Kyota pousou a xícara com delicadeza sobre a mesa baixa da sala e pigarreou suavemente. O seu olhar pousou em Mei, que se mantinha próxima à escada, observando os outros com atenção silenciosa.
— Recebi uma ligação mais cedo... — começou Kyota, com a voz baixa, mas firme. — Era Haruki.
A sala caiu num súbito silêncio. Até o tilintar das colheres cessou. Os olhares se voltaram para Mei, que, como por instinto, encolheu os ombros, como se tentasse desaparecer. Os seus olhos se arregalaram, e uma sombra de medo atravessou o seu rosto.
Ela ainda não tinha conversado com o marido depois do que tinha feito e temia o que Haruki faria. Ele nunca tinha sido violento com ela em todos aqueles anos de casamento, mas ela também nunca tinha feito algo para provocar a sua fúria, mas agora era diferente.
— Ele sabe que ela está aqui? — perguntou Max, já se levantando, instintivamente protetor.
— Se ele se aproximar, eu mesmo o afasto — disse Yuki, os punhos cerrados. Ele não permitiria que a doce senhora a sua frente fosse ferida por tentar ajudar o filho.
— Não vamos permitir que ele toque num fio de cabelo da senhora — completou Klaus, com firmeza, e a forma que ele falava deixava claro que era o que todos ali pensavam.
— A senhora estará segura conosco. — Diz Alicia se sentando ao lado dela e segurando a sua mão.
Mei olhou para todos, surpresa com o tom das vozes, e os seus olhos se encheram de lágrimas silenciosas. Por um instante, sentiu que estava segura, não só ali, mas dentro de cada palavra dita. Ela olha para Alícia e dá um pequeno aperto em sua mão em gratidão pelo apoio.
Kyota levantou as mãos, pedindo calma.
— Calma... ele não foi hostil. Na verdade, apenas perguntou se ela estava bem. Disse que queria que cuidássemos dela enquanto ela estivesse longe de casa. Foi só isso. — Kyota tinha ficado surpreso com as palavras do líder da Yakuza, ele esperava que no mínimo Haruki fizesse um escândalo e levasse sua esposa de volta para casa, mas não, ele apenas pediu que ele garantisse a proteção da dama da Yakuza garantindo que enviaria alguns soldados para o ajudar.
O alívio percorreu a sala como um sopro. Mei deixou escapar um suspiro contido. Ao seu lado ela sente as mãos de Alíca a confortando com um sorriso no rosto.
— Então... ele não quer me levar de volta? — perguntou Mei, ainda hesitante.
— Não dessa vez — respondeu Kyota. — Mas não se preocupe, mesmo que quisesse, você está entre pessoas que não deixariam isso acontecer.
Ricardo, que até então permanecera calado, recostado contra uma das vigas da sala, cruzou os braços e encarou Max, Charles e Klaus.
— E o Masato? O que descobriram?
Os três trocaram olhares, e o clima tenso voltou a pairar sobre a sala. Todos estavam curiosos para sabe ro que eles tinham descoberto nas ruas, e como tinham acontecido tantas coisas eles não tiveram a oportunidade de esclarecer as coisas.
— Encontramos resistência — disse Max, a expressão mais séria do que de costume. — Alguém está tentando nos atrasar.
— Em dois dos locais que investigamos, os informantes estavam mortos quando chegamos — completou Charles. — Alguém está encobrindo os rastros dele com muita eficiência.
— Isso é uma mensagem — disse Klaus, sombrio. — Estão nos avisando para parar.
Ricardo esfregou o queixo, pensativo. O silêncio se instalou novamente, mas agora era diferente. Não era medo, era estratégia. Eles sabiam que cada passo a seguir exigiria mais deles, mas Ricardo não conhecia algo que ele não tivesse acesso. A Fênix não era apenas um nome bonito, eles levavam o seu trabalho a sério, e para Ricardo não importava quem estivesse tentando os atrapalhar, no fim, ele descobriria o que precisava da mesma forma.
— Então vamos agir com mais cautela — disse Ricardo, finalmente. — Mas não vamos parar.
Aurélio assentiu, os olhos faiscando de determinação. Cautela não era bem a palavra que ele gostava, mas sabia o quanto aquele trabalho era importante e tentaria se conter daquela vez.
— Se ele está escondendo algo, vamos descobrir. E quem estiver com ele… também. — Diz Xavier de forma tranquila.
— O programa? — Pergunta Ricardo.
— Está trabalhando enquanto falamos chefe, o que eles não conseguiram com os informantes o programa vai conseguir. — Diz ele com um sorriso discreto no rosto. Se tinha algo que Xavier tinha orgulho era das suas criações, e os seus programas de reconhecimento não tinha falhas.
— Vem trabalhar comigo. — Diz Matteo impressionado com as palavras de Xavier.
— Sabe com quem está falando Matteo? — Pergunta Kyota com um sorriso de canto.
— Ele não é funcionário de Ricardo? — Pergunta ele agora em dúvida.
— Não. Ele é Don Xavier, líder da máfia Algustini e um milionário em ascensão. — Diz Kyota com tranquilidade.
— Então por que o chamou de chefe? — Pergunta Matteo.
— Por que ele é. Sou um Don apenas no meu território, fora dele sou apenas Xavier. — Diz ele com tranquilidade. Xavier não tinha aquela sede de poder que os outros Don tinham, é claro que ele desejava expandir a máfia da família e já estava cuidando disso, mas sua vida não girava apenas em torno daquilo.
— Vocês me confundem. — Diz Matteo balançando a cabeça. Ele se lembrava que Max também chamava Ricardo de chefe mesmo ele sendo um Don. Os observando com atenção ele percebia que aqueles homens jamais trocariam a sua lealdade por Ricardo.
— Teria que ser da família para entender Príncipe Escarlate. — Diz Aurélio com um sorriso de canto.
— Então estamos próximos de descobrir as trapaças de Masato? — Pergunta Síria.
— Sim baixinha, assim que o programa terminar de fazer o reconhecimento conseguiremos os endereços e horas de cada lugar que Masato visitou nos últimos dias.
— Então está quase na hora da minha equipe entrar em ação. — Diz Sayuri descendo as escadas com um sorriso no rosto.