O volante rangia sob a força dos dedos de Hideo. A noite caía, pintando as ruas de um n***o sombrio, apenas cortado pelas luzes dos postes que passavam rápidos enquanto ele dirigia para casa. Na sua mente, uma única imagem repetia-se como uma tortura: Sayuri, sorrindo para Matteo, tão próxima, tão à vontade. Cada gargalhada dela era como uma facada surda no seu peito. Hideo cerrava os dentes, tentando afastar aquele tumulto de pensamentos, se amaldiçoando por ter visto aquelas fotos.
“Por que me importo? Ela é livre para fazer o que quiser…” resmungou para si mesmo, mas a simples ideia de Sayuri ao lado de outro fazia o seu estômago revirar.
Quando estacionou o carro em frente ao seu prédio, respirou fundo. Ele não esperava encontrar a figura de sua mãe, mas foi justamente isso que aconteceu e por mais que lhe desse vontade de fugir era tarde demais.
Mei estava sentada no sofá da sala, como se pressentisse a tempestade que o filho trazia no peito. Assim que ele entrou, ela levantou-se, os olhos atentos. Mei podia ver que o seu filho não estava bem.
— Hideo, que cara é essa? — perguntou, cruzando os braços. — Faz dias que não o vejo, e quando isso acontece você está desta forma.
Ele tentou sorrir, mas a expressão cansada e irritada traiu-o. A sua mãe estava certa, e ele lamentava por isso. Hideo sempre fora apegado a mãe e naquele momento se sentia culpado por não ter lhe visitado.
— Não é nada, mãe. — respondeu, seco, enquanto se jogava no sofá ao lado dela. — Me desculpe por não ter ido te ver, vou evitar isso no futuro.
Mei suspirou, ela não podia o condenar por fugir da sua casa já que ele evitava o pai a todo o custo nos últimos dias.
— Nada? É claro que é alguma coisa. Conta para a tua mãe. E não se preocupe por não me visitar, sei por que fez isso.
Hideo hesitou, mas algo na ternura dela desarmou-o. A sua mãe era sua melhor confidente e ela sempre conseguia acalmar o seu coração agitado.
— Eu… eu vi umas fotos. Da Sayuri. Com… o Matteo. Juntos.
Mei arqueou uma sobrancelha, curiosa. Os seus olhos se arregalando com as palavras que deixavam os lábios do seu filho, algo que ela jamais esperou ouvir, visto que Hideo tendia a fugir da noiva.
— E então? Vocês são amigos, não são? — Pergunta ela se referindo a Sayuri.
Hideo fechou a cara, frustrado. Ele não sabia se podia chamar o que tinha com Sayuri de amizade, mas também não eram inimigos.
— Eu sei! Mas… foi estranho. Eu não sei explicar. É como se… — Ele parou, sem saber como terminar a frase, e aquilo apenas o frustrava ainda mais.
Para sua surpresa, Mei soltou uma risada leve. Hideo encara a sua mãe sem nenhuma expressão surpreso com o seu comportamento.
— Ah, Hideo! Meu filho, está com ciúmes!
O rosto dele ficou vermelho na hora. O seu corpo inteiro ficando tenso. Ciumes? Não. Ele não poderia estar com ciúmes, não de Sayuri.
— Claro que não! Não tem nada a ver!
Mei sorriu, balançando a cabeça. Ao que parecia o seu filho era mais ingénuo do que ela pensava.
— Continua a mentir para você mesmo, se quiser. Mas o que está sentindo é ciúmes, e sabe bem disso. É porque gosta dela.
Hideo não respondeu. Limitou-se a desviar o olhar, um peso estranho crescendo dentro dele. Gostar de Sayuri? Ele nunca tinha pensado naquilo de forma consciente. Sempre foram amigos. Ou não?
— Vou tomar banho. — murmurou, subindo as escadas com a cabeça cheia de dúvidas. Ele só queria fugir da sua mãe e das suas perguntas que o deixavam encabulado.
Mei observou-o desaparecer no corredor. Com um sorriso malicioso, pegou o telefone e discou rapidamente.
— Hana? é Mei. Ouve, precisamos conversa. — Diz ela visivelmente animada.
— O que ouve Mei? — pergunta Hana preocupada. Era difícil que Mei ligasse para ela, então a sua cabeça se enchia com as mais terríveis preocupações.
— É Hideo. — Diz ela tentando manter a voz baixa enquanto olhava para ver se o seu filho não estava mais por perto.
— Ele está bem? Não me diga que aconteceu algo com ele! — Diz ela aflita.
— Não, é sobre Sayuri. — Diz ela sorrindo. — Ele viu as fotos de Sayuri com Matteo.
O riso de Hana enche os ouvidos de Mei quando ela entende finalmente o que tinha acontecido.
— Me diga como ele reagiu Mei. — PEde Hana animada. Ela sabia que a sua filha iria aprontar no momento em que tinha visto Matteo cruzar a porta e ao que parecia o plano de Sayuri estava dando resultados.
— Ele está se remoendo de ciúmes Hana. — Diz ela rindo baixinho. — É claro que ele não admiti, mas sei reconhecer quando o vejo.
— Isso é uma ótima notícia Mei. Não vejo a hora desses dois se acertarem.
— Eu também Hana. Sei que o meu filho é teimoso, mas acho que os olhos dele estão começando a se abrir. — Diz ela animada com a possibilidade dos dois se acertarem.
— Eu sei Mei. Sayuri ama o Hideo, e sei que ela não abrirá mão dele. — Hana estava disposta a esquecer o sofrimento que a sua filha tinha passado desde que Hideo a amasse como Sayuri merecia.
— Ele cuidará bem dela Hana, eu mesma vou garantir isso. — Diz Mei de forma firme. Ela amava o filho, mas jamais apoiaria a suas decisões erradas.
— Me mantenha informada Mei, vamos ajudar esses dois. — Diz Hana animada. Era como se ela tivesse tirado um grande peso do seu peito.
— Farei isso. — Diz la desligando com um sorriso no rosto.
Juntas, selaram um pacto silencioso: ajudariam os dois jovens teimosos a perceberem o que sentiam e a encontrar o caminho um para o outro.