Fênix VI - Hideo

Capítulo 64

Ricardo estava no meio de um interrogatório quando recebeu uma ligação um tanto inusitada. Ele jamais pensou que o pai de Sayuri lhe telefonaria, mas foi exatamente isso que aconteceu.

— Que cara é essa, chefe? — pergunta Nico, ao entrar no carro.

— Alguém que eu não esperava me ligou — diz ele, pensativo.

— Problemas?

— Talvez, mas só vamos descobrir quando investigarmos — diz ele, com um suspiro. Se havia algo que Ricardo odiava, era ficar longe da sua família — ainda mais agora que o seu pequeno estava crescendo tão rápido.

— E para onde vamos desta vez? — pergunta Nico.

— Japão — diz ele com um sorriso de canto.

— Merda! Se vamos para o Japão, não deve ser coisa boa — diz Nico, enquanto arranca com o carro.

Durante o percurso, Ricardo informa aos outros que o esperem em casa. E, para sua sorte, o seu pessoal estava todo no complexo, o que facilitaria o seu trabalho. Assim que entra pela porta, encontra o olhar apreensivo de todos sobre ele.

— O que houve, chefe? — pergunta Síria.

— Vamos para o Japão ainda hoje. Recebi uma ligação e preciso investigar algo — responde ele.

— O que vamos fazer lá, exatamente? — pergunta Charles.

— Tem a ver com a noiva de Hideo, e ele é da família. Não podemos permitir que nada aconteça a ela — diz ele simplesmente.

— Isso significa que ele aceitou finalmente o casamento? — pergunta Nico, segurando o riso.

— Não, mas, pelo que já vi dela, ele não vai ter outra escolha — responde Ricardo com um sorriso de canto.

Ricardo conhecia o suficiente de Sayuri para saber que ela jamais deixaria Hideo ir embora facilmente. No início, ela havia insistido várias vezes com ele para saber sobre Hideo. Diante da insistência dela, ele cedeu — é claro, depois de fazer uma pesquisa adequada sobre ela e a sua família. O que descobriu o deixou impressionado — algo que Ricardo percebia que Hideo não sabia.

— Isso vai ser muito divertido — diz Charles com um largo sorriso.

— Vou cuidar dos procedimentos de embarque, chefe. Acredito que, em meia hora, estará tudo pronto — diz Alícia.

— Faça isso, Alícia. Tenho pressa. — Ricardo não precisava dizer o motivo para Alícia saber. Todos ali sabiam o quanto ele valorizava a sua família.

— E quanto aos outros? — pergunta Klaus.

— Vou mandar uma mensagem avisando-os. Nos encontraremos lá — diz ele, já saindo.

Rapidamente, eles se arrumam. Ricardo não queria correr nenhum risco em relação a Sayuri, então, quanto mais rápido chegassem ao Japão, mais rápido lidariam com tudo o que estava acontecendo.

Meia hora depois, encontram-se na pista do complexo. O jato decola rapidamente. O caminho era longo e seria cansativo, então não podiam perder mais tempo.

O voo foi exaustivo, e eles respiram aliviados ao pousar finalmente numa pista particular que pertencia à família Matsumoto. Assim que descem do jato, Ricardo encara o rosto de Yuki com apreensão.

— O senhor deve ser Ricardo Algustini. Eu sou Yuki Matsumoto — diz ele, fazendo uma pequena reverência antes de estender a mão a Ricardo.

Ricardo observa bem o rosto de Yuki, então dá um passo à frente e aperta a sua mão.

— Confesso que esperava uma ligação de Sayuri, não do seu pai — diz Ricardo, sem esconder o descontentamento na voz. Para ele, o seu contato pessoal era algo transmitido apenas a alguém de confiança. Ele confiava em Sayuri, mas a família dela era algo totalmente diferente.

— Peço perdão por isso, senhor Algustini, mas minha irmã não teve muita escolha quanto a isso. Não leve esse assunto para o lado pessoal — diz ele.

— Isso eu vou decidir quando a vir pessoalmente. — Ricardo não se deixaria levar pelas palavras de Yuki. Em seu mundo, todos diziam palavras bonitas, mas poucos eram de confiança. Então, a menos que visse Sayuri e constatasse que ela estava segura, ele não cederia.

— Claro. Me acompanhem, por favor — pede ele, guiando-os até os vários carros estacionados ali.

Eles entram nos carros e partem em direção à mansão da família Matsumoto. O silêncio era preenchido apenas pelo som do motor do carro que rugia pelas ruas da cidade. Ricardo observava tudo com apreensão, sem se descuidar do que estava à sua volta.

Eles chegam à mansão em poucos minutos. Assim que descem do carro, encontram o pai de Sayuri os esperando na porta da mansão. Ricardo caminha lentamente até o homem, o seu rosto uma máscara que não transmitia nada.

— É uma honra recebê-los em minha casa, senhor Algustini — diz Kyota, fazendo uma reverência.

— Você não me deu muita escolha quanto a isso — diz ele, fuzilando o homem com o olhar. — Onde ela está?

— Me acompanhe que o levarei até ela — diz Kyota. Ele observava a expressão fria de Ricardo com apreensão e, vendo a forma como ele lidava com as pessoas à sua volta, Kyota percebia por que ele tinha a fama que corria no submundo.

No momento em que a porta se abre, a primeira coisa que Ricardo ouve é o som da voz de alguém que ele conhecia muito bem, numa risada estridente.

— Tá atrasado — diz Aurélio, jogando uma almofada em Ricardo.

— Não me surpreende que você já esteja aqui — diz ele, pegando a almofada e jogando de volta.

Yuki e Kyota observam, em choque, a expressão de Ricardo mudar. Há poucos segundos, o homem estava prestes a declarar guerra a eles por causa de sua ligação, mas agora sorria calorosamente para o homem sentado no sofá.

— Isso é porque o meu piloto é melhor que o seu — diz Aurélio, provocando-o.

Ricardo apenas o ignora, os seus olhos percorrendo as pessoas na sala. Quando avista Matteo, um sorriso curva os seus lábios.

— Se soubesse que estava aqui, não teria vindo com tanta pressa — diz ele, com um sorriso de canto.

— Não podia deixar a minha princesa correndo riscos — diz ele, levantando-se e indo até Ricardo, dando-lhe um abraço. — Já faz bastante tempo.

— Sim, mas, pelo que vejo, você continua vivo — Matteo ri com as palavras de Ricardo.

— Tenho sete vidas, homem. Não é qualquer coisa que pode me matar.

— Talvez essa sua arrogância te mate — diz Ricardo, com a sobrancelha arqueada. Matteo apenas ri das palavras de Ricardo. Os outros observavam a conversa deles sem entender nada.