Capítulo 65

1011 Words
O ambiente na sala estava menos tenso, mas a curiosidade pairava no ar como fumaça espessa. Os olhares se voltavam para Ricardo, ainda intrigados com a sua relação tão informal com Matteo, alguém que, para os outros, era apenas mais um nome do submundo. — Chefe — disse Nico, quebrando o silêncio. — Nunca nos contou que era amigo do Matteo. Pensávamos que ele era só mais um contato suspeito no radar. Ricardo ergueu uma sobrancelha, mas manteve o tom calmo. Ele tinha mais conexões do que podia contar, e Matteo era apenas mais uma que havia esquecido de mencionar. — Matteo não é só um contato, é alguém que tem a minha amizade. Trabalhamos juntos anos atrás, quando fechei um acordo com os mexicanos. Ele era minha ponte direta com eles — explicou. — Era o único em quem eu confiava naquela parte do mundo. E, acreditem, a confiança ali vale mais do que ouro. — Então aquele velho rumor era verdade... — murmurou Alícia. — Vocês tinham mesmo um pacto com os cartéis? — Sim, mas era uma aliança estratégica, não uma amizade cega. Eu lidava com negócios, e Matteo cuidava para que as coisas não saíssem do controle. Nunca passamos do limite — respondeu Ricardo, sério. — E como isso terminou? — perguntou Síria, cruzando os braços. — Com sangue, como tudo nesse mundo. Mas Matteo e eu saímos limpos. Por isso confio nele até hoje. A conversa foi encerrada com um aceno breve de Ricardo, que se levantou em seguida. O seu olhar procurava algo — ou alguém. Quando encontrou os olhos de Sayuri, mais afastada, conversando com Oksana, suspirou de forma audível. Ele caminhou até ela com passos largos. Sayuri, assim que o viu, ergueu-se com um sorriso calmo. — Achei que demoraria mais — disse ela. Ricardo a observou atentamente, avaliando cada gesto, cada expressão. Aproximou-se e segurou as suas mãos por alguns segundos, como se procurasse algo mais do que palavras poderiam oferecer. — Está mesmo bem? — perguntou, em voz baixa. — Estou. Só um pouco confusa com tudo isso — respondeu ela. — Mas estou segura. E isso já é muito. Ricardo assentiu, aliviado. O peso nos ombros parecia ter diminuído, mas não desaparecido. Soltou as mãos dela com delicadeza. — Agora quero saber. Por que me chamaram com tanta urgência? — perguntou, firme. Sayuri suspirou e fez um sinal para que ele se sentasse em um dos sofás. — Há algo acontecendo que pensamos ser maior do que aparenta, mas não temos provas — disse ela, séria. — Minha família acredita que eu possa estar em risco por causa de uma tentativa de me drogar que sofri algum tempo atrás. Ricardo sentiu o alerta em seu instinto. Aquilo estava longe de ser apenas uma visita para uma simples ajuda; nunca era quando dizia respeito aos seus amigos. — Preciso saber de tudo o que vocês sabem — disse ele, olhando para eles com atenção. — Sim, vou contar — respondeu Lyo. — Eu estava sofrendo algumas perseguições por uma pessoa, nada sério, apenas verbal, até o dia em que ela tentou me drogar em uma festa. Depois disso, ela acabou sendo sequestrada. Os olhos de Sayuri se voltaram e travaram em Matteo, que estava sentado de forma tranquila em seu lugar. — Faço o que é preciso, princesa. Ninguém mexe com os meus. Ela tinha que me agradecer por poupar a sua vida — disse ele com olhos sombrios. — Você é terrível, Matteo — disse ela, balançando a cabeça. — Não, apenas fiz o meu dever de casa de forma certa — disse ele com uma piscadela para ela. — Cara, eu dava tudo para ver a cara do j**a agora — disse Aurélio, caindo na risada sem nenhum pudor. — Ignore eles — disse Ricardo. — Depois do que ela sofreu, alguém mandou matá-la no hospital. Tanto ela quanto o pai dela foram assassinados. Então pensamos que, como ela tinha envolvimento com uma certa pessoa, ele poderia estar atrás de mim também. — Quem? — perguntou Ricardo. — Masato — respondeu ela. — Espera, espere! — disse Oksana, se levantando e indo até eles. — Você disse Masato? — Sim. Por quê? — Então temos problemas, e não são dos pequenos — disse Oksana, já pegando o seu telefone. — Vai ligar para quem? — perguntou Aurélio. — Para o Hideo. Sei o que está acontecendo — disse ela, mordendo os lábios enquanto batia os pés no chão com pressa. Após alguns segundos, a voz de Hideo encheu a linha. — Olá, princesinha — disse ele de forma humorada. — Venha para a casa de Sayuri agora, Hideo. É importante. — O que houve? — perguntou ele, apreensivo. — Vai descobrir assim que chegar. Seja rápido. — Estou indo — disse ele, desligando. — Assim que ele chegar, explico tudo a vocês. Os minutos se arrastaram enquanto eles aguardavam que Hideo chegasse. Quando o som de pneus cantando parou em frente à mansão, eles sabiam que era Hideo chegando. Ele abriu a porta e entrou com tudo. Ao chegar na sala, os seus olhos escanearam todos ali até encontrar os de Sayuri. Então, respirou aliviado. — Não devia estar aqui com essa barriga — disse ele, indo até Oksana e ajudando-a a se sentar no sofá. — Meu cavalheiro — disse ela, rindo. — Tira a pata — disse Aurélio, dando um tapa na mão dele e se sentando ao lado de Oksana. — Sempre ciumento — disse Hideo, com um sorriso de canto. — E você, sempre abusado — respondeu Aurélio. — Esqueça esses dois, Oksana. Continue — disse Ricardo. — Desculpe por isso, Ricardo. Fiquei preocupado — disse Hideo, indo até ele e lhe dando um abraço. — Está tudo bem. — Ótimo. Agora que ele está aqui, posso continuar — disse Oksana, voltando-se para eles. — Alguns aqui sabem que tanto eu quanto Hideo temos lutado contra o tráfico humano há algum tempo, e depois do que Sayuri nos disse, acho que podemos estar em risco.
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