O ambiente na sala estava menos tenso, mas a curiosidade pairava no ar como fumaça espessa. Os olhares se voltavam para Ricardo, ainda intrigados com a sua relação tão informal com Matteo, alguém que, para os outros, era apenas mais um nome do submundo.
— Chefe — disse Nico, quebrando o silêncio. — Nunca nos contou que era amigo do Matteo. Pensávamos que ele era só mais um contato suspeito no radar.
Ricardo ergueu uma sobrancelha, mas manteve o tom calmo. Ele tinha mais conexões do que podia contar, e Matteo era apenas mais uma que havia esquecido de mencionar.
— Matteo não é só um contato, é alguém que tem a minha amizade. Trabalhamos juntos anos atrás, quando fechei um acordo com os mexicanos. Ele era minha ponte direta com eles — explicou. — Era o único em quem eu confiava naquela parte do mundo. E, acreditem, a confiança ali vale mais do que ouro.
— Então aquele velho rumor era verdade... — murmurou Alícia. — Vocês tinham mesmo um pacto com os cartéis?
— Sim, mas era uma aliança estratégica, não uma amizade cega. Eu lidava com negócios, e Matteo cuidava para que as coisas não saíssem do controle. Nunca passamos do limite — respondeu Ricardo, sério.
— E como isso terminou? — perguntou Síria, cruzando os braços.
— Com sangue, como tudo nesse mundo. Mas Matteo e eu saímos limpos. Por isso confio nele até hoje.
A conversa foi encerrada com um aceno breve de Ricardo, que se levantou em seguida. O seu olhar procurava algo — ou alguém. Quando encontrou os olhos de Sayuri, mais afastada, conversando com Oksana, suspirou de forma audível. Ele caminhou até ela com passos largos. Sayuri, assim que o viu, ergueu-se com um sorriso calmo.
— Achei que demoraria mais — disse ela.
Ricardo a observou atentamente, avaliando cada gesto, cada expressão. Aproximou-se e segurou as suas mãos por alguns segundos, como se procurasse algo mais do que palavras poderiam oferecer.
— Está mesmo bem? — perguntou, em voz baixa.
— Estou. Só um pouco confusa com tudo isso — respondeu ela. — Mas estou segura. E isso já é muito.
Ricardo assentiu, aliviado. O peso nos ombros parecia ter diminuído, mas não desaparecido. Soltou as mãos dela com delicadeza.
— Agora quero saber. Por que me chamaram com tanta urgência? — perguntou, firme.
Sayuri suspirou e fez um sinal para que ele se sentasse em um dos sofás.
— Há algo acontecendo que pensamos ser maior do que aparenta, mas não temos provas — disse ela, séria. — Minha família acredita que eu possa estar em risco por causa de uma tentativa de me drogar que sofri algum tempo atrás.
Ricardo sentiu o alerta em seu instinto. Aquilo estava longe de ser apenas uma visita para uma simples ajuda; nunca era quando dizia respeito aos seus amigos.
— Preciso saber de tudo o que vocês sabem — disse ele, olhando para eles com atenção.
— Sim, vou contar — respondeu Lyo. — Eu estava sofrendo algumas perseguições por uma pessoa, nada sério, apenas verbal, até o dia em que ela tentou me drogar em uma festa. Depois disso, ela acabou sendo sequestrada.
Os olhos de Sayuri se voltaram e travaram em Matteo, que estava sentado de forma tranquila em seu lugar.
— Faço o que é preciso, princesa. Ninguém mexe com os meus. Ela tinha que me agradecer por poupar a sua vida — disse ele com olhos sombrios.
— Você é terrível, Matteo — disse ela, balançando a cabeça.
— Não, apenas fiz o meu dever de casa de forma certa — disse ele com uma piscadela para ela.
— Cara, eu dava tudo para ver a cara do j**a agora — disse Aurélio, caindo na risada sem nenhum pudor.
— Ignore eles — disse Ricardo.
— Depois do que ela sofreu, alguém mandou matá-la no hospital. Tanto ela quanto o pai dela foram assassinados. Então pensamos que, como ela tinha envolvimento com uma certa pessoa, ele poderia estar atrás de mim também.
— Quem? — perguntou Ricardo.
— Masato — respondeu ela.
— Espera, espere! — disse Oksana, se levantando e indo até eles. — Você disse Masato?
— Sim. Por quê?
— Então temos problemas, e não são dos pequenos — disse Oksana, já pegando o seu telefone.
— Vai ligar para quem? — perguntou Aurélio.
— Para o Hideo. Sei o que está acontecendo — disse ela, mordendo os lábios enquanto batia os pés no chão com pressa.
Após alguns segundos, a voz de Hideo encheu a linha.
— Olá, princesinha — disse ele de forma humorada.
— Venha para a casa de Sayuri agora, Hideo. É importante.
— O que houve? — perguntou ele, apreensivo.
— Vai descobrir assim que chegar. Seja rápido.
— Estou indo — disse ele, desligando.
— Assim que ele chegar, explico tudo a vocês.
Os minutos se arrastaram enquanto eles aguardavam que Hideo chegasse. Quando o som de pneus cantando parou em frente à mansão, eles sabiam que era Hideo chegando. Ele abriu a porta e entrou com tudo. Ao chegar na sala, os seus olhos escanearam todos ali até encontrar os de Sayuri. Então, respirou aliviado.
— Não devia estar aqui com essa barriga — disse ele, indo até Oksana e ajudando-a a se sentar no sofá.
— Meu cavalheiro — disse ela, rindo.
— Tira a pata — disse Aurélio, dando um tapa na mão dele e se sentando ao lado de Oksana.
— Sempre ciumento — disse Hideo, com um sorriso de canto.
— E você, sempre abusado — respondeu Aurélio.
— Esqueça esses dois, Oksana. Continue — disse Ricardo.
— Desculpe por isso, Ricardo. Fiquei preocupado — disse Hideo, indo até ele e lhe dando um abraço.
— Está tudo bem.
— Ótimo. Agora que ele está aqui, posso continuar — disse Oksana, voltando-se para eles. — Alguns aqui sabem que tanto eu quanto Hideo temos lutado contra o tráfico humano há algum tempo, e depois do que Sayuri nos disse, acho que podemos estar em risco.