O salão do evento beneficente era deslumbrante.
Candelabros de cristal pendiam do teto, refletindo luzes douradas nas paredes espelhadas. Camila se sentia dentro de um filme — ou pior, num lugar onde não pertencia.
Mulheres em vestidos de alta costura circulavam em grupos bem formados. Homens engravatados discutiam investimentos e arte contemporânea, rindo com aquele tom ensaiado que só milionários sabem usar.
Camila se agarrava ao braço de Elliot como a única âncora naquela tempestade de luxo.
— Todos estão olhando — ela sussurrou.
— Porque você está linda — ele respondeu, com um sorriso discreto. — E porque ninguém esperava que eu trouxesse alguém.
Camila sentiu os olhares. Alguns curiosos, outros m*l disfarçadamente julgadores. Mas o que mais a perturbou foram os sorrisos falsos.
Mulheres a analisavam da cabeça aos pés, algumas trocando cochichos, outras a ignorando como se ela fosse invisível.
Uma mulher de cabelos louros presos em um coque baixo se aproximou com uma taça de champanhe. Usava um vestido justo, vermelho, com f***a até o quadril. O sorriso era polido. Os olhos, cortantes.
— Elliot... — disse, como quem não o via há anos, mas que sabia exatamente onde ele estava todos os dias. — Que surpresa boa.
— Scarlett — ele disse, sem emoção. — Esta é Camila. Minha acompanhante.
Scarlett analisou Camila como quem avalia o valor de um diamante falso.
— Acompanhante? Que título elegante... — disse, estendendo a mão. — Muito prazer, querida. Você trabalha com Elliot?
Camila sorriu com os dentes cerrados.
— Cuidando da parte mais importante da vida dele. A filha.
A resposta causou um breve silêncio. Scarlett forçou um sorriso, mas seus olhos queimavam.
— Que curioso... Ele nunca foi de misturar negócios com... prazer.
Elliot a interrompeu, ríspido:
— Estamos aqui para ajudar crianças com câncer, Scarlett. Não para brincar de interrogatório.
Scarlett riu, falsa.
— Claro, querido. Boa sorte com seu projeto. — Ela piscou para Camila antes de se afastar.
Camila sentiu o rosto queimar. Queria sumir. Mas Elliot tocou sua cintura e murmurou:
— Você se saiu muito melhor do que eu esperava. Aquilo foi digno de um Oscar.
— Quem é ela?
— Scarlett foi... parte do meu passado. Tivemos um relacionamento breve. Curto e intenso. Exatamente o tipo de mulher que esse mundo aprova.
Camila olhou para os próprios pés, desconfortável.
— E eu sou o tipo que ele questiona.
— Não. Você é o tipo que o mundo teme, porque tem algo que nenhuma daquelas mulheres tem: o meu desejo sincero.
Ela ficou em silêncio por um momento, absorvendo o peso daquelas palavras.
— Você está jogando com fogo, Elliot.
— Talvez. Mas você é o incêndio pelo qual eu estaria disposto a me queimar.
A noite prosseguiu com discursos, brindes e apresentações. Camila, embora desconfortável, mantinha a postura. Aprendeu a sorrir educadamente e balançar a cabeça no tempo certo, mesmo sem entender metade dos assuntos.
Mas nada poderia prepará-la para o momento em que, no palco principal, o anfitrião do evento fez questão de destacar:
— E hoje temos uma presença especial. O senhor Elliot Lancaster, cuja fundação acaba de fazer a maior doação da noite. — Pausa para aplausos. — E, para surpresa de todos... ele não está sozinho esta noite.
O foco de todos se virou para eles.
Camila sentiu o chão sumir sob seus pés. Elliot segurou sua mão e a ergueu levemente, como se dissesse: com orgulho.
Ela tentou sorrir, mas por dentro, uma tempestade se formava. Não era só medo do julgamento. Era o reconhecimento de que, pela primeira vez em muito tempo, ela estava se tornando parte da história de alguém.
Horas depois, no carro de volta para casa, Camila estava em silêncio, encarando as luzes da cidade pela janela.
— Você está brava por eu ter te exposto? — Elliot perguntou.
— Não... — ela respondeu baixo. — Estou apavorada. Não sei se dou conta desse mundo. Sou só uma babá, Elliot.
— Você é a mulher que eu desejo, Camila. A que me faz querer voltar pra casa. A que me faz pensar em futuro.
Ela virou o rosto, encarando-o nos olhos.
— Você diz isso agora. Mas e quando o peso das críticas cair sobre a sua empresa? Sobre sua imagem?
— Então que caia. Porque nada disso vale a pena sem você.
Camila sentiu o coração apertar.
Quando chegaram em casa, Ivy já dormia. A babá substituta havia deixado a luz do corredor acesa e ido embora.
Elliot fechou a porta atrás deles e se aproximou de Camila. Lentamente. Sem pressa.
— Posso te mostrar o quanto eu quero você de novo?
Ela mordeu o lábio, com os olhos brilhando.
— Não precisa mostrar... eu já senti.
Mas mesmo assim, quando ele a beijou ali mesmo, no hall da mansão, Camila soube que estava se perdendo — e talvez fosse exatamente isso que queria.