Camila acordou antes do sol. O corpo inteiro doía, e não era de cansaço — era prazer demais para caber numa só noite.
O cheiro de Elliot ainda impregnava seu travesseiro.
Mas havia algo mais: o medo voltando sorrateiro. Ela se vestiu devagar, cuidando para não acordá-lo. Saiu do quarto dele como uma ladra, com a alma pesada e o coração descompassado.
Era isso que ela queria? Ser o segredo na mansão de um CEO?
Ao descer, encontrou Ivy no berço, resmungando entre o sono e o choro. Camila a pegou no colo e, como num passe de mágica, a menininha se acalmou.
— Shh... mamãe não está mais aqui, mas eu estou, tá bom? — sussurrou, beijando-lhe a testa.
Só então percebeu. Ela tinha chamado a si mesma de mãe.
O café da manhã foi silencioso. Elliot surgiu pouco depois, arrumado para o trabalho, camisa escura e gravata perfeita, como se a noite anterior fosse um delírio.
— Dormiu bem? — ele perguntou.
Camila não respondeu. Limitou-se a arrumar a comida no prato de Ivy.
Elliot se aproximou e falou baixo:
— Você vai me ignorar agora?
— Não é isso... Eu só não sei como agir. Não sei onde isso vai dar.
Ele acariciou a nuca dela.
— Eu também não sei. Mas quero descobrir com você.
Antes que ela pudesse responder, o celular dele vibrou. Elliot atendeu, com expressão tensa.
— Fala, Bill... Sim, eu estou saindo agora... Evento? Hoje à noite?... Eu tinha esquecido... Não, não preciso de acompanhante.
Camila ouviu tudo, tentando fingir que não.
Mas quando ele desligou, Elliot virou-se para ela.
— É uma cerimônia beneficente. Coisa de imagem pública. Talvez seja uma boa oportunidade para... começarmos a assumir. Se quiser ir comigo.
Camila arregalou os olhos.
— Você quer que eu vá com você? Em público?
— Quero. Como minha acompanhante. Como a mulher que está na minha vida. E se alguém perguntar... vai ser a verdade.
Ela mordeu o lábio, surpresa. Assustada. Tonta.
— Preciso pensar.
Ele assentiu.
— Claro. Só avisa até o fim da tarde. O motorista pode te levar.
Camila passou o resto do dia como um zumbi. Ivy percebeu que a babá estava diferente e ficou mais manhosa do que o normal.
Camila tentava sorrir, cantar músicas, brincar. Mas a cabeça estava longe — ainda presa ao convite de Elliot, e às palavras de Vivian.
"Babás são sempre o passatempo favorito."
Camila queria acreditar que com ela era diferente. Mas e se não fosse? E se aquilo tudo fosse só mais uma história para ele arquivar junto com outras tantas?
Ela foi até o próprio quarto e abriu a única mala que trouxera dos subúrbios do Brasil. Roupas simples. Algumas peças mais ousadas que comprou com vergonha. E um vestido azul de alcinha, que usara apenas uma vez — em um jantar barato, num restaurante onde o ex-namorado a largou no estacionamento depois de beber demais.
— Você vai pra um evento da elite de Manhattan com um CEO... — disse ao espelho, em voz baixa — usando um vestido comprado em liquidação.
Ela respirou fundo.
Mas havia algo nos olhos dela que não via havia tempos.
Desejo de lutar.
Horas depois, Elliot a esperava na base da escada. De terno escuro, impecável. Mas foi Camila quem tirou o fôlego dele.
O vestido azul delineava suas curvas com perfeição. Os cabelos presos num coque solto revelavam o pescoço, as costas nuas, os ombros delicados. E os olhos castanhos brilhavam com insegurança e força ao mesmo tempo.
— Uau... — ele murmurou, se aproximando. — Está... deslumbrante.
Ela tentou sorrir, mas a tensão era visível.
— Espero que não esteja cometendo um erro.
— Eu é que espero ser digno da sua coragem.
Camila aceitou o braço dele. O motorista os aguardava na entrada. No caminho, os dois trocaram poucos olhares. Havia calor, mas também uma ansiedade sufocante.
Ao chegarem ao evento, flashes começaram a pipocar.
Elliot segurou sua mão com firmeza, como quem diz: estou com você.
Mas Camila sabia — aquele seria apenas o primeiro teste.
E o mundo de Elliot estava prestes a mostrar os dentes.