Hideo havia tido uma noite infernal; ele não pensava que ficar sem Sayuri pudesse ser tão desconfortável, mas era. Agora ele entendia bem o fato de seus amigos não gostarem de ficar longe de casa. Ele se levantou e se arrumou — precisava falar com Jin sobre as coisas que tinham acontecido. Seu amigo ainda estava no escuro e ele precisava vê-lo. Já imaginava a bronca que levaria dele, mas, daquela vez, não tinha para onde fugir.
Hideo parou diante do portão da mansão. Respirou fundo, o coração batendo acelerado, não só pela ansiedade de rever Jin, mas também pelo pensamento insistente em Sayuri. Ela tinha voltado na noite anterior, e a ideia de que estavam tão próximos novamente fazia o peito apertar e, ao mesmo tempo, aquecer.
Empurrou o portão, que rangeu suavemente, e atravessou o pequeno jardim até a porta, onde bateu três vezes. Antes que pudesse chamar, a voz rouca e inconfundível de Jin soou do interior:
— Entra logo, Hideo. Sei que é você! — gritou ele.
Hideo abriu a porta, confuso com a tranquilidade do amigo em estar em outra casa.
Hideo sorriu involuntariamente e empurrou a porta, entrando na sala. Jin estava sentado no sofá, a perna esticada sobre uma almofada e o braço ainda enfaixado, mas com aquele olhar irônico que lhe era tão característico.
— Finalmente resolveu aparecer… — Jin começou, cruzando os braços, o tom entre a provocação e a mágoa. — Pensei que tinha se esquecido do seu braço direito.
Hideo aproximou-se, sentando-se na poltrona à frente dele, o olhar cabisbaixo.
— Eu sei… falhei com você. Não devia ter demorado tanto.
— Não precisa dizer isso, eu que falhei com você — respondeu ele. — Lamento não ter estado lá com você.
— Você estava todo quebrado, Jin. Não tinha como participar do enterro do meu pai — disse Hideo de forma tranquila.
— Se tivesse pedido, eu teria ido, mesmo que tivessem que arrastar a minha cama até lá — disse ele, arrancando um sorriso do amigo.
— Eu sei que teria, e isso já é o suficiente para mim. Preciso agora que fique bem; vou precisar do meu padrinho inteiro — disse ele, fazendo os olhos de Jin se arregalarem.
— Então quer dizer que...
— Sim, vou me casar com a Sayuri. O nosso noivado é no próximo mês e preciso de você inteiro.
— Eu não perco isso por nada. Finalmente você vai desencalhar — disse ele, rindo.
— Acho que está na hora de parar de fugir dela — disse Hideo, com um suspiro. Ao lembrar de tudo o que tinha feito para ficar longe de Sayuri, ele se sentia um t**o.
Jin bufou, mas o brilho nos olhos mostrava o quanto ele estava feliz pelo amigo.
— Está mesmo com cara de quem andou fugindo… ou melhor, de quem está apaixonado — soltou, em meio a um sorriso.
Hideo desviou o olhar, os pensamentos imediatamente voando até Sayuri. Jin estava jogando com ele e ele podia ver aquilo.
— Ela voltou ontem… — murmurou, sem conseguir esconder.
Jin arqueou uma sobrancelha, mas não perdeu tempo com provocações dessa vez.
— Fala sério! Ficou um dia sem ela e já está chorando — respondeu ele, rindo da cara de Hideo. — Jamais vou esquecer dessa sua cara em toda a minha vida.
Hideo observava Jin, sem acreditar que seu amigo estava rindo de sua cara de forma tão descarada.
— Cadê seu respeito com o seu Don? — disse ele, com a sobrancelha arqueada.
— Foi m*l, sua majestade. Mas os anos de amizade me permitem rir da sua cara — respondeu ele, na maior cara de p*u.
Jin observou Hideo com cautela depois que parou de rir. Ele gostava daquelas conversas leves, mas queria ter certeza de que seu amigo estava bem.
— Você realmente está bem, Hideo? Sabe que estou aqui para o que precisar — disse ele, mantendo um tom mais sério.
— Eu estou, Jin. Não vou dizer pra você que não fiquei abalado, mas você sabe bem a relação que tínhamos: jamais ficaríamos bem um com o outro.
Aquilo era uma verdade dolorosa, mas Jin sabia que, ainda assim, era a verdade. Hideo e o pai eram como água e óleo: não se misturavam. E isso não era apenas na vida familiar, mas nos negócios também. O destino dos dois era estar em lados opostos.
— Você tem a nós, Hideo. Jamais vai estar sozinho — disse Jin, lhe oferecendo a mão.
Hideo se inclinou e pegou a mão de Jin, enquanto ele o puxava para um abraço.
— Obrigado. Sei que posso contar com você, e agora vou precisar muito da sua ajuda — disse Hideo, soltando-o.
Jin encarou o olhar sério do amigo, percebendo que algo não estava bem.
— O que houve? — perguntou, já temendo a resposta.
Hideo se sentou e começou a contar o que tinham descoberto para Jin. A cada nova informação, os olhos dele se escureciam por não ter estado lá para seu amigo e agora líder.
— Droga! Se ao menos eu não estivesse assim… — disse ele, chateado, mostrando a perna e o braço sobre as almofadas.
— Você estava se recuperando, e os seus ferimentos foram mais graves que os meus. Não podia te envolver nisso — disse Hideo, tranquilizando-o um pouco.
Jin suspirou pesadamente. Hideo estava certo, e ele não podia fazer nada sobre aquilo, mas ainda poderia ajudar.
— Avise a Sayuri que vou ajudar com a investigação. Posso ficar com a equipe dela enquanto os outros fazem as buscas nas ruas — disse ele, com os olhos brilhando.
— Vou ver com ela e depois te falo — disse Hideo, piscando para ele, enquanto subia as escadas em direção ao quarto de Sayuri. De longe, ele ouvia o resmungar de Jin.
Hideo correu até o quarto de Sayuri, a saudade correndo forte em suas veias. Ele só queria tomá-la em seus braços e apertá-la forte contra seu corpo. Ele abriu a porta lentamente, estranhando o fato de ela ainda estar na cama àquelas horas. Hideo fechou a porta atrás de si e retirou os sapatos para não fazer barulho; lentamente, ele caminhou até ela.