Sayuri tinha acordado animada naquele dia. Ela queria sair um pouco e se divertir, esquecer a cena patética de Lyo implorando por seu perdão no dia anterior. Só de se lembrar, ela tinha vontade de rir.
Ela se levanta, escova os dentes e desce de pijama para tomar o seu café da manhã.
— Alguém acordou animada hoje — diz Hana, vendo o sorriso que a filha tinha no rosto enquanto se sentava à mesa.
— Isso é a cara de quem vai se acabar de dançar hoje, mãe — diz ela, pegando um pouco de suco.
— Não acho uma boa ideia — diz Yuki, a encarando sério.
— Você nunca acha, Yuki, mas isso não significa que vou te ouvir — diz, piscando para ele.
— Papai — diz ele, com a sobrancelha arqueada.
— Por que não vai com ela, filho? Assim a sua irmã estará segura e você fica de olho nela — diz Kyota.
— Papai...
— Ele está certo, filho. É sua obrigação garantir a segurança da sua irmã mais nova — diz Hana, para desespero de Yuki.
— Viu, irmão? Seja um bom filho e obedeça aos nossos pais — diz Sayuri, o provocando. Yuki se levanta, pega um bolinho e empurra na boca de Sayuri.
— Você fala demais, irmã — diz ele, rindo da cara brava dela.
— Yuki! — diz, brava, tirando o bolinho da boca. — Só por essa afronta, quero o seu cartão de crédito para comprar a roupa desta noite.
Sayuri estende a mão para o irmão e espera. Ele olha para os pais em busca de ajuda.
— Não vão falar nada? — pergunta ele.
— Largue de ser pão-duro e dê logo o cartão à sua irmã! — diz Kyota, encarando o filho. — E aproveite para acompanhá-la até o shopping. Não quero a minha princesinha correndo riscos.
Yuki olhava, de boca aberta, o comportamento do pai. Ao seu lado, Sayuri ria da sua expressão consternada.
— Sabe que te amo, irmão — diz ela, se levantando e lhe dando um abraço apertado. Imediatamente, Yuki relaxa nos braços da irmã.
— Você sabe como me ter nos seus dedos, irmã. Vamos, quero te ver linda esta noite — diz ele, se levantando e estendendo a mão para ela.
Sayuri segura a mão do irmão com um gritinho animado enquanto sobem as escadas para trocar de roupa.
Kyota olha para sua esposa, Hana, com um sorriso nos lábios. Ele amava a forma como os filhos se protegiam. E, apesar de saber que Sayuri trabalha ativamente em campo, ele ficava feliz em saber que tinha alguém cuidando dela.
— O que você pensa sobre tudo o que está acontecendo? — pergunta Kyota à esposa.
— Eu sempre soube que Lyo desrespeitava Sayuri, mas nunca interferi por pedido dela, que desejava lidar com isso pessoalmente. E, depois do que vi, acho que a nossa filha sabe se virar bem — diz ela, com um sorriso discreto no rosto.
— Verdade, essa menina me surpreendeu, mas ainda me preocupo com o relacionamento dela com Hideo — Kyota tinha uma ruga na testa ao falar. Ele não desejava ver a sua filha infeliz.
— Gosto desse garoto, querido. Mas vou respeitar a decisão de Sayuri sobre isso — diz ela, com um suspiro cansado.
— Se ele a magoar, Hana, jamais o perdoarei por isso. Sayuri vem sofrendo durante anos com o abandono dele. Ela não merece ser envergonhada mais uma vez — Kyota havia assistido ao sofrimento da filha, as lágrimas que ela derramava em silêncio, e não desejava que aquilo voltasse a acontecer.
— Não podemos fazer nada, querido. Sayuri já deixou bem claro que vai resolver isso. Temos que ter fé na nossa filha e confiar nas suas escolhas — diz Hana, de forma tranquila. Por mais que o seu coração se apertasse sempre que pensava sobre aquilo, ela seria paciente e torceria para que a sua filha tomasse uma decisão logo.
— Você sempre tem razão, querida — diz ele, pegando a mão de Hana e lhe dando um beijo. Kyota agradecia todos os dias pela mulher que tinha ao seu lado, sempre sensata e conselheira, algo que ele prezava bastante nela.
— Espere, querido. Você sabe que Sayuri não vai desistir tão fácil. E, se isso acontecer, estaremos aqui para apoiá-la. Apenas confie.
No alto da escada, Sayuri e Yuki ouviam a conversa dos pais em silêncio. Ela olha para o irmão e apenas encontra o seu olhar determinado sobre ela. Yuki dá um leve apertão na sua mão antes de descer com Sayuri.
— Estamos indo — diz ela, acenando para os pais.
— Tomem cuidado! — grita a sua mãe.
Sayuri entra no carro com Yuki, animada. Ela queria esquecer de Hideo naquela noite e apenas se divertir como há muito tempo não fazia. Eles entram no shopping acompanhados de vários soldados da máfia. Por onde passavam, as pessoas se afastavam ao vê-los. Sabiam bem quem eram aquelas pessoas à sua frente e não desejavam problemas.
— Vem, Yuki! — diz ela, o puxando para uma loja de luxo. Os olhos de Sayuri brilhavam ao ver os vestidos expostos nas araras.
— Bem-vindos, como posso atendê-los hoje? — pergunta uma vendedora, se aproximando.
— Quero um vestido para a noite, que seja bem chamativo — Yuki olha para a irmã com a sobrancelha arqueada ao ouvir o pedido dela.
— Temos vários modelos assim, senhorita Matsumoto. E a nova coleção da nossa estilista consagrada acabou de chegar — responde a vendedora com animação.
Sayuri acompanha a vendedora até onde estavam algumas araras de roupas. Os seus olhos brilham ao ver os vários modelos pendurados nelas, toda a coleção que tinha sido lançada há poucos dias e peças exclusivas.
Quando os olhos de Sayuri encontram um vestido verde-escuro pendurado, ela solta um pequeno gritinho de alegria, correndo para pegá-lo. Ele era de alças, com as costas nuas, e chegava até acima dos seus joelhos.
— É esse — diz, mostrando para Yuki.
— Esquece, é muito curto para você.
— Eu vou experimentar — diz ela, mostrando a língua para ele e seguindo a vendedora até os provadores. Segundos depois, ela sai deixando as pessoas fascinadas com a sua beleza. — Como estou?
Yuki vai até a sua irmã lentamente, os seus olhos fixos no sorriso nos seus lábios.
— Está mais radiante que uma noite de céu estrelado, irmã — diz ele com um sorriso de canto. — Mas não vai levá-lo, ou terei que atirar em alguém na boate.
— Eu vou levar — diz ela à vendedora.
Yuki observava a sua irmã escolher os sapatos e joias com animação. Ele tinha uma grande carranca no rosto ao pensar no trabalho que teria naquela noite.