Sayuri se olhava no espelho com um largo sorriso — ela estava linda. O vestido reluzia sob a luz do seu quarto enquanto ela caminhava em direção à porta. Desceu as escadas lentamente e, assim que a sua família a viu, eles pararam na mesma hora.
— Você está maravilhosa, querida — disse Hana, lhe dando um abraço.
— Como pôde deixar a sua irmã comprar um vestido desses, Yuki? Era sua obrigação garantir que ela não escolhesse algo tão revelador! — disse Kyota, zangado.
— Você a conhece melhor que eu, papai. Não pude fazer nada — respondeu ele, com o maxilar trincado de raiva ao ver a irmã naquele vestido.
— Estou bonita, papai? — perguntou Sayuri, dando uma voltinha para que o pai a visse melhor.
— Maravilhosa, minha filha. Mas não pode andar desse jeito, as pessoas vão começar a falar — disse ele, caminhando até ela e lhe dando um beijo na testa.
— Elas já falam, papai. Ao menos agora vou lhes dar um bom motivo — disse ela, dando de ombros. — Não se preocupe, o Yuki vai ficar de olho em mim.
— Vou mesmo — disse ele, retirando sua jaqueta e colocando-a sobre Sayuri.
— Yuki!
— Não discuta, ou te deixo aí — disse ele, pegando na mão dela e saindo. Ao fundo, a risada dos pais enchia a sala.
As luzes de néon da fachada da boate Matsumoto brilhavam intensamente, refletindo nas poças d’água espalhadas pelo chão da calçada após a breve chuva do início da noite. O som grave da música eletrônica podia ser sentido ainda do lado de fora, como um tambor pulsante chamando para dentro do templo da diversão da máfia.
Sayuri desceu do carro com elegância, o vestido verde-escuro abraçando as suas curvas e realçando ainda mais a sua beleza. Os olhos dos seguranças na entrada se desviaram por respeito, mas o impacto da sua presença era inegável. Ao seu lado, Yuki mantinha a postura firme, os olhos atentos, escaneando cada rosto, cada movimento.
— Espero que se comporte, Sayuri — disse ele, encarando-a com a sobrancelha arqueada.
— Não seja chato, irmão. Só preciso dançar um pouco e tomar algumas bebidas — respondeu ela, dando-lhe uma piscadela antes de passar pelos portões imponentes da boate.
Lá dentro, o ambiente era envolvente. A música preenchia o espaço como uma onda que invadia cada canto do corpo. Luzes coloridas dançavam nas paredes, entrelaçando sombras e brilhos nos rostos dos convidados. O aroma adocicado de perfumes caros misturava-se ao cheiro de álcool e tabaco. O ambiente era decadente e luxuoso — uma combinação perfeita para quem vivia entre o poder e o risco.
Sayuri sentiu-se livre ali. Pela primeira vez em muito tempo, permitiu-se esquecer de Hideo, de Lyo, das missões e responsabilidades. Ela queria apenas ser uma jovem mulher, sentir-se viva. Quando entrou na pista de dança, os seus movimentos foram leves, naturais. Era como se o seu corpo seguisse o ritmo instintivamente, como se aquela fosse sua verdadeira linguagem.
Yuki se posicionou em um dos balcões, de onde podia observar tudo com clareza. Com um copo de uísque na mão, os seus olhos não saíam da irmã, mesmo que disfarçadamente. Ele não confiava em nenhum dos rostos sorridentes ao redor dela. Sabia que o mundo deles era perigoso demais para baixar a guarda — mesmo numa noite de festa.
Sayuri, no entanto, sentia-se protegida. Ela dançava com liberdade, o sorriso iluminando o seu rosto. De vez em quando, olhava para Yuki e via nele a rocha segura de sua vida. Não havia dúvida de que ele daria a vida por ela — e ela faria o mesmo. Aquela boate era da família, mas seu verdadeiro porto seguro era o irmão.
Quando retornou ao bar para beber algo, Sayuri encostou no ombro de Yuki com carinho.
— Você não sabe o quanto sou grata por ter você aqui comigo.
Ele a olhou com ternura, passando o braço pelos ombros dela.
— Eu sei, irmã. E você nunca estará sozinha. Sempre vou estar aqui por você.
Sayuri encostou a cabeça no ombro dele por alguns segundos, respirando fundo. Era ali, naquele gesto simples, que sentia o amor da sua família. Por mais que o mundo ao redor fosse feito de perigos, dentro daquele abraço havia paz.
Ela se afastou sorrindo e voltou para a pista, os saltos batendo no chão ao ritmo da música, deixando um rastro de luz por onde passava. Yuki, atento como sempre, voltou à sua vigília silenciosa.
A noite apenas começara, e à medida que o álcool fazia efeito em Sayuri, ela se soltava ainda mais.
— Ao que parece, alguém quer compensar o fato de ser indesejada pelo noivo — comentou uma voz vinda de uma mesa próxima. Ao ouvir aquilo, Yuki se virou rapidamente para saber quem havia ousado insultar a sua irmã diante da sua presença.
— Não deveria falar isso. Já deixaram claro que não se deve mexer com essa mulher — disse outro homem, tentando acalmar o colega.
Yuki se manteve em seu lugar, os dedos apertando o copo de uísque com força. Tudo o que ele queria era se levantar e acabar com a raça do homem na mesa ao lado.
— E por que eu não falaria? Ela é uma piada! — disse o primeiro homem, rindo. — Tenho que admitir que é bonita, mas se o poderoso Hideo Shinoda não a quer, é porque algum defeito ela tem.
Aquilo foi o estopim. Yuki se levantou do balcão irado. Ao ver a sua expressão, o barman se afastou rapidamente, já temendo sua fúria.
— Então minha irmã tem algum defeito? — disse ele, se colocando atrás do homem e apertando os seus ombros com força, fazendo-o gemer de dor. — Quem é você para falar sobre alguém da família Matsumoto?
Parecia que o lugar havia congelado, tal era o medo que dominava os homens naquela mesa. Eles olharam para os lados, mas encontraram vários seguranças já posicionados — e sabiam bem que não era para ajudá-los.
— Não sei do que está falando, senhor Matsumoto. Estávamos apenas conversando... — disse o homem que Yuki apertava.
— Depois da lição que eu te der, você jamais vai falar sobre alguém da minha família novamente.