Camila, a amiga, organizou a viagem de Amélia para a Itália. Ela chegou à humilde casa onde a garota vivia, para levá-la até a capital de onde tomariam o primeiro voo daquela viagem.
— Camila, eu estava aguardando você. — falou, dando-lhe um abraço.
—Já se despediu de todos e de seus entes queridos? — perguntou a ruiva, devolvendo o afeto.
—Já. É duro ter que deixar o lugar onde cresci, mas no fundo eu sei que é o certo a se fazer! — a jovem respondeu, com um sorriso amarelo nos lábios.
— Lá é maravilhoso. Tudo é muito bonito, nem se compara com essa realidade triste na qual vivemos aqui. Tenho certeza de que vai gostar muito de viver lá. — Camila disse, com entusiasmo. — Suas malas já estão prontas?
— Sim. Estou levando poucas coisas, apenas as lembranças mais valiosas. — respondeu. — Sei que assim que eu deixar a cidade, o velho Manoel vai demolir a casa e tudo o que um dia foi da minha família, desaparecerá.
— Nossa, amiga. Eu me sinto m*l ao vê-la assim. —falou sentindo muita pena. — Mas olha, garanto que toda essa tristeza vai passar. Quem sabe o seu príncipe encantado não será um belo de uno ragarzzo, hã?
— É, quem sabe? — respondeu Amélia. Camila se alegrou por ter arrancado um sorriso daquele rosto triste.
— Você aprendeu direitinho as palavras cruciais em italiano? Pois será muito bom se tiver aprendido apenas o básico. —falou mordendo os lábios, em seguida.
— Estudei todos os livros que você me deu ao longo desses dois meses. Acho que já estou ficando fluente em italiano. Eu não tenho palavras para te agradecer, minha amiga e irmã. — respondeu, dando um forte abraço na amiga.
***
Amélia embarcou para Roma, depois de passar três dias na capital do Estado de São Paulo. Para quem nunca tinha saído sequer da região onde vivia em Roraima, estar em São Paulo já seria um grande feito. Como Camila e sua tia já residiam no país europeu, tudo ficou mais fácil para ela.
As duas passaram mais de doze horas no avião, quando desembarcaram na cidade que para Amélia era a mais linda do mundo, ela ficou encantada com todas aquelas maravilhas. A arquitetura antiga, as fontes e as catedrais, tudo muito lindo. Mas ela sentia seu coração pesar por saber que sua antiga casa àquela altura já estaria no chão, mas no fundo sabia que sua avó iria gostar que tentasse buscar por um futuro melhor.
***
Depois de alguns dias de descanso, Camila arranjou um trabalho temporário para Amélia e era um trabalho bom. Ela seria faxineira na casa de um famoso Maestro chamado Thor Gandersen, ele era conhecido por toda a Europa como sendo o músico mais talentoso e influente do meio da música clássica, uma revelação grandiosa desde Claudio Abbado.
A moça chegou na mansão que ficava no alto de uma colina de onde se podia ver parte da cidade, um lugar repleto de mansões. A casa era de um visual deslumbrante com vidraças por todos os lados. A governanta, Lucia Carmella, veio ao seu encontro para lhe passar as instruções, a sorte de Amélia era que a mulher sabia falar português.
— Então você veio do Brasil, lagarzza? Fique sabendo que eu já visitei o Brasil e gostei muito. — disse a governanta.
— Sim. Para passeio é realmente um país muito bom, mas para quem vive lá, dependendo da região as coisas são bem mais complicadas. — respondeu a jovem, desconfiada.
— Se quiser saber a realidade de um país, pergunte a quem nasceu nele e verás que nenhum lugar no mundo é perfeito, mas vamos lá, vou mostrar suas tarefas!
A mulher mostrou tudo para a jovem, a casa parecia o cenário de uma novela, mas o que chamou a atenção de Amélia, foi ver um homem loiro e de costas largas. Ele estava sentado ao piano e tocava uma linda melodia. Ela se viu hipnotizada com aquela música que parecia vir do céu, Amélia sorriu, mas foi interrompida por Lucia.
— Vamos?
— Ah, sim! — disse ela, porém, não resistiu e olhou para trás enquanto seguiu ouvindo a melodia.
***
Os dias foram se passando e Amélia sempre ouvia as melodias tocadas pelo patrão, do qual nunca havia chegado perto. Ela inclusive começou a balbuciar as primeiras palavras em italiano, até que um dia, Lucia veio até ela.
— Posso ajudar em alguma coisa, senhora? Eu já estou de saída, mas posso ficar mais um pouco! — era sexta-feira e por tanto, sua folga do final de semana.
— Na verdade era para você ficar aqui. — respondeu a mulher velha. — Kelly é a moça que fica na casa nos finais de semana, mas ela passou m*l e nenhuma outra quis ficar. Você topa trabalhar esse fim de semana para auxiliar o senhor Gandersen? Mas não pode sair daqui, todavia terás a segunda e a terça de folga. Você aceita? O patrão paga bem! — acrescentou Lucia.
Amélia encostou-se na parede, ela não tinha muitas amizades e Camila sempre a deixava sozinha para sair com seu namorado e pensou. “O que devo fazer”? “Devo aceitar ficar sozinha com esse homem que eu nunca vejo, durante todo o final de semana, ou, sozinha naquele apartamento apertado”? “Bom, seja o que Deus quiser”!
— Eu fico sim. É só me dizer o que devo fazer e tudo ficará bem!
***
A noite chegou e Amélia estava sozinha naquela casa enorme, sozinha entre aspas, ela poderia a qualquer momento dar de cara com um verdadeiro deus grego. E foi exatamente isso o que aconteceu, enquanto estava na cozinha arrumando o que faltava, de repente sentiu que alguém se aproximou dela por trás e uma voz grossa a chamou:
— Poderia me ajudar?
Amélia virou-se de repente, mas teve de levantar a cabeça para enxergar o baita homem que ali estava. Vestindo uma camiseta bordô e calça jeans, ele lançou para ela um olha frio, fazendo a jovem engolir seco.
— No que eu posso ajuda-lo, senhor Gandersen? — perguntou pausadamente.
— Vejo que já sabe o meu nome. Mas pode me chamar de Thor, se quiser. Eu não gosto muito de muita formalidade. — falou, afastando-se devagar, em seguida foi até a geladeira e encheu um copo com água. — Eu estava fazendo uma passagem musical, quando de repente me bateu uma fome! — concluiu, depositando a mão sobre o estômago.
— Sim, eu já vou providenciar algo para o senhor, quero dizer, para você. O que deseja comer? Um lanche, ou algo mais nutritivo? — ela mesma quis se enforcar depois dessa pergunta.
— Lucia me disse que você é brasileira. Não teria algo de seu país que possa preparar para mim? — perguntou abrindo um sorriso, Amélia quase caiu para trás. — Não precisa ser algo muito difícil... e também se não puder fazer...
“Ai, meu Deus”! Pensava a garota. “Será que eu vou conseguir ficar perto desse gato por muito tempo sem desmaiar”?
— Tem algo sim, eu já preparo! — a garota respondeu, numa gagueira só. — Não vai dar trabalho algum, imagina?!
Thor sentou-se à mesa enquanto Amélia se virava na cozinha, ele poderia facilmente ter pedido alguma coisa para comer, mas naquele dia, algo estava diferente e Thor não sabia o que era.
TRÊS DIAS ANTES
Thor estava na sala que dava vista para a enorme piscina de sua mansão, dali também podia se ver os montes que ficavam do outro lado da cidade, ele gostava de tocar seu piano naquele local para se inspirar melhor em suas criações. Foi quando de repente ele avisou uma garota desengonçada tentando dominar uma mangueira d’água, que pareceu não gostar muito dela. Aquela garota de pele morena e cabelos castanhos o deixou em êxtase. Como ela era linda, jamais havia visto uma mulher como aquela em sua vida, pelo menos, nunca na vida real. Além do mais, ela parecia ser tão inocente, pura e atrapalhada. Então ele chamou Lucia, sua governanta, em sua presença.
— Alguma coisa, Thor? Quer que eu traga um suco para você? — Lucia perguntou.
— Ah, não, obrigado. Mas Lucia, quem é aquela garota? Onde você a arranjou? — ele perguntou, com um sorriso há muito não visto pela governanta.
— É a Amélia. Ela veio do Brasil, é amiga de uma moça que já trabalhou aqui antes, por isso a aceitei. Mas estou preocupado com uma coisa...
— E o que seria?
— Até agora não me entregou o documento definitivo de sua estadia aqui na Itália.
— Cuide disso, eu não quero problemas, mas antes, deixe-a aqui, gostei dela.
O rosto que outrora ostentava um olhar triste e um semblante descaído, agora parecia ter finalmente avistado o amanhecer. Teria acontecido ali um milagre? Para Lucia, foi o que pareceu.
PRESENTE
Depois de preparar alguns biscoitos rápidos, usando uma receita caseira, Amelia os serviram juntamente com um suco de framboesa, ao patrão. Ele mais uma vez abriu aquele sorriso radiante para ela, a moça disparou todos os nervos de seu corpo, mas manteve as aparências. Em seguida ele a faz um convite.
— Estou a fim de ver um filme. Gostaria de ver comigo? A sala de vídeo é quentinha e aconchegante, você vai gostar! — ao ouvi-lo, Amélia sentiu seu coração disparar.
— Mas senhor, não acha que seria muito atrevimento da minha parte? — perguntou sem cerimônias.
— Claro que não. A Kelly sempre assiste filmes comigo, detesto fazer esse tipo de coisa sozinho. Então, vem ou não?
“Ele me chamou para ver um filme com ele. E agora? Devo, ou não, aceitar”? Amélia pensou antes de dar a resposta. Thor olhava para ela fazendo expressões de quem estava aguardando ansioso, até que finalmente a garota abriu a boca.
— Está bem, vamos ver o filme, então!
— Então ponha a pipoca no micro-ondas, porque a diversão vai ser grande. E lhe garanto que não sou uma companhia tão r**m assim! — ele sorriu em seguida.
Os dois foram para a sala de vídeo, era um local enorme com um telão de setenta polegadas e todo rodeado com cortinas de cores escuras. Havia também algumas prateleiras com muitos livros e alguns instrumentos musicais pendurados onde não haviam prateleiras com livros. Um grande sofá que ficava diante do telão e ao fundo, acima do mesmo, um retrato enorme de Thor segurando um violino.
— Muito bonito esse lugar. — comentou ela. — Eu ainda não tinha vindo aqui antes.
—Não? Pois pra mim é o melhor lugar da casa. Hahaha... venha, vamos assistir O Homem da Máscara de Ferro, com Richard Chamberlain, eu adoro. Já o assistiu? — perguntou.
— Com esse ator, não!
Amélia nunca havia assistido à versão dita por Thor, do filme em questão, mas ficou curiosa e sentou-se ao lado do bonitão. Durante as cenas mais impactantes do filme, Amélia sentia uma adrenalina profunda, principalmente por estar sentindo o perfume suave e ao mesmo tempo másculo, daquele homem, porém, não podia se deixar levar pelas emoções, afinal de contas, ele era seu patrão.
— Não é ótima essa versão do filme? Eu gosto da mais recente, mas essa me fascina. — falou, levando um punhado de pipoca à boca. Amélia via aquilo como se fosse o céu.
Em dado momento, os dois se entre olharam, estava tudo indo muito rápido, mas o que se podia fazer? Aquele homem era lindo e claramente se sentia atraído por Amélia e ela por ele. De repente, Thor colocou o recipiente com as pipocas, de lado. Curiosamente, um beijo iria rolar entre os personagens principais do filme e pelo visto, Thor queria reproduzir a cena.
— Desculpe-me se estou sendo atrevido, mas desde o primeiro dia em que te vi, fiquei fascinado por você, Amélia. Não sabe o quanto eu queria ficar a sós com você ao menos por um momento! — concluiu Thor.
Amélia ficou paralisada, ela sabia que aquilo poderia não acabar bem e que era costumeiro os patrões assediarem as empregadas. Mas aquele homem era tão lindo. Como não gostar de um assédio desses? Foi quando Thor começou a aproximar o rosto do rosto de Amélia, a jovem sentiu suas bochechas corarem.
“Meu Deus. Será que ele vai me beijar? O que eu faço agora? Limpo a garganta e me afasto disfarçadamente, ou, deixo rolar?