Hideo fazia a sua mala enquanto olhava para a mãe com uma carranca no rosto. Já tinham se passado quinze dias desde o que acontecera com ele, e ela ainda achava que ele não estava pronto para se afastar.
— É um encontro de amigos, mamãe. — disse ele, rindo da expressão dela.
— Tem mesmo que ir? Pode deixar para a próxima. — respondeu ela com esperança.
— Nem pensar, tenho uma aposta a ganhar. — respondeu ele, pensando na luta entre Vito e Max que finalmente iria acontecer.
— Você e essas apostas... — disse ela, balançando a cabeça. — Sabia que não desistiria, então pedi ao Jin para te acompanhar.
Hideo parou o que estava fazendo e olhou para a mãe. Ele podia ver a preocupação estampada no rosto dela. Largando as suas coisas, foi até ela e lhe deu um abraço apertado.
— Não tem lugar mais seguro para eu estar do que o Complexo da Fênix, mamãe. Ricardo é extremamente cuidadoso com a segurança do local. — Aquilo era algo que Hideo jamais questionaria, já que Ricardo fazia de tudo para manter os filhos e as crianças da Fênix seguras.
— Mas não custa nada prevenir. — disse ela, sorrindo.
Hideo desistiu e apenas deu um beijo na testa da mãe. Faria tudo para deixá-la tranquila enquanto estivesse fora.
— Se isso vai deixá-la mais tranquila... — disse ele.
— Obrigada, querido. E se cuide. — disse ela, lhe dando um beijo e um abraço.
Hideo deixou a sua mãe em casa e partiu para a pista de pouso particular que tinham em Quioto. Assim que chegou, encontrou Jin à sua espera.
— Devia dar um beijo na sua mãe por me fazer te acompanhar. Finalmente vou conhecer as lendas! — disse ele, com os olhos brilhando.
Hideo bufou. O seu amigo parecia uma criança animada com um presente. Mas ele entendia aquele comportamento — as pessoas da Fênix realmente davam o que falar, e eram poucos os que conseguiam trabalhar com eles.
— Muito engraçado. — disse ele, ignorando os comentários de Jin e entrando no jato.
— Isso vai ser muito interessante. — disse Jin, enquanto prendia o cinto.
— Lembre-se de se comportar, já que vai ser o penetra da festa. — Os olhos de Jin se escureceram.
— Estraga-prazeres.
— Nossos encontros são bem monitorados, Jin, e Ricardo não costuma receber pessoas que ele não conhece. — A forma como Hideo olhou para o amigo fez com que ele entendesse bem a situação. Lidar com pessoas do submundo também trazia muitos riscos para quem estava com eles.
— Sei bem como é isso.
— Vou mandar as suas informações para ele, só para ele se prevenir. — disse Hideo, mexendo no telefone.
— Mesmo assim, ainda estou feliz por conhecê-los. São poucos os que conseguem.
— Verdade. Vai gostar deles, não tem um que não goste. — disse Hideo, lembrando de como havia sido arrastado para a Fênix por Ricardo, e como nunca mais quis sair depois disso.
Após mandar mensagem para Ricardo, recebeu apenas um positivo como resposta. Sabia que o amigo iria investigar a vida de Jin até antes do seu nascimento. O voo foi tranquilo e sem maiores transtornos. Em poucas horas, pousaram na pista particular de Ricardo, no complexo.
Quando a porta se abriu, Hideo encontrou Klaus à sua espera.
— Como está, garoto? — perguntou ele, dando-lhe um abraço.
— Estou bem.
— Soube que teve problemas recentemente. — disse Klaus, de forma sugestiva.
— Nada que linha e agulha não consertem. — disse, com um sorriso de canto.
— Precisa ser mais cuidadoso.
— Vou ser, não precisam se preocupar. — respondeu, mas Klaus apenas bufou, balançando a cabeça. — Deixe-me apresentar o meu braço direito. Este é Jin.
— Bem-vindo. — disse Klaus, apertando a mão dele.
— Obrigado por me receber.
— Se Hideo confia em você, vamos lhe dar o benefício da dúvida. — Jin sabia exatamente o que ele queria dizer, e entendia o motivo.
— Não vão precisar se preocupar comigo. — respondeu Jin.
— Para o seu bem, esperamos mesmo. — disse Klaus, já pegando a bagagem de Hideo. — Vamos, o Aurélio já começou as apostas.
— Aquele filho da mãe... essa é minha. — disse Hideo, entrando no carro.
— As coisas estão animadas por aqui. Essa luta promete. — respondeu Klaus.
— E como estão a Síria e as crianças?
— Estão bem. Ela chegou agorinha de uma missão, e as crianças estão na sala de recreação. Está cada dia mais difícil mantê-los quietos. — respondeu, rindo, ostentando no rosto um olhar orgulhoso pela família que construiu.
— Está falando da assassina? — perguntou Jin, animado. Klaus olhou para ele pelo retrovisor e riu da expressão dele.
— Sim, Síria continua sendo a melhor. — respondeu ele.
— Isso vai ser incrível. Vou adorar conversar com ela. — respondeu Jin.
— Apenas lembre-se de manter uma distância adequada da minha mulher, rapaz, a menos que queira perder alguma parte do corpo. — disse Klaus, com um olhar sugestivo.
— Não se preocupe, quero apenas poder falar com ela. Afinal, ela é uma lenda no nosso mundo.
— Continua tão ciumento como sempre. — disse Hideo, balançando a cabeça.
— Eu sei o tesouro que tenho, Hideo, e sei valorizar a minha mulher. Então acho que esse ciúme jamais vai desaparecer.
Cinco minutos depois, o carro parou na porta da mansão de Ricardo. Eles entraram rapidamente, e Hideo observou a bagunça que o lugar estava. Ele podia ouvir a risada de Aurélio na sala, e aquilo o fez rir. Ali, ele estava em paz. Todos os seus demônios, dominados.
— Olha quem chegou! — disse Klaus, assim que entraram na área de lazer da mansão.
— Nosso caçulinha chegou! — disse Aurélio, assim que o viu.
— Pode parar, o Nerone é bem mais novo que eu. — disse Hideo, mas Aurélio já havia se aproximado e apoiado o braço sobre seu ombro.
— Sempre será nosso caçulinha, já que o Nico perdeu esse posto.
— Graças a Deus por isso! — gritou Nico de longe.
Era disso que ele precisava: um momento com a sua família maluca. Para Hideo, aquilo era ter paz.