Prólogo.
Dizem que a vida é como uma caixinha de surpresas, que a cada dia e a cada instante nós nos surpreendemos com ela.
Sabe? Quem disse isso, está certo, a vida nos dá chances, novos recomeços e por fim o tempo, que ao meu ver é o mais importante.
Agora me responda.
O que leva uma pessoa a se livrar de outra? Eu lhes pergunto e também lhes respondo.
Dinheiro, Rancor, ódio, desrespeito, medo, status e pôr fim a ganância.
7 anos atrás
- O que vai fazer hoje à noite? – perguntou Dulce ao sentar ao meu lado na mesa.
- Voltar para casa, estudar, comer e dormir! – disse ao fechar o livro.
- Sabe que hoje tem a festa de início do ano letivo, a onde vamos comemorar o último ano de escola, você precisa ir, não posso ficar sozinha sem a minha melhor amiga. – disse ela.
- Eu passo! – disse simplista.
- Por favor, você precisa sair desse seu casulo. – disse ela ao fazer cara de choro.
- Não gosto de festas e você sabe disso! – disse ao pegar o meu celular que estava sobre a mesa.
Ao acender a tela de bloqueio do meu smartphone, vi várias ligações perdidas do meu pai.
- Ele não larga do seu pé não é mesmo?! – perguntou ela já sabendo a resposta.
- Como ele sempre diz, ele faz isso, por que pelos menos uma Vasconcellos tem que ser perfeita! – disse sem tirar os olhos do celular.
“Pelo menos uma Vasconcellos tem que ser perfeita”, odiava essa frase, meu pai e sua mania de tentar fazer tudo do seu jeito causou uma grande separação em nossa família, mas como dizem as aparências enganam, o que é mostrado para as pessoas é uma família feliz, mas sobre o mesmo teto, somos apenas pessoas tentando conviver umas com as outras.
Vim de uma família classe média alta, meu pai é um homem de negócios, seus pensamentos giram entorno do dinheiro, tudo para ele é o dinheiro, a família é apenas o enfeite da grande mansão dos Vasconcellos.
A minha mãe é apenas a típica esposa do “ O que você fala, eu faço”, ela não tem pensamentos próprios, escolhas e muito menos liberdade, e isso é desde sempre, minha mãe só se casou com o meu pai por conta dos negócios da família, o meu avó quando paterno e quanto materno, decidiram unir os seus filhos mais velhos em matrimônio, e assim Aconteceu, como eu disse, meu pai por dinheiro aceita qualquer coisa, já minha mãe, não teve escolha.
A minha família era composta por uma mãe, um pai, uma avó paterna, duas irmãs, um tio paterno, eu e um cachorro.
Não posso esquecer também das traições, mentiras, falsidades, injúrias e o mais importante para uma família rica, a ganância, e lhes apresento os Vasconcellos.
- Olha quem acabou de entrar na cantina! – Disse Dulce que acabou me tirando dos meus pensamentos.
- Quem? – pergunto.
- O Cavalcante! – disse ela ao apontar discretamente em direção da porta da cantina.
Ela estava falando de Benjamim, o menino que a dois anos nutri uma paixonite, ele era lindo, ele tinha cabelos pretos e olhos castanhos claros, seu sorriso era perfeito, sua pele branca destacava o rubro em suas bochechas, ele era um dos mais populares do colégio, ele vivia com os seus amigos, Breno e Jean, e com toda a certeza era o trio mais popular do terceiro ano.
- E lá vem o outro Cavalcante! – disse Dulce ao apontar para trás de Benjamim.
E lá estava ele, Cristian Cavalcante, o irmão mais velho do Benjamim, o típico garoto problemático da escola.
Ele era alto, mais alto que o próprio Benjamim, olhos castanhos escuro, cabelos castanhos igual o cabelo da sua mãe, e diferente e Benjamim, ele não tinha o rubro em suas bochechas.
- Aí d***a, lá vem ele encher o saco! – disse Dulce ao ver Cristian se aproximar.
- Oi nerd, oi sem sal, o que contam de bom? – disse ele ao sentar na cadeira de frente para nós duas.
- Claro Cristian, pode sentar! – disse irônica.
- Obrigado, você é muito gentil! – disse ele ao me olhar fixamente.
Ele abriu um largo sorriso e continuou me olhando, não n**o ele era lindo, posso dizer que ele é quase um cara perfeito, se não fosse por seu temperamento i****a e suas atitudes imaturas.
- Você é um i****a! – pensei alto.
- De graça, eu ainda não te fiz nada! – disse ele ao se ajeitar na cadeira.
- Fala o que quer e some daqui. – disse a ele.
- Está arisca hoje em nerd, que foi, sonhou comigo? – disse ele.
- Se por algum motivo, eu sonhar com você, pode ter certeza que será um pesadelo. – disse a ele.
- Aham, sei, um pesadelo, você sabe que somos almas gêmeas, não sabe? – perguntou ele ao esticar o seu corpo sobre a mesa.
Ele sempre que tinha a oportunidade, falava que éramos almas gêmeas, ele diz que somos iguais, temos temperamentos iguais, e por esse motivo fomos feitos um para o outro.
- Não somos almas gêmeas! – Disse ao me levantar da cadeira.
- A onde vai? – perguntou Dulce.
- A aula já vai começar! – disse a ela.
- Eu não falei o que queria falar! – disse Cristian chamando a nossa atenção.
- Tem 10 segundos! – disse Dulce.
- É sobre a festa, você deveria ir Lis! – disse ele.
- Tchau! – disse ao pegar o meu livro sobre a mesa.
- Benjamim vai estar lá! – disse Cristian olhando para a mesa.
Sua expressão era de raiva, parecia que ele não gostava do irmão e o pior de tudo, não sabia como, mas ele sabia dos meus sentimentos por Benjamim.
- Preciso estudar! – disse a ele.
- Você estuda demais e se diverte de menos, saí desse seu casulo e curte um pouco a vida. – disse ele ao se arrumar na cadeira.
- Dessa vez vou concordar com você, por favor, vamos a festa! – disse Dulce.
- Eu vou pensar! – disse antes de me afastar dos dois.
Esse meu “Vou pensar” foi um sim, um sim que iria mudar a minha vida de uma forma que nunca imaginaria.
Hoje em dia.
- E para comemorar a minha vitória, gostaria de chamar as minhas duas filhas e minha esposa. – disse o meu pai no palco.
Os aplausos ecoavam naquele salão, meu pai havia conquistado o tão sonhado título de vereador do estado, mas quem não votaria nele, se olhar bem, a nossa família é “Perfeita”.
- E para a nossa felicidade, hoje a família está completa, a nossa filha mais nova voltou para o Brasil, e não posso deixar de dizer, que ela se tornou uma linda mulher, Lisandra minha filha, suba ao palco por favor! – disse o meu pai.
Já estava imaginando as expressões nos rostos das pessoas naquele salão, a garota que saiu do país, voltou.
Eu sou a garota que foi humilhada, criticada, esquecida e abandonada, sou a garota que jurou por aquele que ela mais ama, fazer todos sofrerem pelo que nos fizeram.
Subi naquele palco e fingir estar feliz pelo meu pai, me aproximei dele e ele me abraçou.
- Fico feliz que tenha vindo! – disse ele.
- Temos que manter as aparências, não é mesmo? – disse antes de me afastar do abraço.
Fiquei ao lado de Dália minha irmã do meio e ao lado dela estava Genevieve, minha outra irmã.
- Não vejo a hora dessa palhaça acabar! – disse Dália.
- Nem me fala! – disse Genevieve.
- E você Lis? Como está? – perguntou Dália.
- Estou ótima! – disse antes de sair do palco.
O discurso do meu pai estava demorando, não queria continuar naquela farsa que ele chama de família, caminhei em meio aquele corredor, passei por um garçom que estava prestes a oferecer champanhe aos convidados e então peguei uma taça, e continuei andando em direção a porta do salão, até que fiquei de cara com ele, Benjamim Augustus Cavalcante, o homem que me fez sofrer.
- Oi Lisandra! – disse ele.
Tomei um gole do champanhe que estava em minhas mãos e fingi não estar vendo Benjamim a minha frente, ele não mudou quase nada, continua com as bochechas rosadas, sua pele continua pálida e bem cuidada, seus olhos ainda tinham o brilho que me fizeram me apaixonar por ele, a única diferença que consegui notar, foi o rastro dos pelos em seu rosto, os músculos corporais que ele ganhou, que bem provavelmente, ele deve estar malhando, ele vestia um terno preto com alguns pequenos detalhes de brilhos, ele segurava a sua taça já vazia em sua mão esquerda e enquanto isso a sua mão direita estava escondida dentro do bolso da calça.
- Lisandra? – Disse uma voz familiar.
Ao observar por cima do ombro de Benjamim, puder ver Cristian, ele estava surpreso ao me ver, ele também não havia mudado muito, ele ficou muito mais bonito do que antes, mas não mudou muita coisa, afinal não fazia tanto tempo assim que fiquei sem o ver, ele estava com um leve sorriso em seu rosto, ele continuou me encarando, enquanto Benjamim encarava a nós dois com a sua reveza de olhar.
Passei por Benjamim e andei em direção de Cristian, eu precisa abraçar ele, eu precisava sentir o abraço dele, por que naquele momento, ele era o único que me fazia bem naquele lugar, me aproximei, o abracei e ele retribuiu o meu abraço, sentir sua mão segurar a minha nuca, a sua outra mão segurando a minha cintura, e senti a sua boca tocar docemente o meu pescoço.
- Não acredito que esteja aqui! – sussurrou ele.
- Sentiu a minha falta? – perguntei a ele.
Nós afastamos daquele abraço, pude sentir os olhares curiosos sobre nós dois, pude sentir que Benjamim estava também nos encarando.
- Acho que estamos chamando muita atenção! – disse Cristian.
- Quer sair daqui? – perguntei.
- Seria bom! – disse Cristian.
- Então vamos! – disse ao colocar a taça com champanhe sobre a mesa que estava ao meu lado.
Saímos daquele local, caminhamos em direção da portaria daquele salão, Cristian entregou a chaves para o manobrista e então esperamos para que o carro dele fosse trazido.
- A onde vamos? – perguntei a Cristian.
- Vamos para qualquer lugar, um lugar à onde o clima entre nós não esteja tão tenso. – disse Cristian.
Dei um leve sorriso e então ele segou a minha mão, ele olhou nos meus olhos e com a sua mão livre, ele acariciou o meu rosto.
- Eu senti a sua falta. – disse a ele.
- Eu também senti. – disse ele ao se aproximar de mim.
Nossos rostos estavam próximos, eu senti a respiração dele junto a minha, sua boca estava perto de se encontrar com a minha, mas ouvimos o carro dele se aproximar então nos afastamos.
O manobrista entregou a chave para Cristian, entramos no carro e ele começou a dirigir.
Devem estar se perguntando como Cristian e eu ficamos tão íntimos, se voltarmos para o passado, vocês vão poder entender.
Enquanto eu sigo com Cristian para um lugar à onde só existia nós dois, eu vou voltar na noite em que tudo começou a mudar em minha vida.
7 anos atrás.
- Eu não deveria estar aqui, não gosto de festa, principalmente no meio da semana. – disse antes de começar a caminhar em direção a casa do Jean, um dos melhores amigos de Benjamim.
A casa era localizada em um condomínio residencial no Morumbi, ela tinha dois andares, várias janelas de mais ou menos dois metros, uma varanda que por sinal já estava cheia de adolescentes quase embriagados, a música era alta, dava para ouvir antes mesmo da visualização do portão da portaria.
- Os vizinhos não vãos de incomodar com tanto barulho? – perguntei a Dulce que estava ao meu lado.
- Não se preocupa, os vizinhos não vão se incomodar, por que eles estão participando da festa, ou pelo menos os filhos deles estão. - disse Cristian que surgiu do nada.
- De onde saiu? – perguntou Dulce.
- Eu estava logo atrás de vocês! – disse ele.
- Oi Lisandra, Dulce. – disse Benjamim ao passar por nós.
Ele sabia o meu nome? Ele me cumprimentou? Eu Não estava acreditando no que havia acabado de acontecer, Benjamim Augustus Cavalcante falou comigo, e ainda sorriu.
- Ei, acorda pra vida, vamos precisamos chagar na casa ainda, preciso de uma bebida! – disse Dulce.
- Você viu? Ele falou comigo! – disse a Dulce.
- Nossa grande coisa! – disse Cristian.
- Ainda está aqui? Por que não vai procurar a sua turma? – perguntei a ele.
- Procurar a minha turma? Não tem como, todos eles estão ocupando quase todos os quartos da casa com as garotas que escolheram para ficar essa noite. – disse Cristian.
- Então vai ficar grudado em nós, igual a um carrapato? – perguntou Dulce.
- Talvez! – disse ele.
- Eu mereço! – Indaguei.
- Fique feliz, sua alma gêmea não vai largar do seu pé hoje! – disse ele.
Meu Deus, como alguém podia ser tão lindo e i****a ao mesmo tempo? E esse papo de alma gêmea? Ele era um insuportável.
Continuamos a caminhar até a casa, e no meio do caminho senti Cristian tentar segurar a minha mão, afastei a minha mão da dele e ele tentou segura-la de novo.
- Sai! – disse a ele.
- Precisamos andar juntos e de mãos dadas, assim todos vão saber que somos feitos um para o outro. - disse ele.
- Para de ser chato, negócio insuportável esse seu de alma gêmea. – disse a ele.
- Me dá mão Lisandra! – disse ele sorrindo.
- Não, sai fora! – disse ao me afastar dele.
Comecei a caminhar rápido e ele me acompanhava, e o caminho inteiro até a entrada da mansão, ele tentou segurar a minha mão, e me provocava de várias formas.
- Saí Cristian! – disse ao me afastar dele.
Já estávamos na porta da mansão, as pessoas, ou melhor os adolescentes já estavam dançando, a casa que estava iluminada por luzes colorida, deixava a nossa visão pouco nítida, mas mesmo assim, com uma forçada de olho, dava para tentar reconhecer alguém.
- Não sei vocês, mas eu vou beber alguma coisa. – disse Dulce ao se afastar.
- Cristian, você chegou, vem, vem dançar comigo. – disse uma garota ao puxa-lo pelo braço.
- Já vai tarde! – disse ao vê-lo sendo arrastado pela menina.
Fiquei sozinha, Dulce já estava bebendo e conversando com um menino perto da porta de vidro que levava para a área de lazer, Cristian estava dançando com a garota, mas não tirava os olhos um segundo de mim, e eu estava ali, parada de frente a porta de entrada da casa, olhei ao meu redor e ao longe, pude ver Benjamim, ele estava conversando com os seus amigos, ele segurava uma cerveja em mãos, os seus amigos parecia que estavam bebendo algo mais forte, algo como uísque ou até mesmo vodca, fiquei o olhando estava a admirar a beleza daquele garoto, meu coração estava palpitando fortemente, mas a situação dos meus batimentos cardíacos estavam prestes a acelerar ainda mais, Benjamim percebeu que alguém o encarava, ele procurou por todos os lados e por fim, ele me viu, o encarando, ele sorriu para mim, senti o meu coração querer pular para fora do meu peito, ele estava vindo em minha direção, ele estava sorrindo, “talvez não seja para mim esse sorriso” , “ Deve ter outra pessoa atrás de mim, ele está vindo em direção a ela.” Pensei, e enquanto pensava, ele já se aproximava ainda mais de mim.
- Está atrapalhando a saída e a entrada das pessoas! – disse ele ao se aproximar.
A música estava um pouco alta, mas pude entender mais ou menos o que ele havia dito.
- O que? – perguntei confusa.
- Você está de frente a porta principal da casa. – disse Benjamim.
- Desculpa, atrapalhar a sua saída! – disse ao olhar para trás.
- Eu não vou sair, você não está me atrapalhando, só estou dizendo que as pessoas precisam usar essa porta para entrar e sair da casa. – disse ele.
- Certo, vou sair daqui! – disse ao me afastar da porta de entrada da casa.
- Quer beber uma bebida comigo? – perguntou Benjamim.
- Pode ser! – disse a ele.
- Então me siga! – disse ele.
O meu coração estava prestes a explodir, Benjamim começou a andar e então o segui, ele era lindo, reparei em cada detalhe, reparei a pinta que ele tinha no pescoço.
Caminhamos até a cozinha que estava menos barulhenta, Benjamim abriu a geladeira e pegou uma garrafa de suco e abriu e a estendeu para mim.
- Eu sei que você não toma bebidas alcoólicas- disse ele.
- Obrigada! – disse ao encostar na bancada da pia e ao pegar a bebida.
- De nada! – disse ele.
Ele se sentou sobre a bancada de mármore a minha frente.
- Pensei que não gostasse de festa. – disse Benjamim.
- Está me vigiando Benjamim? – perguntei a ele.
- Talvez esteja! – disse ele.
Senti a vergonha tomar conta de mim, eu estava ali conversando com Benjamim, que até pouco tempo apenas me cumprimentava de longe.
- Por que está falando comigo? – perguntei a ele.
- E não pode falar com você? – perguntou ele ao descer da bancada.
- Poder pode, só acho estranho, por que o máximo que falou comigo foi na aula de geografia a dois anos pra pedir o meu caderno emprestado. – disse a ele.
- E falando nisso, eu te devolvi o caderno? – perguntou ele.
- Não, eu acho que não, não, você não me devolveu, eu tive que refazer tudo de novo em um novo caderno, e tive trabalho, a Dulce não é muito estudiosa. – disse a ele.
- Então me desculpa, prometo devolver amanhã! – disse ele ao descer da bancada.
- Não preciso mais dele, pode ficar pra você. – disse a Ele.
O meu corpo de relaxado foi para rígido, ele estava se aproximando de mim, senti meu corpo se arrepiar, minha boca ficar seca, minha respiração demasiada, minhas mãos frias, eu estava sentindo uma sensação estranha em meu estômago, como se eu estivesse andando em um navio pirada de um parque de diversão, ou a mesma sensação de quando você pula pela primeira vez de paraquedas.
- E se eu não quiser apenas o seu caderno, e se eu quiser algo mais? – perguntou ele já próximo de mim.
- O que você quer? – perguntei quase gaguejando.
Por que estava gaguejando? Eu não sofro de gagueira, e por que ele estava tão próximo a mim? Por que suas mãos estava me encurralando naquela bancada? Por que o seu perfume estava mais atraente?
- Não consegue adivinhar o que eu quero? – perguntou Benjamim.
- Não sei se percebeu, mas eu não sou cartomante! – disse a ele.
Benjamim deu um leve sorriso, ele se aproximou ainda mais, nossos rostos estavam cada vez mais próximos, ele olhava fixamente para a minha boca e eu olhava para a dele, ia acontecer o beijo, faltava poucos centímetros, eu finalmente iria saber como era o beijo de um Cavalcante, o Cavalcante por quem estava apaixonada.
- Benjamim vamos, é hora do beijo cego! – disse Jean ao nos atrapalhar.
- Agora Jean? – perguntou Benjamim ao se afastar de mim.
- Agora, ah, oi Lisandra, gostei da camisa, bem Dark, mas gostei, vamos se você não participar as gatinhas também não vão. – disse Jean a Benjamim.
- Você vai participar? – perguntou Benjamim a mim.
- Eu nem sei o que é isso! – disse a ele.
- Eu vou explicar, você vai usar uma venda em seus olhos, vamos ter apenas 20 segundos para achar alguém na multidão, se você tiver sorte, você pode tirar quem você gosta, se não, você vai ter que beijar ainda vendada a pessoa que você está Com você. - disse Jean.
- Parece divertido, mas não sei se quero participar. – disse a ele.
- Vamos, participa. – disse Jean.
- Ok, é só um beijo em alguém aleatório. – disse a ele.
- Ou um beijo em quem você gosta! – ressaltou Benjamim ao me olhar fixamente.
- É pode ser, agora vamos, as garotas estão esperando. – disse Jean antes de voltar para festa.
- Eu tenho que ir, você vai também, não é? – perguntou ele.
- Sim. – disse a ele.
- Eu vou procurar por você, se não te achar, eu quero que você me ache, eu preciso te beijar. – disse ele a mim.
Eu fiquei sem reação com as palavras ditas, ele saiu da cozinha e voltou para a festa, eu não estava acreditando que Benjamim estava realmente querendo me beijar, “ Lisandra, vai começar”, ouvi uma voz me chamar, era Jean, caminhei em direção da festa e o mesmo me entregou uma venda preta, cada pessoa tinha uma cor, Benjamim era azul, Dulce verde, Jean roxa, Rebeca ex de Benjamim era rosa e Cristian tinha uma vermelha em mãos.
- Estão todos cientes das regras certo? – perguntou Jean ao microfone.
Todos responderam que sim.
- Certo, agora se espalhem, coloquem as vendas e encontrem o seu parceiro, e tem mais uma coisa, não falem nada, não chamem pelo nome, e não diga nada a outra pessoa quando a encontrar, não perguntem quem é, apenas beijem. – disse Jean. – Vamos começar, 20 segundos para encontrar os seus parceiros, vamos se espalhem.
Nos espalhamos, ou pelo menos as pessoas se espalharam, eu estava parada no mesmo lugar, vi Benjamim perto de um velho abajur a poucos metros de mim, eu detalhei todo o caminho até ele, assim eu poderia o encontrar caso ele não conseguisse, ele olhava para mim e sorria, seu sorriso era doce, seus olhos estavam ainda mais brilhantes, sem perceber, acabei sorrindo para ele.
- Vou colocar o cronômetro e assim que ele apitar, beijem quem estiver com você, coloquem as vendas em 5, 4, 3, 2, 1... – disse Jean.
Coloquei a venda e tudo o que conseguia fazer era ouvir o cronômetro que estava alto, contei cada segundo em minha mente enquanto esbarrava nas pessoas e caminhava em direção de Benjamim, faltava apenas 9 segundos desde que comecei a andar, eu não sabia como o reconheceria, como saberia que era ele? Senti alguém me segurar pelo braço, depois senti o toque em minhas mãos, o cheiro dessa pessoa, ou melhor, o perfume dessa pessoa, era o mesmo que o do Benjamim, será que era realmente ele? Eu sentir o toque suave em meu braço, senti o meu coração pulsar desordenadamente, senti sua respiração junto a minha, senti o calor do seu hálito, senti um leve encosta em minha boca, senti calafrios em meu estômago, senti vontade de beijar aquela pessoa, e talvez a única pessoa que eu quisesse encontrar ali em meio à multidão, estava a minha frente, o cronômetro apitou, e então um beijo aconteceu, era um beijo doce, calmo e apaixonado, pude sentir o amor naquele beijo, pude sentir o meu corpo desejando por mais, segurei na nuca daquela pessoa e intensifiquei o nosso beijo, eu senti um leve sorriso enquanto nos beijávamos.
- Pronto pessoal, podem parar e retirem as vendas quando eu mandar. – disse o DJ da festa.
Nos afastamos e terminamos o nosso beijo quando o DJ falou, eu estava nervosa, precisava saber quem eu tinha beijado, mas algo dentro de mim dizia que era Benjamim, por que só assim para explicar o que o meu corpo estava sentindo durante aquele beijo.
- Agora que todo mundo parou de se beijar, podem tirar as vendas em 5, 4, 3, 2, e 1...
Então assim fizemos, todos nós tiramos as vendas.
Dias atuais.
Estávamos no apartamento de Cristian, não estávamos conversando como pretendíamos, pelo contrário, os nossos corpos que estavam conversando por si só, Cristian beijava a minha barriga, enquanto estava despida sobre a sua cama, eu lembrava de cada sorriso, de cada brincadeira e de tudo o que passamos depois daquela festa, cada briga, cada desentendimento, cada desencontro e o quanto estava cega naquela época, ele tornou a subir os seus beijos por todo o meu corpo até chegar a minha boca, nos beijamos enquanto sentia cada toque seu, sua mão sobre a minha coxa, a sua outra mão segurando firmemente o lençol da cama, enquanto acontecia o ato pecaminoso entre nós.
- Eu te amo! – disse ele.
Ao ele me dizer essas três palavrinhas, eu me lembrei de quando tudo começou, de como sai dos braços de Benjamim para os braços de Cristian, me lembrei de como um b****a do ensino médio, se mostrou ser um homem responsável, e como eu demorei para perceber que ele era a minha alma gêmea, assim como ele sempre dizia.
Estava deitada com a cabeça sobre o peito de Cristian, agora com a sua camisa e ele com a sua roupa íntima, depois de um banho bem relaxante, estávamos apenas ali, deitados, eu ouvia a batida do seu coração, ele me fazia me sentir confortável, assim como estar nos braços dele.
- Por que demorou tanto pra voltar? – perguntou ele.
- Não demorei tanto tempo assim, foram só três anos que ficamos sem nós ver, e também, você que veio para o Brasil! – disse a ele.
- Você sabe que precisava voltar, sabe muito bem o por que voltei! – disse ele.
- É eu sei! – disse a Ele.
Levantei a minha cabeça do peito ele e pus o meu queixo apoiado sobre a minha mão que estava apoiada sobre Cristian.
- Eu precisava de você, quando você voltou, eu me senti sozinha, mas sabia que ia te encontrar. – disse a ele.
- E eu sempre vou te encontrar, você sabe disso! – disse ele.
- É eu sei! – disse com um leve sorriso em meu rosto.
Uma lembrança veio em minha mente naquele momento, a lembrança do dia em que parti do Brasil, Cristian estava na porta da minha casa, ele me esperava sair, estava chovendo, e ele estava desprotegido, a chuva caía sobre ele, e eu estava prestes a entrar no carro para ir ao aeroporto, foi quando o vi, então corri em sua direção, e eu quase deixei o meu guarda-chuva cair em meio ao caminho.
- O que está fazendo aqui? Vai ficar doente! – disse a ele.
- Eu vim me despedir! – disse ele.
- Poderia ter ligado! – disse a ele.
- Eu não podia ligar. – disse ele.
- Está sem celular? – perguntei.
- Não, mas não poderia ligar, porque o que eu tenho a dizer é muito importante, e não queria falar pelo telefone. – disse ele.
- O que é? O que quer me falar? – perguntei.
A chuva estava ficando cada vez mais densa e pude sentir os meus tênis se encherem de água.
- Eu te amo, eu te amo Lisandra Vasconcellos, eu sempre te amei, sei que não sou a pessoa mais responsável do mundo, sei que não sou o genro perfeito que seus pais querem, mas o meu amor por você é verdadeiro, eu sei que você não me ama, mas se me der uma chance eu vou mostrar pra você, que somos feitos um para o outro. – disse ele.
- Mesmo que quisesse lhe dar uma chance, eu estou indo embora, e eu não quero que fique esperando por mim, não sei se vou voltar. – disse a ele.
Ele se aproximou de mim, ele ficou de baixo do meu guarda-chuva vermelho com bolinhas brancas junto comigo.
- Se você me der uma chance, eu não vou precisar te esperar por tanto tempo, por que eu vou achar você, onde estiver. – disse ele.
A buzina do carro ecoou naquela chuva, olhei para trás rapidamente e vi a minha mãe buzinando.
- Eu tenho que ir! – disse a ele.
- Me dá uma chance? – Perguntou ele.
Olhei em seus olhos e pude ver que ele estava disposto a fazer tudo por uma chance minha, não sabia o que fazer, eu estava triste com tudo o que havia acontecido naquele último ano escolar.
- Então? Você me dá uma chance? – perguntou ele mais uma vez.
Apenas assenti, ele sorriu para mim e então me beijou, aquele beijo era tudo que eu precisava, eu retribuí enquanto passava a minha mão livre entre os seus cabelos molhados, ouvi mais uma vez a buzina do carro ecoar e então me afastei daquele beijo.
- Eu preciso ir! – disse a Ele.
- Tudo bem! – disse ele ao se afastar.
Corri de volta para o carro e quando cheguei próximo do veículo olhei para trás e vi Cristian ainda parado a onde o deixei.
- LISANDRA, EU TE AMO, EU PROMETO QUE VOU TE ENCONTRAR, EU VOU SEMPRE TE ENCONTRAR!!! – gritou ele.
Cristian e sua promessa foram as últimas coisas que vi naquele dia, antes de entrar no carro e partir.