Sayuri tinha acordado cedo no outro dia, lembranças da sua conversa com Hideo rondando a sua mente. Agora ela entendia, ou tentava entender, o que tinha acontecido. Apenas se lembrar da situação das costas dele a fazia querer marchar até onde Haruki estava e acertar contas com ele. Aquilo não poderia ser algo que um pai faria, não alguém que realmente amasse o seu filho.
— Posso saber que cara é essa, irmã? — pergunta Yuki assim que a vê.
— Estava apenas pensando em algo. — diz ela, servindo-se de um copo de suco.
— Se precisar conversar, estaremos aqui, filha. — diz Hana, segurando a mão de Sayuri com carinho.
— Eu sei, mãe, e agradeço por isso, mas tem algumas coisas que eu preciso fazer sozinha. — Sayuri entendia a preocupação da sua família, mas queria resolver os seus problemas sozinha, ainda mais se tratando de algo tão pessoal quanto o que Hideo lhe havia revelado. Ela não quebraria a confiança que ele depositara nela.
— Respeitamos isso, querida, mas se mudar de ideia, estaremos aqui. — responde Kyota.
— Obrigada, pai. — diz ela com um sorriso triste. — Onde estão os outros?
— Foram para o apartamento do Hideo, querida. Queriam começar a trabalhar, e ele tem mais equipamentos lá. — explica Hana.
— Bem, eu também preciso ir. Tenho assuntos a resolver na agência. — diz ela. Todos ali sabiam que a "agência" era o lugar onde Sayuri fazia negócios no submundo.
— Não quero que saia, Sayuri, é perigoso. — diz Kyota.
— Não se preocupe, pai, vou levar alguns soldados comigo. E ainda não temos certeza sobre o que realmente Masato quer. — diz ela.
— Sim, mas vamos tomar cuidado.
— Tudo bem, serei cuidadosa. — diz ela, dando um beijo nos pais e mostrando a língua para Yuki antes de sair.
— Essa garota... — ouve ela reclamando.
Sayuri entra no carro acompanhada de vários soldados. Ela já estava acostumada com a presença deles, mas percebia que seu pai havia aumentado a segurança à sua volta.
— Para onde, senhorita? — pergunta o motorista.
— Passe primeiro na cafeteria do centro, depois para o apartamento do Hideo. — Sayuri queria levar ao menos um café para seus amigos, já que eles tinham saído antes de tomar café da manhã na sua casa.
— Sim, senhorita.
O carro parte em direção à cafeteria do centro. Assim que chegam ao local, os seguranças de Sayuri entram no lugar abrindo caminho para ela. Sayuri se aproxima do balcão lentamente, observando os olhares curiosos das pessoas sobre ela.
— Olá, o que vai pedir, senhorita? — pergunta a atendente.
— Me vê um de cada item do seu cardápio.
— Tudo?
— Sim.
— Vou providenciar. — diz ela, afastando-se. Sayuri caminha até uma mesa e se senta, esperando o seu pedido.
— CUIDADO! — grita um dos seguranças de Sayuri, mas já era tarde: uma van havia invadido a cafeteria, destruindo a parede de vidro.
Homens armados descem da van atirando contra os soldados de Sayuri. Eles se aproximam e percebem que ela estava caída, inconsciente no chão, a mancha de sangue em sua testa denunciando o corte que sofrera com um dos estilhaços de vidro. Um dos homens pega Sayuri e a coloca na van, arrancando em alta velocidade do local.
Masato observava à distância, oculto nas sombras de um prédio inacabado. O seu olhar era fixo como o de um predador prestes a saltar sobre a presa. Ele observava com atenção quando a van saía da cafeteria levando Sayuri com eles. O seu plano tinha dado certo.
— Estamos com ela. — disse um dos membros da Kurogane pelo rádio. — Estamos indo para o local combinado.
— Em breve estarei lá. — diz Masato antes de entrar em seu carro e partir.
A van parte em direção à praça da cidade. Estava na hora de Masato mostrar a todos o que acontecia com quem atrapalhava os seus negócios. Para ele, não importava que Sayuri fosse filha de uma das famílias mais tradicionais da máfia — ela pagaria da mesma forma.
Quando as vans estacionam na praça, as pessoas param para observar o que aconteceria, mas ninguém desce dos veículos. Masato se aproxima, um sorriso convencido no rosto ao olhar para as vans paradas na praça.
As pessoas se aglomeravam ao redor deles para saber o que aconteceria a seguir. Masato para a alguns metros da van, os seus olhos com um brilho frio de vingança.
— Ouçam bem, todos! — grita ele para as pessoas que estavam na praça. Ali era a entrada para o maior shopping da região, um lugar onde apenas a alta sociedade comprava — ou seja, os nomes mais importantes da máfia estavam ali. — Hoje vocês verão o que acontece com quem atrapalha os meus negócios.
Masato faz um sinal para um dos seus homens abrir a porta da van, mas antes que ele se aproximasse, a porta se abre com um som alto e, para seu desespero, Sayuri sai de lá com um largo sorriso no rosto.
— O que estava dizendo, Masato? Acho que não te ouvi direito lá de dentro. — diz ela com um largo sorriso no rosto.
Masato não podia acreditar no que os seus olhos viam. Aquilo era como uma grande piada para ele. Estava sendo humilhado e desmascarado na frente de toda a alta sociedade da máfia.
— Como? — diz ele, dando um passo para trás.
Neste momento, as portas das outras vans se abrem e vários homens armados descem, cercando Masato.
— Eu me perguntava quem era o louco que iria mexer com a minha princesa, mas confesso que não esperava que fosse você. — diz Matteo, arremessando uma faca contra Masato. Ela se crava em sua perna, e ele arfa de dor, os seus olhos queimando de ódio.
— Você... está errado. — diz ele, arrancando a faca da perna e jogando de volta em Matteo, que apenas se desvia de lado, esquivando-se do golpe.