A mansão estava silenciosa, mergulhada em penumbra. O som do relógio na parede era o único ruído que ousava interromper o silêncio carregado no ar. Masato estava de pé diante da grande janela do escritório, observando o céu nublado de Tóquio, os olhos carregados de ódio e inquietação.
Shun, seu mordomo de longa data, adentrou o cômodo com a habitual discrição, mas seu semblante grave dizia muito mais do que palavras.
— Mestre Masato... ela chegou.
Masato não precisou perguntar quem era "ela". O seu corpo enrijeceu, a mandíbula trincou e os punhos se cerraram devagar. Quando pensava que os seus problemas diminuiriam, eles, na verdade, apenas aumentavam.
— A Fênix... — murmurou, como se o nome tivesse gosto amargo. — Onde?
— Na propriedade dos Matsumoto. Disseram que chegou ontem, acompanhada de vários homens. Confirmaram que é Sayuri.
Masato girou lentamente, o olhar agora cravado em Shun, como se ele próprio carregasse a culpa pela notícia. Ele não entendia como a Fênix havia descoberto tão rápido que ele desejava se vingar de Sayuri. Naquele momento, se arrependeu por ter sido precipitado ao matar Lyo. Agora, os seus problemas eram bem maiores.
— Aquela mulher... — rosnou. — Sempre aparecendo onde não é chamada. Como uma praga. Como um eco do passado que insiste em me assombrar!
Caminhou até a mesa e socou o tampo de madeira, fazendo papéis saltarem com o impacto. A sua fúria apenas aumentava a cada nova informação que surgia. Mas aquilo não o impediria de ter a sua vingança. Se não parasse Sayuri e Hideo naquele momento, os seus prejuízos apenas aumentariam.
— Maldita! Ela vai atrapalhar tudo. Não posso deixar que interfira agora... não quando estou tão perto. — Masato havia planejado uma nova carga para breve e, se não eliminasse o problema, estaria perdido.
Shun aguardou em silêncio. Conhecia o temperamento do patrão e sabia que o pior ainda estava por vir. Não se atrevia a falar quando Masato estava daquela forma.
— Ligue para o líder da Kurogane. Agora. — ordenou Masato com frieza. — Já que Sayuri protegeu Hideo, então ela será meu primeiro alvo. Quero vê-los em chamas, começando por ela. O herdeiro Shinoda não passará de um pedaço de carne lamentando a perda da mulher que tentou salvá-lo.
Poucas horas depois, em um galpão no distrito industrial, Masato encontrava-se frente a frente com o homem conhecido apenas como Tetsuya — o líder da Kurogane. Os seus olhos eram duros como ferro, sua presença imponente, o tipo de homem que se alimentava do caos.
Poucos na cidade se atreviam a contratar os serviços dos Kurogane ou tinham dinheiro para pagá-los. Eram o tipo de gente que fazia de tudo, desde que recebessem um bom pagamento — e não se importavam em agir sem escrúpulos.
— Quer a mulher primeiro? — perguntou Tetsuya, acendendo um cigarro com calma. Aquilo, para ele, era algo corriqueiro. Várias pessoas o procuravam por dia para aquele tipo de serviço, então era sempre objetivo.
— Sayuri é a responsável por salvar Hideo. Não vejo outra forma de ela pagar o que me deve senão com a própria morte. Quero eliminar o problema, e ela é parte dele. Sabe demais, precisa sair do meu caminho. — respondeu Masato, com um sorriso sombrio. — Quero que a morte dela seja pública. Um ataque direto, ousado. Algo que diga ao mundo que a Fênix é apenas um pássaro morto.
Tetsuya soprou a fumaça e assentiu com a cabeça. Ele não discutia quando os seus clientes faziam exigências — por mais loucas que fossem. Se pagassem bem, tinham o que queriam.
— E depois dela?
Masato se aproximou, os olhos iluminados por uma raiva antiga e doentia. Havia mais nos seus sentimentos por Hideo do que vingança. Ele tinha contas antigas a acertar com Haruki e sabia que a melhor forma de fazê-lo era através do único filho que ele tinha.
— Hideo é meu. Foi o herdeiro que o velho Haruki protegeu. Sei que ele vai sofrer bem mais ao ver que o filho lhe foi tirado. Quero ver onde estará aquela “honra” que ele tanto defende quando vir o corpo do filho morto à sua frente. Eu vou destruir tudo que ele tem. Primeiro o coração, depois a vida.
Por fim, Masato virou-se para ir embora, mas lançou um último olhar para Tetsuya. Ele não aceitava erros naquele trabalho — e o homem à sua frente sabia como Masato tratava falhas cometidas sob as suas ordens.
— Quando o sangue de Sayuri tocar o chão, quero estar lá. Quero ver nos olhos de Hideo a dor que o acompanhará por toda a vida. Só então estarei satisfeito.
— Você está pagando pelo serviço, Masato, e bem. Informaremos a hora e o local em que será realizado. — disse Tetsuya. Aquilo, para ele, não era nada. Se o cliente queria ser a plateia da queda de seus inimigos, que fosse.
— Ótimo, estarei esperando. — disse Masato, partindo.
Tudo em seu mundo girava em torno de vingança e ganhos. Masato havia perdido mais do que ganhado ao longo dos anos em que a suas cargas foram sabotadas. A queda de Sayuri era um prato pequeno diante do ódio e do desejo de vingança que o corroíam, mas era um começo.
À medida que o carro cortava a cidade rumo à sua casa, a mente de Masato viajava por outros lugares — lugares onde ele podia ser ele mesmo, sem julgamento.
— Mude a rota, Shun. Quero ver as minhas borboletas hoje. — disse ele, com um sorriso c***l no rosto.
O carro refaz a rota em direção a um lugar que poucos conheciam — um local onde Masato pretendia descarregar a sua frustração da forma mais perversa possível. Ele queria lágrimas, dor e sofrimento... mas não para si — e sim para aquelas que seriam obrigadas a agradá-lo naquela noite.