O sol filtrava-se suavemente pelas cortinas de linho da casa em que Mariana e Sora estavam hospedados, numa das zonas mais elegantes da cidade. O aroma discreto de flores frescas preenchia o ambiente, enquanto Mariana, diante do espelho do quarto, girava animada, exibindo para o filho o elegante vestido azul-marinho de seda, que realçava o tom claro da sua pele, e as joias reluzentes que tilintavam a cada movimento.
— O que acha? — perguntou, com um sorriso vibrante, ajeitando os brincos de diamante com dedos ágeis. — Hoje ninguém vai conseguir ignorar a minha presença.
Sora, sentado na poltrona perto da janela, observava a mãe com um misto de admiração e preocupação. Ele não a entendia quando ficava daquela forma, mas tinha medo de a deixar chateada se expressasse o que pensava.
— Mãe… achas mesmo que é uma boa ideia ir a esse chá? Hideo deixou claro que não devia se envolver com elas…
Mariana soltou uma risada abafada, balançando levemente a cabeça. Ela duvidava que alguma daquelas mulheres ousariam a desrespeitar, ela tinha um nome naquela sociedade e eles teriam que continuar a aturando.
— Bobagem, Sora. Ninguém vai fechar a porta para mim. Elas sabem quem eu sou.
Ela piscou confiante para o filho, pegou a bolsa de couro e saiu do quarto, deixando um rastro do seu perfume sofisticado pelo corredor. Sora balançou a cabeça em descrença. Apenas esperava que tudo aquilo terminasse bem.
Pouco tempo depois, Mariana chegou à imponente casa onde o chá acontecia. O jardim estava impecavelmente cuidado, e as vozes femininas soavam num burburinho alegre que cessou abruptamente assim que ela atravessou a entrada do salão.
O silêncio cortante fez com que Mariana, num primeiro momento, pensasse que fosse pela sua aparência impecável. Levantou a mão, exibindo graciosamente o bracelete cravejado de pedras preciosas.
— Presente de Haruki… — disse, com um sorriso orgulhoso, como se aquilo justificasse a súbita atenção. Mas as mulheres a sua volta não olhavam para as joias que ela usava.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, uma das mulheres — alta, de postura severa — levantou-se e, num movimento seco e rápido, desferiu um tapa certeiro no rosto de Mariana.
O estalo ecoou pelo salão, e Mariana ficou paralisada, com a mão na face ardente, os olhos arregalados de puro espanto.
— O que… o que foi isto?! — exclamou, tentando recompor a dignidade. Ela observava os olhos atentos de todas as outras sobre ela.
A mulher, com um olhar gelado, inclinou-se para a frente:
— Nem ao menos respeita a memória do antigo líder… você foi amante dele durante anos, Mariana. E agora aparece aqui, coberta de joias, como se nada tivesse acontecido.
Mariana engoliu em seco, sentindo uma fisgada de humilhação e dor no peito. Tentou erguer a cabeça com altivez, mas a voz saiu trêmula:
— Eu… eu estou muito abatida. Só vim até aqui para… para distrair a minha mente…
Mas a mulher não se comoveu, nem arredou o olhar duro. E quando os olhos de Mariana se viraram para encontrar os das outras ela podia ver o mesmo desprezo que da sua anfitriã.
— Não passa de uma p****************o… que teve a coragem de vir a este encontro sem sequer ser convidada.
As palavras cravaram-se como lâminas no coração de Mariana. O sangue parecia ter fugido do seu rosto, deixando-a pálida e sem forças. Ela nunca tinha precisado de um convite para frequentar aquelas ambientes, todos sabiam o que ela significava para Haruki e não ousavam contrariar o antigo líder, mas Haruki não estava mais ali, e Mariana estava percebendo que talvez tivesse se iludido com as pessoas a sua volta.
— Não tem o direito de falar comigo assim… — murmurou, mais num apelo de desespero do que de indignação.
Outra mulher, até então calada, ergueu-se e, com desprezo evidente, acrescentou:
— O novo líder foi claro: quem se envolvesse com você ou com o seu filho sofreria as consequências. Não vamos pagar por algo que não temos culpa. — Diz a mulher sendo acompanhada pelo murmúrio de concordância das outras.
Mariana olhou à volta, buscando nos rostos das outras algum sinal de compaixão, mas encontrou apenas desprezo, repulsa e indiferença.
Uma terceira mulher levantou-se, cruzando os braços:
— Só te aturávamos porque Haruki assim queria. Mas agora ele morreu. Não precisamos mais ouvir as suas asneiras, nem tolerar a sua presença.
— Exatamente. Você é apenas uma v***a que usou o corpo para arrancar dinheiro do antigo líder, tem sorte de Mei ser tão gentil, se fosse eu você já estaria morta agora. — Diz uma outra dando um passo em direção a ela. Mariana vacila dando um passo para trás não acreditando no que estava ouvindo.
A respiração de Mariana ficou curta. Sentia-se como uma criança exposta, frágil, num terreno onde um dia tinha dominado com segurança e charme. A ilusão da amizade que julgava ter com aquelas mulheres desfez-se ali, diante do olhar impassível de todas.
Sem dizer mais nada, Mariana virou-se lentamente, caminhando até a saída com passos que traíam o peso esmagador da humilhação. Lá fora, o ar fresco da tarde bateu-lhe no rosto, misturando-se às lágrimas que, apesar do orgulho, não conseguiu conter.
Ela tinha imaginado que agora que Haruki tinha morrido ela finalmente ocuparia o seu lugar na elite do submundo, mas ela apenas tinha se enganado com relação aquilo. Eles jamais a aceitariam, para aquelas mulheres a única pessoa que elas desejavam conviver era Mei.
Mei. Aquele nome queimou na sua garganta se espalhando por seu corpo como lava fervente de um vulcão. Em sua mente imagens de Mei se passavam, e o ódio dela pela mulher apenas crescia. Sem dizer mais nada Mariana entra no carro e volta para casa. No momento em que ela entra Sora se levanta rapidamente ao ver o estado em que a sua mãe estava.
— O que ouve? — Pergunta ele vendo os olhos vermelhos de Mariana.
— Eu fui humilhada filho! Me disseram que apenas me aturavam por Haruki, e que apenas Mei poderia estar com elas. — Diz Mariana aos prantos nos braços do filho.
— Não se preocupe Mãe, vou cuidar disso. — Diz ele com o maxilar trincado de raiva ao ouvir os lamentos de sua mãe.
— Eu a quero morta, Sora, MORTA!