Capítulo 7

1010 Words
Hideo cai no tatame exausto, o suor escorrendo por seu corpo enquanto ele respirava com dificuldade. A sua espada de lâmina longa estava apoiada ao seu lado. Apesar do cansaço, ele tinha um sorriso no rosto: Shiro continuava tão bom quanto ele se lembrava. — Pelo que vejo, você ainda está em forma, jovem senhor — diz Shiro, com um sorriso curvando os lábios e destacando as pequenas rugas que já começavam a se formar no canto dos seus olhos. — Você continua tão bom quanto eu me lembrava, Shiro. Obrigado por lutar comigo — diz Hideo, levantando-se e fazendo uma pequena reverência para o homem à sua frente. — Estarei aqui sempre que desejar — diz ele, curvando-se levemente. Hideo pega sua espada e segue para casa. Aquele era um lado seu do qual se orgulhava; gostava das suas origens e sabia bem onde a suas raízes estavam fincadas. Carregar aquela espada era para ele um sinal de honra. Quando entra em casa, encontra o seu pai na sala. Seu corpo trava na hora. Ele estava usando apenas uma calça de moletom, então as feridas e cicatrizes nas suas costas estavam bem visíveis para todos. Os olhos de Haruki eram como dois buracos negros fitando Hideo. Ele observava o filho passar por ele sem nem ao menos lhe dirigir um segundo olhar. Quando os seus olhos encontraram as costas do filho, ele travou, a suas mãos segurando o encosto da poltrona com tanta força que temia quebrá-la. Ali, para que todos pudessem ver, estavam as marcas que o seu filho levava por sua desobediência. Mas, olhando para aquelas marcas, Haruki não se sentia feliz; o seu peito estava pesado, e um aperto se formava. A consciência podia ser algo terrível, e era justamente ela que fazia Haruki refletir sobre o que tinha feito ao longo dos anos. Ele se perguntava: quando tinha se tornado tão c***l? Quando o menino risonho que o seguia para todos os lados havia parado de sorrir? Ele não tinha resposta para aquelas perguntas, e aquilo apenas reforçava o seu pensamento de que devia ter errado em algum ponto. Haruki não havia conhecido o amor de um pai. Tinha sido treinado para ser um líder implacável, e era isso que ele havia se tornado. As pessoas não cruzavam o seu caminho a menos que desejassem a morte, e em toda a sua vida apenas uma pessoa tinha ousado desafiá-lo: Ricardo, o líder da Fênix. Haruki foi obrigado a reconhecer a força e coragem de Ricardo — ele era o único que o líder da Yakuza olhava de forma diferente. — Sabe que ainda pode consertar isso — diz Mei, aproximando-se e sentando-se ao lado dele. Ela podia ver no rosto do marido o quanto ele tinha ficado abalado com o que tinha visto. Haruki suspira. Ele admirava o quanto a sua esposa o conhecia. Estende a mão, segura a dela, leva-a aos lábios e lhe dá um beijo. — Você me conhece bem demais, querida — diz com um sorriso triste nos lábios. — O suficiente para saber que não gostou do que viu — diz ela, com um olhar penetrante. Uma linha se forma em sua testa pela forma como o encarava. — Se ele não fosse tão malcriado, isso não aconteceria — diz ele, sem dar margem para conversas. — Sei que não gosta de falar sobre isso, Haruki, e respeito a sua decisão. Mas lembre-se de que o seu filho jamais concordará com algo que, para ele, é injusto. Apenas tente entender o lado dele. As palavras de Mei eram como lâminas no peito de Haruki. Elas provavam o quanto ele tinha sido t**o ao longo da vida. Mas o que estava feito não podia ser remediado, e agora ele apenas colhia os frutos do que havia plantado. — Não quero falar sobre isso — diz ele, emburrado, soltando a mão dela. — Precisa conversar com ele sobre o casamento. Não posso adiar mais. — Ele não quer, e se você insistir, ele vai fugir de novo — diz ela, sabendo que o filho jamais concordaria com aquilo. — Ele não pode fugir para sempre. Isso já está acertado há muito tempo. Ele já devia ter se acostumado com isso — diz, trincando os dentes. — Talvez... — começa Mei, apreensiva. — Possamos cancelar esse compromisso. Haruki se vira para Mei com olhos gelados. Ele não acreditava nas palavras que tinham acabado de sair da boca de sua esposa. — Você ficou louca, Mei?! Esse compromisso foi selado há anos! É uma forma de pagar à família Matsumoto por ter salvado a minha vida. Não tem como cancelar! Haruki se considerava um homem de palavra, e, quando no começo de sua jornada como Don da máfia japonesa sofreu um atentado, foi a família Matsumoto que o salvou. Naquela época, eles não haviam exigido nada, dizendo apenas que era seu dever com a família. Mas Haruki sentia a necessidade de pagar aquela dívida, então prometeu o seu primeiro filho em casamento a eles. E aquela era uma promessa que ele cumpriria, independente da vontade do seu filho. — Desculpe, querido. Apenas pensei que isso poderia ser remediado — diz Mei, com a cabeça baixa. Vendo a forma como Mei havia ficado magoada, Haruki se aproxima dela com um suspiro. Ela não tinha culpa dos seus problemas. — Infelizmente, não há outra forma, querida. E você conheceu a filha deles. Sabe que Sayuri será boa para o nosso filho. Deixe que eles se acertem — diz ele, por fim. — Eu realmente espero que tudo dê certo, Haruki. Não quero ver o meu filho triste, preso a alguém que ele não ama. — Apenas confie, Mei. Deixe que eles se acertem sem interferências — pede ele. Mei apenas assente. Sabia que não adiantaria discutir com o marido — ele não mudava de ideia depois de tomar uma decisão. Então, tudo o que ela podia fazer era esperar que tudo desse certo. Ao menos, era isso que o seu coração de mãe tentava se convencer.
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