O CEO Irredutível

1207 Words
Arthur A sala de reuniões do topo do edifício Moreau é meu território. O ar é frio, filtrado, e o silêncio é tão absoluto que você quase pode ouvir o som do medo. É assim que eu gosto. O medo mantém as pessoas focadas. E hoje, todos estavam com medo de mim. A campanha "Sedução Moreau" estava na mesa. Ou melhor, estava sob o meu microscópio. Eu estava sentado na cabeceira, os dedos batendo uma batida lenta e impaciente na superfície polida do ébano. — Vamos começar. — eu disse, e a temperatura na sala pareceu cair mais cinco graus. A diretora de marketing, uma mulher chamada Claudia que sempre cheirava a um perfume caro e desespero, foi a primeira a se sacrificar. — Senhor Moreau, para a 'Sedução', pensamos em uma linha mais agressiva. Algo que fale com a autoestima da mulher moderna, que não tem medo de... — Pensaram errado. — eu cortei, sem nem olhar para ela. Meus olhos estavam fixos no horizonte cinza do lado de fora da janela. — A mulher moderna não precisa gritar que é poderosa. Ela simplesmente é. Eu não quero agressividade. Quero mistério. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Eu podia sentir o suor frio escorrendo pelas costas do Roberto, o diretor de criação, sem precisar virar. — Mistério é uma ótima direção, Arthur. — ele tentou, a voz um pouco trêmula. — Podemos trabalhar com closes nos olhos, com sombras, talvez uma máscara... Uma máscara. A palavra ecoou na minha mente como um tiro. Por um segundo, uma imagem invadiu meus pensamentos: uma máscara prateada, olhos escuros por trás dela, um corpo se movendo com uma graça que era ao mesmo tempo inocente e profana. Eu senti um calor perigoso subir pelo meu pescoço. Merda. — Uma máscara é um clichê barato. — eu retruquei, a voz mais cortante do que eu pretendia. — O mistério que eu quero não está no que se esconde. Está no que se revela. Eu quero uma mulher que pareça doce, mas que tenha uma centelha de malícia no olhar. Alguém que você olhe e pense: 'Ela é simples... mas não é'. Alguém que parece acessível, mas que você sabe, no fundo, que é inalcançável. Eu estava me descrevendo? Não. Estava descrevendo ela. A Mascarada. A minha obsessão secreta estava vazando, contaminando o meu trabalho, e eu parecia incapaz de detê-la. Aquele era o meu território, eu ditava as regras, mas naquele momento, era como se uma parte de mim, a parte podre e viciada, estivesse no comando. — Ela não pode ser apenas bonita. — eu continuei, e finalmente me virei para encarar o time. Eles estavam pálidos. — Bonita é o básico. Eu quero uma beleza que tenha história. Que tenha... segredo. Algo que faça um homem olhar para a foto e se perder, tentando decifrar o que há por trás daqueles olhos. Minha voz soou estranha até para mim. Havia uma intensidade ali que ia além do profissional. Havia uma fome. Claudia e Roberto trocaram um olhar rápido, cheio de confusão. Eles não entendiam. Como poderiam? Eles estavam tentando vender lingerie. Eu... eu estava tentando capturar um fantasma. — Tragam opções que se encaixem nisso. — eu ordenei, levantando-me. A reunião estava encerrada. Eu já tinha dito o que importava. O resto era ruído. Saí da sala sem olhar para trás, sentindo o alívio palpável que se espalhava no ar assim que minha sombra deixava o recinto. No corredor, respirei fundo, tentando recolocar a armadura no lugar. A Mascarada era um vício noturno. Ela não tinha lugar na luz do dia, muito menos na minha sala de reuniões. Lucas, meu assistente, me esperava com a postura rígida de um soldado. Ele é eficiente, discreto, e não faz perguntas. É por isso que ainda tem o emprego. — Senhor Moreau, a pré-seleção das modelos para a campanha está sendo feita. O Roberto pediu para enviar algumas opções para o seu aval final. — Eu não quero ver cem fotos, Lucas. Filtre. Traga só as que forem promissoras. E nada de modelos óbvias, nada de caras conhecidas. Quero uma novata. Alguém... fresca. — Entendido. — ele anotou em seu tablet. Algumas horas depois, ele entrou no meu escritório silenciosamente e deixou uma pasta fina sobre minha mesa. — As finalistas, senhor. Acenei com a cabeça, sem olhar. Só fui abrir aquela pasta quando a noite começou a cair e a cidade se acendeu em milhares de pontos de luz lá fora. Havia meia dúzia de fotos. Mulheres lindas, é claro. Mas eram só isso. Rostos vazios. Sorrisos treinados. Nenhuma delas tinha isso. Aquele algo que eu não conseguia nomear, mas que eu reconheceria na hora. Até que cheguei na última foto. Era uma candidata chamada Briana Almeida. Cabelos castanhos, olhos escuros, um sorriso que era ao mesmo tempo aberto e tímido. Havia uma doçura genuína nela, uma luz suave. Diferente de todas as outras. Mas ainda não era isso. Eu estava prestes a descartá-la quando virei para a foto de corpo inteiro. Biquíni preto, simples. Postura profissional. E então... algo me chamou a atenção. A curva do seu quadril. A linha suave da sua cintura. A maneira como ela se sustentava, com uma graça natural que não parecia ensaiada. E o anel. Ela usava um anel prateado no dedo mindinho. Simples. Discreto. Meu coração deu uma pancada violenta contra as costelas. Um frio correu minha espinha. Não. Era impossível. Era uma coincidência do c*****o. A Mascarada usava um anel idêntico. Eu o via todas as noites, refletindo a luz enquanto suas mãos percorriam o corpo. A Mascarada... Briana... A sala pareceu girar. Era ela? A mulher que me tirava o controle todas as noites, a dona dos meus segredos mais sujos, estava aqui, sorrindo de forma inocente em uma foto de book de modelo? A mão que segurava a foto tremia levemente. Eu a joguei sobre a mesa como se tivesse me queimado. Era impossível. O mundo não era tão pequeno. Era só um anel. Milhares de pessoas deviam ter um anel parecido. Mas a dúvida... a dúvida era um veneno delicioso. Eu me levantei e fui até o bar, servindo dois dedos de uísque, puro. Bebi de um só gole, sentindo o líquido ardendo descendo pela garganta. Precisava me controlar. Precisava pensar. Se era ela... a ironia era brutal. Se não era... bem, ela ainda era a candidata que mais se aproximava da minha descrição doentia. A decisão era óbvia. E perigosa. Apertei o interfone. — Lucas. — Sim, senhor Moreau? — A candidata Briana Almeida. — eu disse, minha voz soando estranhamente rouca. Eu a limpei. — Marque uma entrevista com ela. Amanhã. Quero vê-la pessoalmente. Desliguei. Fiquei olhando para a foto dela sobre a mesa. A doce Briana Almeida. E a ousada Mascarada. Eram a mesma pessoa? Eu não sabia. Mas ia descobrir. E, CEO ou não, eu sabia que, se fosse ela, eu estaria colocando um vício pessoal e incontrolável no centro dos meus negócios. Era uma estupidez. Uma irresponsabilidade. Mas o desejo é uma merda assim. Ele não pergunta. Ele não pondera. Ele só consome. E naquele momento, eu estava pronto para ser consumido. 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