Hideo olhava a foto no seu telefone, corroído de ódio. Ele se recusava a acreditar que Sayuri tinha feito aquilo com ele. E o que era ainda mais louco é que ele não queria nada com ela — ou era o que pensava.
Jin observava o estresse do seu amigo com cautela. Nunca tinha visto Hideo daquela forma, e aquilo o assustava. Era como se o seu amigo tivesse se transformado completamente, e a pessoa diante dele fosse um completo estranho.
— Você está me assustando desse jeito — disse Jin.
Os olhos de Hideo encararam os de seu amigo de forma sombria. Um arrepio subiu por sua coluna quando Jin percebeu que Hideo estava literalmente fora de si.
— Tudo bem, não digo mais nada — disse ele, erguendo as mãos em sinal de paz.
— Como ela pôde fazer isso comigo?! — disse Hideo, andando de um lado para o outro. — Sou o noivo dela, e a essa hora todos devem estar rindo da minha cara!
— Tecnicamente, você não é o noivo dela, já que nunca fizeram a cerimônia de noivado — disse Jin, dando de ombros, mas quando observou a raiva queimar no rosto de Hideo, se arrependeu na mesma hora. — Olha, eu quero chegar vivo amanhã, viu.
Com um suspiro e um praguejar baixo, Hideo se deixou cair no sofá, chateado. Ele não podia culpar Jin por dizer aquilo; era apenas a verdade dos fatos. Nunca tinha visto Sayuri como a sua futura esposa — naquela época, aquilo era algo inconcebível para ele —, mas agora que experimentara como era tê-la nos braços, não queria mais abrir mão dela. E, para conquistar Sayuri, teria que recompensá-la por tudo o que lhe causara ao longo daqueles anos.
— Sei que fiz merda — disse ele.
— Não acredito no que estou ouvindo — disse Jin, surpreso. — Está admitindo que está errado?
— Não me olhe assim, você sabe que assumo os meus erros — respondeu.
Jin apenas sorriu, balançando a cabeça. Ele não iria discutir com Hideo enquanto ele estivesse tão fora de si daquela forma. Pegando o seu telefone, resolveu verificar as mensagens, e uma em especial chamou a sua atenção. Era um relatório sobre os últimos passos de Sayuri, e algo naquilo o intrigou.
— Você não vai acreditar no que os nossos homens descobriram — disse ele, olhando sério para Hideo.
A expressão de Hideo mudou na mesma hora, enquanto observava Jin.
— O que houve? — perguntou, apreensivo.
— Lembra-se do dia do baile? — perguntou Jin.
— Me lembro bem demais — respondeu ele, recordando o seu primeiro beijo com Sayuri.
— Alguém armou para Sayuri naquele dia. — Aquelas palavras fizeram o corpo de Hideo gelar. Mil coisas passavam por sua mente ao pensar que não havia feito o seu trabalho direito.
— Quem? — perguntou com os dentes trincados de raiva, ao imaginar que alguém tentara prejudicar Sayuri.
— Lyo — respondeu.
A mente de Hideo viajou até o dia em que Lyo tinha desafiado Sayuri em sua casa. Mas aquilo não ficaria daquele jeito. Ele daria um jeito em Lyo de uma vez por todas. Ninguém mexia no que era seu. Sem dizer nada, Hideo se levantou do sofá e pegou as suas chaves.
— Aonde vai, Hideo? — perguntou Jin.
— Dar um jeito naquela c****a de uma vez por todas — disse de forma ríspida. O seu sangue fervia só de imaginar Sayuri sofrendo por causa de uma qualquer como Lyo.
— Não se preocupe, alguém já chegou na sua frente — disse Jin com um sorriso de canto. Ele já temia a tempestade que viria.
— Quem? — perguntou.
— Apenas me prometa que vou sair vivo daqui — disse ele.
— Estou falando sério, Jin. Quem foi que a ajudou? — Aquilo não agradava a Hideo, mas ele sabia que a pessoa que ajudara Sayuri merecia, ao menos, um agradecimento por ter cuidado dela.
— Foi o Matteo — respondeu Jin em voz baixa.
A surpresa dominou o corpo de Hideo, e, naquele momento, ele se viu perdido diante das palavras do amigo. Estava em dívida com a única pessoa a quem não desejava dever nada.
— Que merda! — disse, jogando as chaves contra a parede.
— Quer ouvir toda a história? — perguntou.
— Diga logo, não fique fazendo suspense — disse por fim.
— Ao que parece, Lyo tentou drogar Sayuri naquela noite, mas sua garota é esperta e conseguiu evitar cair no jogo dela. Depois disso, o pessoal do Matteo investigou o que houve, e ele não gostou nada de saber daquilo. Então, mandou sequestrar Lyo e dar uma lição por tentar tocar em Sayuri.
As palavras de Jin eram como punhaladas no peito de Hideo. Ele se sentia um inútil diante daquela informação. O que mais o chateava era não saber de nada sobre ela — mas entendia que aquilo era culpa sua. Nunca desejou se aproximar de Sayuri e simplesmente a julgou m*l desde o começo.
— Onde está Lyo agora? Não vou permitir que ela se livre assim tão fácil disso. Um atentado contra Sayuri é um atentado contra mim — disse ele com olhos sombrios.
— Ela está na UTI do hospital. Múltiplas fraturas, o estado dela é grave. Ao que parece, o Príncipe Escarlate não teve dó dela por ser mulher.
Hideo sorriu com aquilo. Ao que parecia, Matteo estava fazendo jus à fama que tinha. Mas para quem o conhecia sabia que aquilo ainda era pouco perto do que ele realmente podia causar.
— Ele deixou uma ordem para que ela saísse do país. Se retornar, vai dar fim nela. Todos já sabem disso. — Jin estava impressionado com as fotos que os seus homens tinham mandado para o seu telefone. Lyo estava acabada.
— Esse desgraçado está fazendo o meu trabalho — disse Hideo, chateado, em sua cabeça apenas ele poderia cuidar de Sayuri. — Mas estou em dívida com ele. Ao que parece, não vai ser hoje que vou arrancar a cabeça do Matteo.