Capítulo 59

1016 Words
A vibração seca do telefone tirou Hideo dos seus pensamentos. Ele não hesitou. Desbloqueou com um gesto automático e leu a mensagem que mudaria o rumo da noite: "Senhorita Sayuri avistada no cinema, centro. Está com Matteo." O nome dele acendeu algo dentro de Hideo. Um incêndio de raiva, ciúmes, frustração — mas também, inesperadamente, uma fagulha de dívida. Ele apertou o telefone entre os dedos, o maxilar tenso como se segurasse as palavras que não queria dizer. — Encontraram ela. — disse seco, levantando-se num impulso. — Vamos. Jin o seguiu sem fazer perguntas. Sabia que, naquela hora, a única coisa que o amigo precisava era chegar até Sayuri, e pela forma que ele estava o melhor a se fazer era o deixar quieto. O cinema tinha uma fachada elegante, com luzes de néon que contrastavam com a escuridão emocional de Hideo. Ele estacionou a uma curta distância e desceu do carro com os olhos afiados como lâminas, os punhos cerrados. Os seus olhos escaneando todo a sua volta, mas o que ele via era apenas os soldados da família Matsumoto em alguns cantos. — Vamos esperar aqui — disse ele a Jin, encostando-se à parede da entrada. — Não quero que ela me veja... ainda. O tempo passou devagar. Hideo ficava mais apreensivo a cada segundo que passava. Até que a porta se abriu. Matteo saiu primeiro — imponente, calmo, como sempre —, carregando Sayuri nos braços com uma delicadeza quase ofensiva. Ela dormia, ou desmaiara, ele não sabia. Mas aquilo foi o bastante para o sangue de Hideo ferver. Ele avançou rápido parando a frente de Matteo o impedindo de continuar. — Solte-a. Eu cuido da minha noiva. — Sua voz saiu firme, seca, possessiva. Matteo parou, olhou-o de cima a baixo, um sorriso irônico dançando nos lábios. Ele podia ver que Hideo se corroia de ciumes de sua presença com Sayuri. — “Sua noiva”? Engraçado... Estava difícil encontrá-lo quando ela mais precisou. — O tom era provocativo, quase sádico. E a cada palpavra que deixava seus labios Hideo se remoia por dentro. Hideo respirou fundo. Queria esmurrá-lo. Mas sabia que não podia. Não agora. Esticou os braços e pegou Sayuri com cuidado dos braços de Matteo. — Não vou discutir contigo. Só... obrigado. Por ter cuidado dela. Matteo arqueou uma sobrancelha, intrigado com a humildade forçada. Ele não esperava aquilo de Hideo. — Um agradecimento vindo de você? Que dia raro. Vou anotar isso. — Ele inclinou-se para perto de Hideo e disse em voz baixa: — Ela merece mais do que só promessas, Hideo. Se não vai protegê-la... alguém o fará. Hideo travou os dentes. Jin, ao lado, apertou o ombro do amigo, como se dissesse “não agora”. — Eu sei o que ela merece. — retrucou, a voz carregada de ciúmes contidos. — E vou dar isso a ela. Com ou sem a sua sombra por perto. Matteo riu, baixo. Aos seus olhos, Hideo começava a mudar. — Então cuide bem dela. Porque da próxima vez... posso não estar para salvá-la. Eles se encararam por um instante que pareceu eterno — um duelo silencioso de olhares, intenções e feridas abertas. Hideo virou-se, levando Sayuri nos braços. Os seus passos eram firmes, mas dentro dele tudo tremia. Matteo, por sua vez, observava em silêncio, o sorriso desaparecendo lentamente enquanto os dois se afastavam na noite. Hideo se senta no banco de tras com Sayuri em seus braços, Jin assume o volente e eles partem. — Para onde Hideo? — Pergunta ele. — Para o meu apartamento. — Responde ele. Os olhos de Hideo estavam fixos no rosto sereno de Sayuri, sem poder se segurar, a sua mão desliza pela face dela com delicadeza. Ele estava deslumbrado com a sua beleza, a sua pele pálida levemente corada. Ela era um verdadeiro tesouro, e a sua mente o recriminava naquele momento por nunca ter percebido aquilo antes. Os lábios pequenos de Sayuri o faziam viajar no beijo que eles tinham trocado, era como se ele ainda pudesse sentir o gosto dela na sua boca, e aquilo era algo que ele gostaria de repetir. No momento em que o carro para em sua garagem ele pega Sayuri nos seus braços com cuidado, ela nem ao menos desperta apenas se agarra mais a ele enquanto esfregava o rosto no seu peito. Hideo sorri com o comportamento dela, pensando que se ela estivesse acordada não estaria fazendo aquilo. Assim que a porta do elevador se abre Jin passa na frente abrindo a porta do apartamento. — Vejo você amanhã chefe, me ligue se precisar de algo. — Obrigado. — Diz Hideo a ele passando pela porta. Jin a fecha e parte em silêncio, ele não ficaria no caminho do seu amigo naquele momento. Com cuidado Hideo deita Sayuri na sua cama, ele retira os seus sapatos com cuidado e a cobre. Uma sensação nova tomava o seu corpo ao fazer aquilo. Ele queria poder fazer aquilo por ela mais vezes, queria poder ver como ela dormia confortável nos seus braços, e a cima de tudo, segura. Aqueles desejos não existiam nele a dias atrás e se os seus amigos o visem daquela forma pegariam no seu pé por um bom tempo. Hideo ri ao pensar no buquê que ele havia pegado sem querer no casamento de Max. Vendo o quanto ele se importava com Sayuri ele pensava que talvez o buquê estivesse mesmo certo, apenas talvez. A sua frente Sayuri se remexe na cama e quando encontra o seu braço ela o puxa mais para si. Desistindo Hideo se deixa ser puxado por ela e se deita ao seu lado. Sayuri se enrosca nele como se aquilo fosse a coisa mais normal entre eles, e o seu peito se enche de alegria e paz. Algo que ele não desfrutava há muito tempo. Hideo envolve os seus braços a volta dela e lhe dá um beijo em sua testa, um sorriso curva os seus lábios ao pensar na cara que Sayuri faria ao acordar e o pegar ao seu lado.
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