Assim que Sayuri e Matteo abriram a porta da casa, foram surpreendidos por Hideo, sentado no sofá da sala, na penumbra, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos entrelaçadas, fitando-os em silêncio. O olhar dele era duro, intenso, e, por um breve instante, Sayuri sentiu o ar faltar-lhe. Deu um passo atrás, assustada.
Os olhos de Sayuri quase saltaram das orbitas ao ver Hideo os esperando, ela tinha feito de tudo para sair em silêncio, mas ao que parecia Hideo era bem mais esperto que ela imaginava.
— Hideo... — murmurou, quase num sussurro.
Matteo percebeu imediatamente a tensão no ar. Olhou de relance para Hideo e, notando o semblante fechado e os olhos semicerrados, ergueu as mãos num gesto despreocupado.
— Acho que este assunto não me diz respeito… — disse, virando-se para Sayuri com um meio sorriso. — Boa sorte. Vai precisar.
E saiu pela porta, deixando-os a sós. Sayuri olhava em choque o amigo a abandonar com Hideo na sala.
Hideo respirou fundo, mantendo-se imóvel. Depois, ergueu o olhar lentamente e, com um tom grave, chamou:
— Sayuri… Vem aqui.
Ela hesitou, mas acabou se aproximando, o coração ainda acelerado pelo susto e pela tensão. Parou diante dele, que a observava como se estivesse a medir cada movimento.
— Não gostei nada do que fez esta noite — disse ele, a voz baixa, mas carregada de reprovação.
— Hideo… eu…
Ele ergueu uma mão, cortando qualquer tentativa de explicação. Ela havia quase tido um treco ao despertar e não a encontrar ao seu lado, por sorte ele tinha pessoas de olho nela o tempo todo e bastou apenas um telefonema para que ele soubesse onde ela estava.
— Saiu no meio da madrugada, às escondidas… Acha que isso é razoável?
Sayuri cruzou os braços, num misto de defesa e desafio.
— Era algo urgente. Não podia esperar.
Hideo apertou os punhos e inclinou-se um pouco mais para a frente, o olhar fixo nos olhos dela.
— Urgente ou não, se colocou em risco. E, ao fazer isso, só se expunha ainda mais. Você não tem noção do perigo que correu!
Sayuri mordeu o lábio, mas ao ver a expressão de preocupação disfarçada sob aquela raiva, não conseguiu conter um riso, nervoso e sincero. Ela o achava fofo quando agia daquela forma, e ao que parecia Hideo não sabia bem do que ela era capaz, ou não estaria tão preocupado quanto estava.
— Está… Está com raiva porque estava preocupado comigo? — perguntou, deixando escapar uma gargalhada.
Hideo franziu ainda mais a testa, os olhos faiscando de irritação. Ele m*l podia acreditar que ela estava rindo as suas custas de forma tão aberta.
— Isto não tem graça, Sayuri!
Ela riu de novo, abanando a cabeça.
— Tem mesmo um jeito estranho de demonstrar que se importa… — provocou, colocando uma mão no ombro dele.
Hideo afastou-se ligeiramente, cerrando o maxilar. Mas o movimento o fez trincar os dentes quando uma onda de dor passou por seu corpo.
— Eu não estou brincando. Podia ter sido seguida. Podia ter sido sequestrada. E depois? — Aqueles pensamentos faziam o coração de Hideo saltar uma batida, ele não queria que nada acontecesse a Sayuri, mas ela não estava colaborando muito com ele.
Sayuri respirou fundo, tentando conter o riso, mas não conseguia deixar de sentir aquele calor no peito por perceber que, no fundo, aquela zanga toda era apenas medo de a perder.
— Eu sei… — disse, num tom agora mais suave. — Mas estou aqui. Estou bem.
Ele passou a mão pelos cabelos, frustrado, desviando o olhar.
— Da próxima vez…me avise. Não me faça passar por isto outra vez. — Diz ele com um suspiro de rendição.
Sayuri assentiu, aproximando-se ainda mais, até se sentar ao lado dele.
— Prometo.
— Por que Matteo estava com você Sayuri? Já disse que não gosto daquele mexicano atrevido atrás de você. — Sayuri olhava para o rosto dele com vontade de rir novamente, mas não o faz, apenas ergue a mão e desfaz a ruga que havia se formado no meio da testa de Hideo.
— Aquele mexicano é um bom amigo meu, e alguém em quem o meu pessoal confia cegamente, então era por isso que ele estava comigo. — Diz ela o olhando fixamente.
— E eu? O que eles acham que ou sou? — Aquela com toda certeza era algo que Sayuri não queria responder, mas não via como fugir daquela conversa e preferia resolver de uma vez por todas aqueles m*l entendidos.
— Não vou mentir para você Hideo, durante todos esses anos eles nunca te viram com bons olhos e não confiam em você, já Matteo sempre esteve comigo e trabalhamos juntos muitas vezes, eles o veem como alguém confiável e por isso o avisaram ontem quando marcaram um encontro comigo. — Sayuri podia ver o brilho dos olhos de Hideo sumindo lentamente, e ela ficava triste com aquilo, mas não podia mudar as coisas aquilo dependeria dele a partir daquele momento.
— Acho que eu mereço ouvir isso, não fui bom com você ao longo dos anos. — um suspiro cansado deixo a peito de Hideo enquanto ele pega uma das mãos de Sayuri e leva aos lábios lhe dando um beijo. — Vou mudar isso a partir de agora, você sempre será minha prioridade querida.
— Ah, mas você vai ter que mudar isso mesmo senhor Shinoda, ou não vai gostar das consequências. — Diz ela se levantando e segurando com força o rosto dele, Sayuri se abaixa e morde o seu lábio inferior o soltando.
Hideo sorri com aquilo, agora entendia o que seus amigos sentiam com as suas esposas. Ele avia visto por várias vezes tanto Oksana quanto Síria fazerem exatamente o mesmo com seus maridos, e ele sempre se perguntava o porquê eles permitiam, agora sabia.
— Sabe, eu acho que vou gostar de saber o que você fará. — Diz ele a surpreendendo, Hideo enlaça a cintura de Sayuri a puxando para seu colo. Em um canto Mei observava com um sorriso no rosto a forma que seu filho estava feliz com Sayuri.