Capítulo 123

1103 Words
O sol da tarde dourava suavemente as folhas do jardim, enquanto Mei permanecia sentada num banco de madeira, absorta no canto dos pássaros e na brisa leve que acariciava as flores. O aroma fresco da natureza parecia embalar os seus pensamentos, quando, de repente, o rangido suave do portão a despertou. Ela tinha ido até ali para ficar sozinha um pouco, queria poder ao menos derramar algumas lágrimas sem que seu filho ou os outros vissem. Tinha poucos dias que Haruki tinha partido e para Mei aquilo era a pior parte, a solidão. Vito aproximava-se com passos tranquilos, equilibrando com destreza uma bandeja de madeira onde repousavam duas Xicaras fumegantes. Sentou-se ao lado dela com um sorriso discreto, mas acolhedor. Ele podia ver os olhos de Mei vermelhos, mas não fez nenhum comentário sobre o assunto. — Sempre gostei de preparar chá — disse ele, entregando-lhe uma das Xícara com um gesto gentil. — Fazia isso quase todas as tardes... para mim e para a minha filha. É uma das coisas que mais sinto falta. As palavras de Vito pairaram no ar, doces e melancólicas, como o próprio aroma do chá. Mei ergueu os olhos e observou-o com mais atenção. Ele era um homem alto, de cabelos loiros que começavam a ser tomados por delicados fios grisalhos, um detalhe que, longe de diminuir a sua beleza, conferia-lhe uma dignidade serena e madura. Os seus olhos, de um azul intenso, pareciam conter histórias profundas, e o corpo, esguio mas bem definido, revelava uma vitalidade preservada com o tempo. Mei sorriu, sentindo-se inexplicavelmente confortável naquela presença. Quando percebeu para onde os seus pensamentos iam se repreendeu por aquilo, seu marido tinha acabado de falecer e ela não mancharia a sua memória daquela forma. — Deve ter sido muito especial — comentou ela, envolvendo a Xícara com as mãos para aquecer os dedos. Vito assentiu, com um olhar que misturava saudade e ternura. Ele sentia falta de suas tardes com Isabel, ela tinha sido seu raio de sol por tanto tempo que ele havia ficado perdido por algum tempo quando ela tinha se casado. Para Vito perder Isabel era diferente de perder Estela, pois quando encontrou as filhas Estela já estava casada e muito bem. Ele conhecia bem Ricardo e sabia que ele jamais permitiria que alguém tirasse Estela do seu lado, mas Isabel era diferente, ela tinha sido sua companhia por algum tempo, e ele sentia falta das suas risadas e conversas. — A família sempre foi o meu refúgio… e também a minha maior saudade. — Diz Mei ao se lembrar dos raros momentos de paz que eles haviam tido enquanto Hideo era pequeno. — Ela ainda será senhora Shinoda. Daqui a algum tempo vai vir os netos e você vai ter dias agitados pela frente. — Diz ele deixando escapar uma gargalhada que deixa Mei encantada. — Me chame de Mei, Don Vito. — Diz ela. — Chamo se me chamar apenas de Vito. Estamos em família e não a formalidades entre a família. — Diz ele de forma suave. — Você está certo... Vito. — Diz ela com um sorriso triste nos lábios. Vito sente um arrepio subir por seu corpo ao ouvir o seu nome deixando os lábios pequenos de Mei. Ele a observa com atenção. Ela era pequena, lábios rosados e olhos castanhos. Tinha um cabelo n***o que chegava até para baixo da sua cintura. Ele olhava encantado para ela, uma verdadeira deusa disfarçada de mortal. Vito leva um susto ao perceber a forma que olhava para a mulher a sua frente. Ele se recrimina mentalmente por aqueles pensamentos se sentindo um canalha. Na mesma hora, imagens do seu único amor enchem a sua mente, mas diante do que ele tinha percebido ele via que o sentimento bom e familiar já não estava mais lá, mas quando o seu olhar se volta para Mei, ele sente o seu coração disparar de uma forma que ele tinha sentido apenas uma vez na sua vida. — Pelo jeito que fala deve ser um avô coruja. — Responde Mei. — Sou, os meus netos são meus tesouros mais raros, e agora a Antonela descobriu como manipular esse avô, estou perdido. — Diz ele com um suspiro, mas para sua surpresa a risada de Mei enche o jardim. Vito se pega cativo daquele som tão doce e cristalino, o seu coração se enchendo de uma emoção indescritível. — Ela deve ser muito esperta para ter descobrido um jeito de fazer isso. — Diz Mei parando de rir. Vito volta a si rapidamente. — Ela puxou ao pai, Ricardo não construiu o império que tem sem a sua inteligência, e ao que parece Antonela tem toda a personalidade do pai. — Vito se sentia orgulhoso de falar sobre a neta que a cada dia se desenvolvia com rapidez, ele apenas temia a perder mais rápido a medida que ela ficava mais esperta. — Sempre tinha tido curiosidade para saber quem eram as pessoas que Hideo tanto gostava. Me lembro de algumas vezes que ele deixava tudo para ir até a Fênix, agora eu entendo bem o que ele estava atrás. — Diz ela com um sorriso triste no rosto. — Hideo é um bom garoto Mei, e vai dar muitas alegrias para você ainda, e para a Fênix, ele é da família e o respeitamos muito. — Diz Vito tocando a mão dela com delicadeza. — Acho que ele estava apenas atrás de uma família. — Dizer aquilo lhe doía muito, mas Mei não era sega para perceber as coisas, ela havia visto a forma que o filho olhava para os amigos, ele tinha um brilho nos olhos que ela jamais tinha visto enquanto ele estava em casa. — Ele já tem Mei, sei que aquele garoto colocaria fogo no mundo por você. — Responde Vito com tranquilidade. A conversa fluiu de forma natural, leve e animada, como se ambos se conhecessem há anos. Partilharam histórias, falaram sobre tradições familiares, sobre a infância de Vito e as pequenas alegrias cotidianas. Mei ouvia-o com interesse crescente, surpreendendo-se ao perceber como gostava da sua companhia. Ele fazia-a rir com as suas recordações e, ao mesmo tempo, emocionava-a com a sinceridade dos sentimentos. Quando o sol começou a se esconder por detrás das árvores, tingindo o céu com tons de rosa e dourado, Mei deu-se conta de que não queria que aquele momento terminasse. Vito, por sua vez, parecia igualmente à vontade, como se aquele chá partilhado no jardim fosse, para ambos, mais do que uma simples pausa na tarde — era o início de uma nova cumplicidade.
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