Capítulo 21

1098 Words
O silêncio que se seguiu ao estalo ecoou como um trovão no ar pesado daquela manhã. Lyo levou a mão ao rosto, onde a marca vermelha dos dedos de Hideo começava a surgir como um fogo aceso na pele. Os seus olhos se arregalaram em choque, mas logo a indignação tomou conta do seu semblante. Ela deu um passo em direção a ele, os olhos faiscando, como uma fera acuada pronta para atacar. — Como ousa me bater?! — gritou, a voz falhando entre raiva e humilhação. — Seu desgraçado! Sem pensar, ela ergueu a mão, impulsiva, tentando revidar o golpe. Mas Hideo foi mais rápido. Ele segurou o seu pulso com força e, sem hesitar, estalou-lhe outro tapa do lado oposto do rosto. Dessa vez, os seus olhos estavam sombrios, duros como pedra, e a voz saiu baixa, controlada, mas cortante como lâmina. — Tente levantar a mão para mim de novo e eu quebro cada osso seu — disse, aproximando o rosto do dela. — Você pensa que pode falar como quiser com a Sayuri na minha frente e sair ilesa? Lyo arfava, assustada e trêmula. Ela olhava para o homem à sua frente, perguntando-se quem ele era. Os seus olhos viam um homem frio, implacável, perigoso. Mas havia algo mais no olhar dele. Não era apenas raiva... era proteção — e isso a deixava furiosa por ser dirigida a Sayuri, alguém por quem sempre teve enorme desprezo. Sayuri permanecia imóvel, olhando a cena sem acreditar no que via. O coração batia acelerado, confuso. Por que ele a defendia daquele jeito? Por que se colocava contra Lyo com tanta ferocidade? Naquele momento, ela pôde ver um pouco do homem frio e c***l que todos diziam que Hideo era. — Sabe quem eu sou, seu i****a? O meu pai vai acabar com você! — esbravejou ela, com a mão no rosto. Era como se pudesse ainda sentir o peso das mãos dele ao lhe bater. — Eu que pergunto: você sabe quem eu sou, sua c****a de rua? — Cada palavra foi dita com um tom contido, mas que demonstrava toda a raiva que ele sentia naquele momento pelo que a mulher à sua frente havia feito. — Está tudo bem, senhor Shinoda? — perguntaram os seguranças da mansão, correndo até eles. — Shinoda? — indagou Lyo, branca como papel, encarando Hideo. — Sim, sou Hideo Shinoda, o noivo de Sayuri, que, segundo você, a despreza — disse ele com um sorriso de canto. — Agora me diga: quando ouviu isso da minha boca? Lyo olhava para Hideo como se o próprio demônio estivesse à sua frente, e podia ver nos olhos dele que não sairia dali tão facilmente. — Foi apenas um engano, senhor Shinoda. Me perdoe — disse ela, com a cabeça baixa, fazendo uma reverência. — Entendo. Mas o que eu vou fazer com você não será nenhum engano — disse ele, dando um passo em direção a ela. — Como? — perguntou, com os olhos arregalados. Hideo segurou o braço de Lyo e, com a outra mão, desferiu vários tapas em seu rosto. Ela tentava, desesperada, se soltar, mas ele era implacável. Quando a soltou, o seu rosto estava inchado, e um filete de sangue escorria do canto dos seus lábios. — Sei que já deve ter ouvido falar de mim, c****a. Mas sou pior do que as histórias que ouviu. E, como pode ver, não tenho nenhum problema em bater em mulheres. Se cruzar o caminho da Sayuri de novo, pode ter certeza de que estará morta antes que perceba — disse Hideo, soltando-a e a derrubando no chão. Lyo permaneceu de cabeça baixa, chorando, agarrada ao próprio corpo. — Avisem ao pai dela o que houve, e digam que espero um pedido de desculpas formal — ordenou ele. — Sim, senhor Shinoda — disseram os seguranças, retirando Lyo da entrada da mansão. Hideo estava consumido por sentimentos conflitantes. O sangue fervia de ódio pela ousadia de Lyo, mas dentro dele havia também uma inquietação profunda. Nunca desejou se comprometer com Sayuri — essa era a verdade —, mas só a ideia de vê-la sendo humilhada por outra pessoa despertava nele algo primal, incontrolável. Ele não a queria, mas ninguém tinha o direito de tratá-la como se fosse menos do que era. Virando-se para Sayuri, os olhos ainda intensos, ele respirou fundo, tentando se acalmar. A manhã deles, que havia começado bem, tinha tido uma reviravolta que ele lamentava. — Vamos entrar. Agora. Ela hesitou, mas acabou assentindo. Quando passaram por Lyo, Hideo parou por um instante, sem sequer olhar para ela. — Se abrir essa boca mais uma vez para falar da Sayuri... eu acabo com você. E não será com palavras. Então continuou seu caminho, puxando Sayuri suavemente pela mão. Naquele momento, Sayuri não sabia o que pensar. Sentia-se protegida, sim. Mas também começava a enxergar o que todos temiam em Hideo. Ele era como uma tempestade: imprevisível, perigoso... e, talvez, impossível de amar. Mas, de certa forma, o seu coração havia balançado com o que ele havia feito. Sempre veria mais nele do que o homem c***l que ele se tornara. No momento em que Hideo ia fechar a porta, ela se abriu, revelando Yuki parado à frente deles, com um sorriso de satisfação nos lábios pelo que havia presenciado. — Até que enfim tomou uma atitude, Shinoda — disse, afastando-se para que eles entrassem. — Achei que devia trazê-la de volta. Não quero nenhum m*l-entendido entre nós — respondeu ele, evitando comentar as palavras anteriores de Yuki. — Não tem que se preocupar com isso, Hideo — disse o pai de Sayuri, aproximando-se com um sorriso. — Fico feliz que estejam se entendendo. Hideo olhou para o homem à sua frente, sem saber como explicar que não era o que ele pensava. — Peço desculpas por trazê-la agora, senhor Kyota, mas ontem eu não estava muito bem e ela acabou ficando para me ajudar — disse ele, constrangido. Sayuri assistia à cena com tristeza. Para evitar maiores problemas, resolveu acabar logo com aquilo. — Já estou em casa, Hideo. Pode ir. Lembre-se de que tem um encontro de negócios importante agora. Não perca mais tempo comigo — disse ela, empurrando-o para fora da mansão às pressas. O pai e o irmão de Sayuri a olharam como se ela tivesse enlouquecido, mas ela não ficou para explicar. Subiu rapidamente para seu quarto. Muita coisa havia acontecido e ela não queria explicar nada para sua família — até porque nem ela mesma sabia o que pensar de tudo aquilo.
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