Capítulo 92

1032 Words
Mei observava Hideo dormindo com tranquilidade. Era aquilo que ela desejava para o seu filho: paz. O dia tinha amanhecido rápido; ela ouvira atentamente toda a conversa das pessoas que estavam na sala e ficara surpresa com a forma como estavam dispostas a ajudar. Mei teria uma dívida que nunca poderia pagar com elas. Ela sorria com amargura ao pensar que estranhos estavam ajudando mais seu filho do que o pai dele fizera em toda a sua vida. Pensar em Haruki a fazia lembrar da mensagem que ele recebera naquela madrugada — seu marido queria vê-la, e ela não fugiria dele. Enfrentaria Haruki de cabeça erguida, certa de que fizera tudo o que podia por seu filho. Mei sabia que Hideo não gostaria de saber daquilo e, por isso, velava o seu sono. Ela mesma lhe diria, quando acordasse, que iria até seu marido. Não podia viver fugindo dele — e nem queria. Ela não era uma criminosa, era uma mãe que se dedicara ao filho, como sempre devia ter feito. Hideo sempre cuidara de Mei, colocando a integridade dela acima de tudo, e ela faria o mesmo por seu filho. O protegeria enquanto tivesse fôlego no peito e o sangue corresse por suas veias. A porta do quarto se abriu lentamente. Mei se virou e encontrou Síria entrando com uma bandeja nas mãos. Ela caminhou a passos lentos e colocou a bandeja sobre uma mesinha perto de Mei. — Achei que gostaria de um chá antes de sair — disse, entregando uma xícara a Mei. Mei olhou para Síria com curiosidade. Lembrava-se bem de algumas histórias que Hideo havia lhe contado sobre a pequena assassina à sua frente. Mas, olhando para os olhos castanhos de Síria e os seus cabelos negros, que chegavam ao pescoço, não via a assassina mortal que seu filho descrevera. Mei se inclinou e tocou o rosto de Síria com carinho. Ela era uma mulher bonita, e se Hideo não tivesse dito que era assassina, ela jamais descobriria. — Obrigada pelo carinho, querida — disse. — Não agradeça, senhora Shinoda. A senhora é a mãe de Hideo. Vamos cuidar bem da senhora — respondeu Síria, com tranquilidade. — Isso me surpreende — disse Mei, balançando a cabeça enquanto tomava um gole do chá. — O quê? — perguntou Síria. — A forma como vocês acolhem as pessoas ao seu redor. É impossível não se apegar a vocês — respondeu ela. Síria sorriu diante das palavras de Mei. — Ele é importante para nós — disse, apontando para Hideo, que dormia tranquilamente. — E a senhora é importante para ele. Não queremos ver nosso irmão mais novo triste. — E como soube que eu iria sair? — perguntou, curiosa, pois não havia dito nada a ninguém. — Sua expressão me disse isso. E sei que os outros também perceberam. Não nos leve a m*l, mas no nosso trabalho aprendemos a ler as pessoas, e às vezes fazemos isso de forma inconsciente — disse ela, um pouco sem graça. — Eu entendo, querida. Não se sinta m*l. Estou apenas esperando ele acordar para lhe contar — disse, com um suspiro cansado. Mei já imaginava a briga que seria ao dizer ao filho que precisava ver o marido. — Ele não vai gostar disso — disse, com os lábios franzidos. — Eu sei. Mas meu filho vai descobrir de quem herdou a teimosia assim que acordar — disse, fazendo Síria rir. — Se precisar de mim, basta chamar — disse Síria a Mei. Ela apenas assentiu, e Síria deixou o quarto tão silenciosamente quanto entrara. Os olhos de Mei passeavam pela figura do filho dormindo tranquilamente. Ela queria que aquilo durasse para sempre, que ele sempre tivesse aquela expressão serena no rosto, e que a maldade que os rodeava jamais encontrasse o seu menino. Mas estava apenas se enganando. Conhecia a fama que seu filho tinha no submundo, algo que contrastava terrivelmente com a sua figura tranquila naquele momento. Hideo podia ser temido por todos, mas, para ela, ele sempre seria seu pequenino — aquele que corria para se deitar no seu colo sempre que podia. Um suspiro cansado escapou dos lábios de Mei, e ela os mordeu com força, tentando conter as lágrimas que ameaçavam tomar conta do seu rosto. Ela queria paz, queria ver seu filho se casar e os netos nascerem. Não desejava a bagunça em que a sua vida estava naquele momento. — Posso sentir os seus olhos em mim, mãe — disse Hideo, assustando-a, sem abrir os olhos. — Meu Deus, garoto! Quase me mata do coração! — disse ela, com a mão no peito. Mei ouviu a risada dele e seu peito se acalmou. Aquele sempre seria o melhor som que ela ouviria na vida. — Não queria te assustar — respondeu ele. — E como sabia que era eu? — perguntou, vendo que ele ainda não abrira os olhos. — Eu sempre sei quando é você, mãe. Reconheço o seu olhar em qualquer lugar — disse ele, abrindo os olhos lentamente e encontrando os dela. — Acho bom mesmo. Você só tem uma mãe — disse ela, com um sorriso de canto. — Eu só preciso de uma — respondeu ele. Os olhos de Hideo estavam tranquilos sobre ela, mas ele não deixara passar despercebida a maneira como ela o olhava. — O que houve? Mei bufou. Já devia esperar por aquilo. Nada passava por seu cavalheiro. — Seu pai me mandou uma mensagem. Estava esperando você acordar para ir até ele — disse. Assim que as palavras deixaram os lábios de Mei, os olhos de Hideo escureceram. Antes que ela pudesse impedi-lo, ele se levantou rapidamente, sentando-se. Mei olhou, com pavor, seu filho fechar os olhos, tentando aliviar a dor que sentia. Podia ver os seus lábios levemente pálidos pelo esforço. — Hideo! — exclamou, brava, correndo até ele e segurando o seu rosto entre as mãos. — Estou bem... só... — começou ele. — Não devia ter feito isso! — disse, indo até a mesinha, pegando alguns comprimidos e entregando a ele com um copo de água. Ele os tomou em silêncio e devolveu o copo à mãe. — Então vamos.
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