! Seu filho da p**a! A raiva me domina completamente. É um misto de nojo, decepção e uma revolta profunda. Eu me sento à mesa, os dedos voando sobre o teclado, digitando com uma força que quase quebra as teclas. A resposta sai crua, direta da minha indignação. "Só trabalho online. Não sou GP." Envio. Fico olhando para a tela, a respiração ofegante. Os olhos devem estar lançando fogo. Como ele ousa? Depois de meses sendo um assinante "respeitoso", ele manda uma dessas? É sempre assim. Eles pagam, pagam, pagam, e acham que no final estão comprando um pedaço da sua alma, o direito de sentar à sua mesa. — Eu vendo minha imagem, não meu corpo! – grito de novo, para ninguém além de mim mesma. – Esses riquinhos doentes acham que podem comprar tudo! Acham que a gente é um produto! Mal termino a frase, outro ding corta o ar. A resposta dele é quase instantânea. Meu estômago embrulha. O que mais ele vai dizer? Abro o e-mail. "Não estou em busca de sexo, quero te conhecer. Pode ser num lugar de sua confiança. Eu pago o quanto quiser." Um sorriso de escárnio se abre no meu rosto. Um sorriso sem nenhuma alegria. — Ah, tá! – digo, com um tom de deboche para as quatro paredes. – Claro que não quer sexo. Claro. O senhor Fênix n***a, que manda dez mil reais pra me ver de quatro, enquanto bate uma punheta, de repente só quer bater um papo, tomar um café. Quer trocar uma ideia sobre a vida. A raiva dá lugar a um cansaço súbito, uma desilusão profunda. É sempre a mesma história. Eles se escondem atrás de palavras, de justificativas furadas, mas no fundo, é tudo a mesma coisa. Minha mente vai direto para o pior cenário. Um homem que paga fortunas para uma mulher anônima na internet, que fica viciado na imagem dela... esse homem é perigoso. É doente. Encontrar com ele? Sozinha? Nem fodendo. Eu posso ser Mascarada, mas não sou i****a. Eu sei o que homens obcecados são capazes de fazer. Minha mão vai para o teclado de novo. Dessa vez, a raiva deu lugar a uma frieza resoluta. Acabou. Chega. "Se não deseja meus serviços online, não me encha o saco." Pressiono 'enviar' com uma sensação de finalidade. Bloqueio o e-mail dele e cancelo o vip dele na mesma hora. Não quero mais nada, dele. Não quero o dinheiro, não quero a explicação, não quero a obsessão doentia dele. Desligo o notebook com um baque. O quarto fica em silêncio, só o barulho da minha respiração ainda um pouco acelerada. A raiva ainda está lá, latejando, mas agora misturada com um alívio. Eu desenhei minha linha. Eu estabeleci meu limite. Arthur Moreau e Fênix n***a. Dois lados da mesma moeda podre? Dois homens diferentes? Não importa. Os dois, na sua essência, representam a mesma coisa: homens que pensam que o dinheiro dá o direito de transpor todos os limites. E eu, Briana Almeida, modelo, criadora de conteúdo adulto e nova musa da Moreau Industries, acabo de lembrar a um deles que existem coisas que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar. E agora, vou ter que descobrir como lidar com o outro. ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora
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