Sayuri terminou com delicadeza o curativo nas costas de Hideo, os dedos deslizando suavemente pela pele ferida, enquanto ele mantinha o olhar fixo nela, como se aquele simples gesto tivesse o poder de aliviar mais do que apenas a dor física. Ao terminar, ela se levantou, ajeitando a bandagem, pronta para sair do quarto e deixá-lo descansar.
Mas, antes que pudesse dar um passo, Hideo estendeu a mão, segurando levemente o pulso dela.
— Fica… — pediu com a voz rouca, quase um sussurro, como se temesse que, ao falar mais alto, ela desaparecesse.
Sayuri hesitou por um segundo, mas acabou por ceder ao pedido silencioso. Com um sorriso terno, ela ajudou Hideo a se deitar com cuidado, virando-o de barriga para baixo para não ferir ainda mais as costas já marcadas pela dor. Pegou os remédios dele e lhe deu para tomar logo em seguida.
Ela então deitou-se ao lado dele, próxima o suficiente para que ele pudesse sentir a sua presença, mas sem invadir o espaço que a sua recuperação exigia. O outro motivo, era que Sayuri se sentia tentada com a presença dele, ainda mais quando ele parecia tão vulnerável na sua presença.
Num impulso instintivo, Hideo apertou a mão dela com força, como se ela fosse a âncora que o impedia de se perder no abismo da solidão.
— Não me deixes… — murmurou, os olhos fechando-se lentamente, entregando-se ao alívio da promessa dela.
— Eu fico… — respondeu Sayuri, apertando de volta a mão dele com carinho. — Mas vai ter que se comportar.
— Eu... eu vou. — Diz ele com a voz tão baixa que Sayuri teve dificuldades em ouvir.
Hideo sorriu levemente, como quem encontra finalmente um pouco de paz, e assim deixou-se levar para o mundo dos sonhos.
Horas depois, quando os primeiros raios de sol começaram a invadir timidamente o quarto, Hideo despertou. Ainda meio sonolento, virou a cabeça devagar e deparou-se com Sayuri, adormecida ao seu lado. Ela respirava tranquila, o rosto sereno, e os cabelos negros esparramados pelo travesseiro. Para ele era a visão mais adorável que já tinha visto.
Ele permaneceu em silêncio, admirando cada traço dela com devoção, como se aquele momento fosse um raro presente que o destino lhe oferecera. Ela era sua, e ele garantiria que todos naquela cidade soubesse disso em breve.
Pouco tempo depois, Sayuri abriu os olhos lentamente, surpreendendo-se ao encontrar o olhar carinhoso de Hideo fixo nela. Corou ligeiramente, sem saber bem como reagir àquele afeto silencioso. O olhar dele era carregado não apenas de carinho, mas de possessão em relação a ela, era intenso e fazia com que a sua mente ficava em branco.
Num gesto inesperado, Hideo tentou aproximar-se, inclinando-se para lhe dar um beijo. Mas Sayuri, envergonhada, levantou-se rapidamente, afastando-se com um leve rubor nas bochechas. Ela sabia o que aconteceria se ele a tocasse, e ela desejava de mais as mãos dele sobre o seu corpo, então era melhor não correr o risco.
— Vamos descer — disse, evitando o olhar dele.
Hideo soltou uma leve gargalhada abafada, apreciando a timidez dela, e, com esforço, começou a se levantar.
Quando finalmente desceram juntos, encontraram todos já à mesa. Hideo gostava daquilo, de ver a mesa cheia, agora ele entendia por que Ricardo gostava de ter os amigos por perto, era algo acolhedor.
Assim que Aurélio os viu, ele arqueou uma sobrancelha, com um sorriso malicioso no rosto. Gostava de pegar no pé do j**a e não perderia uma oportunidade como aquela.
— Até que enfim! Pensei que tinham decidido passar o dia todo lá em cima… — provocou, arrancando risadas de todos à volta.
Sayuri ficou corada, enquanto Hideo simplesmente se sentou à mesa com um ar tranquilo, como se nada o pudesse abalar. Ele já estava acostumado com as brincadeiras de seus amigos e aquilo não lhe atingia.
— Continua com a boca grande Aurélio. — Diz ele enquanto se servia.
— Alguém tem que animar a turma. — Diz ele dando de ombros.
— Isso você é especialista. Ou se esqueceu que é quem mais tem filhos entre nos. — Diz Nico rindo da cara dele.
— Ele te pegou nessa. — Diz Charles.
O ambiente, apesar das brincadeiras descontraídas, mantinha ainda a sombra discreta do luto, após o funeral do pai de Hideo que ocorrera no dia anterior. Em um canto Mei observava aquela conversa com um sorriso discreto, ela desejava poder ver mais daquele lado de seu filho no futuro.
Enquanto tomavam café, um soldado se aproximou respeitosamente de Hideo, inclinando levemente a cabeça em sinal de reverência.
— Senhor, Mariana ainda está no jardim… De joelhos, conforme as suas ordens. — Diz ele com a voz baixa sem encarar o rosto de Hideo.
Um sorriso discreto, quase c***l, desenhou-se no rosto de Hideo, enquanto se levantava com naturalidade. Ele tinha se esquecido do castigo que tinha dado a amante de seu pai, e esperava que ela tivesse aproveitado bem o seu tempo de joelhos.
— Ótimo. — Diz ele se levantando. — Volto logo.
Sayuri levantou-se ao lado dele, seguindo os seus passos, ela podia ver o quanto Hideo ainda estava abalado com tudo o que tinha acontecido, e queria evitar que ele fizesse uma besteira com a mulher.
Mariana era como um espinho na carne de Hideo, ele sempre a odiou e não apenas por ser amante do seu pai, mas pela forma que ela sempre afrontava a sua mãe aonde fosse.
E juntos caminharam para o jardim, onde de longe eles avistam Mariana de joelhos cercada por alguns soldados. Em outro canto estava o meio irmão de Hideo, Sora. Os soldados permaneciam os vigiando para que ele não interferisse no castigo da mãe.
Mariana estava encolhida no jardim, ela tremia levemente com o frio da manhã, Hideo observava com prazer a forma em que a mulher estava lamentável a sua frente. Aquilo lhe dava um prazer enorme, e para ele não era anda comparado ao que a sua mãe já tinha passado ao longo dos anos sendo humilhada por Mariana.