Episódio 3

692 Words
Camila acordou antes do sol. O corpo inteiro doía, e não era de cansaço — era prazer demais para caber numa só noite. O cheiro de Elliot ainda impregnava seu travesseiro. Mas havia algo mais: o medo voltando sorrateiro. Ela se vestiu devagar, cuidando para não acordá-lo. Saiu do quarto dele como uma ladra, com a alma pesada e o coração descompassado. Era isso que ela queria? Ser o segredo na mansão de um CEO? Ao descer, encontrou Ivy no berço, resmungando entre o sono e o choro. Camila a pegou no colo e, como num passe de mágica, a menininha se acalmou. — Shh... mamãe não está mais aqui, mas eu estou, tá bom? — sussurrou, beijando-lhe a testa. Só então percebeu. Ela tinha chamado a si mesma de mãe. O café da manhã foi silencioso. Elliot surgiu pouco depois, arrumado para o trabalho, camisa escura e gravata perfeita, como se a noite anterior fosse um delírio. — Dormiu bem? — ele perguntou. Camila não respondeu. Limitou-se a arrumar a comida no prato de Ivy. Elliot se aproximou e falou baixo: — Você vai me ignorar agora? — Não é isso... Eu só não sei como agir. Não sei onde isso vai dar. Ele acariciou a nuca dela. — Eu também não sei. Mas quero descobrir com você. Antes que ela pudesse responder, o celular dele vibrou. Elliot atendeu, com expressão tensa. — Fala, Bill... Sim, eu estou saindo agora... Evento? Hoje à noite?... Eu tinha esquecido... Não, não preciso de acompanhante. Camila ouviu tudo, tentando fingir que não. Mas quando ele desligou, Elliot virou-se para ela. — É uma cerimônia beneficente. Coisa de imagem pública. Talvez seja uma boa oportunidade para... começarmos a assumir. Se quiser ir comigo. Camila arregalou os olhos. — Você quer que eu vá com você? Em público? — Quero. Como minha acompanhante. Como a mulher que está na minha vida. E se alguém perguntar... vai ser a verdade. Ela mordeu o lábio, surpresa. Assustada. Tonta. — Preciso pensar. Ele assentiu. — Claro. Só avisa até o fim da tarde. O motorista pode te levar. Camila passou o resto do dia como um zumbi. Ivy percebeu que a babá estava diferente e ficou mais manhosa do que o normal. Camila tentava sorrir, cantar músicas, brincar. Mas a cabeça estava longe — ainda presa ao convite de Elliot, e às palavras de Vivian. "Babás são sempre o passatempo favorito." Camila queria acreditar que com ela era diferente. Mas e se não fosse? E se aquilo tudo fosse só mais uma história para ele arquivar junto com outras tantas? Ela foi até o próprio quarto e abriu a única mala que trouxera dos subúrbios do Brasil. Roupas simples. Algumas peças mais ousadas que comprou com vergonha. E um vestido azul de alcinha, que usara apenas uma vez — em um jantar barato, num restaurante onde o ex-namorado a largou no estacionamento depois de beber demais. — Você vai pra um evento da elite de Manhattan com um CEO... — disse ao espelho, em voz baixa — usando um vestido comprado em liquidação. Ela respirou fundo. Mas havia algo nos olhos dela que não via havia tempos. Desejo de lutar. Horas depois, Elliot a esperava na base da escada. De terno escuro, impecável. Mas foi Camila quem tirou o fôlego dele. O vestido azul delineava suas curvas com perfeição. Os cabelos presos num coque solto revelavam o pescoço, as costas nuas, os ombros delicados. E os olhos castanhos brilhavam com insegurança e força ao mesmo tempo. — Uau... — ele murmurou, se aproximando. — Está... deslumbrante. Ela tentou sorrir, mas a tensão era visível. — Espero que não esteja cometendo um erro. — Eu é que espero ser digno da sua coragem. Camila aceitou o braço dele. O motorista os aguardava na entrada. No caminho, os dois trocaram poucos olhares. Havia calor, mas também uma ansiedade sufocante. Ao chegarem ao evento, flashes começaram a pipocar. Elliot segurou sua mão com firmeza, como quem diz: estou com você. Mas Camila sabia — aquele seria apenas o primeiro teste. E o mundo de Elliot estava prestes a mostrar os dentes.
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