A conversa que Hideo tinha tido com Ricardo havia sido libertadora, ele estava mais tranquilo com as coisas que estavam acontecendo e se permite relaxar um pouco na companhia dos seus amigos.
Mais tarde, eles são reunidos na área de treinamento, onde as apostas estavam a todo vapor e os planos para a luta entre Vito e Max estavam sendo discutidos. Jin observava em silêncio — impressionado com a organização daquilo tudo. Era mais do que ele imaginava. Muito mais do que uma organização, dava para ver no rosto de cada pessoa ali o carinho e consideração que tinham uns pelos outros.
— Se o Max não quebrar uma costela hoje, eu bebo apenas água por uma semana! — Diz Aurélio apontando para o quadro onde as apostas estavam anotadas.
— Isso sim é aposta séria! — Diz Nico rindo. Ele sabia que Aurélio não vivia sem a sua bebida.
— Acho que vai se arrepender disso. — Diz Nerone sem demonstrar nenhuma emoção.
— É meu irmão devia estar do meu lado. — Diz Aurélio.
— Sempre estou, mas acho que vai se arrepender. — Insiste ele.
— Eu aposto em Vito. — Diz Xavier se aproximando.
— Tá atrasado. — Diz Charles.
— Precisava resolver algumas coisas. — Diz dando de ombros. A vida de Don de Xavier estava cada dia mais corrido, mas mesmo assim ele não abria mão dos encontros na Fênix.
— Eu aposto em Max. — Diz Ricardo com um sorriso de canto. — Dez milhões.
O espanto enche o lugar com as palavras de Ricardo, ele observava os amigos com um sorriso no rosto.
— c*****o chefe! Vai ficar dez milhões mais pobre depois dessa luta. — Diz Nico rindo. — Eu aposto em Vito, a mesma quantia.
— Eu vou no Max. — Diz Yuri.
— Vito. — Diz Nerone.
— Vou no Max. — Diz Klaus trocando um cumprimento com o amigo.
— Nunca vi o Don Max lutar, mas pelo que já ouvi, gostaria de apostar em Don Vito Romano. — Diz Jin com tranquilidade.
— Vou dar o benefício da dúvida, vou no Max. — Diz Hideo sorrindo.
Aquela luta não era apenas uma mera diversão entre amigos, Max e Vito tinham contas antigas a acertar, e precisavam deixar aquilo para trás de uma vez por todas, e era ali no tatame da Fênix onde diferenças eram resolvidas do velho modo: no soco.
O tatame da Fênix estava silencioso, iluminado apenas pela luz amarelada que pendia do teto. O espaço, acostumado com gritos, impactos e concentração absoluta, agora abrigava dois homens com um passado pesado entre si. Max e Vito se encaravam no centro, os pés firmes no solo, a respiração cadenciada, como se o ar entre eles carregasse todas as palavras não ditas.
Para Vito, aquele confronto era mais do que uma luta. Era uma ferida aberta. Durante meses, viveu com a dor de acreditar que Max tinha levado uma das suas filhas, arrancado parte da sua vida, e mesmo que soubesse que Isabel estava feliz ao lado dele, precisava daquilo para sentir que havia feito o seu papel de pai corretamente. O ressentimento corroía-lhe por dentro, transformando cada treino, cada noite sem dormir, num ensaio para aquele momento. O Vito lutador estava ali, mas também o Vito pai, o Vito ferido, o homem que queria deixar tudo aquilo para trás e aproveitar a sua família com a mente limpa.
Max, por outro lado, não esquecera a dor das palavras de Vito. A lembrança da lâmina perfurando o seu abdômen ainda ardia, não pela dor física, mas pelo que representava: o fim da confiança, a quebra do vínculo que ele esperava reatar após aquela luta. Ele havia amado Isabel sinceramente, e quando buscou Vito para pedir a sua mão em casamento, encontrou apenas desconfiança e agressão. Aquela facada mudara tudo. E agora, naquele tatame, era a hora de ajustar as contas.
— Conhecem as regras, quero uma luta limpa, sem trapaças. — Diz Charles que seria o juiz. Eles apenas assentem para ele.
O primeiro movimento veio rápido. Max avançou com uma combinação de socos que Vito bloqueou com eficiência. Trocaram golpes intensos, como se cada impacto carregasse os anos de silêncio, de acusações, de dor. Vito girou e tentou desequilibrar Max com uma rasteira, mas Max foi mais rápido, contra-atacando com um chute no flanco que fez Vito recuar.
Ambos suavam, não apenas pelo esforço, mas pela carga emocional. Cada olhar era um desafio, cada investida, uma lembrança. O combate não era apenas físico, era visceral. E quando Max tentou um golpe alto, Vito viu a brecha.
Num movimento rápido e preciso, Vito agarrou o braço de Max, girando com o peso do próprio corpo. Houve um estalo seco. Max gritou, o ombro deslocado. Em segundos, Vito o imobilizou no chão, o corpo tenso, os olhos inflamados pela mistura de raiva e alívio.
O silêncio caiu como uma cortina. Max jazia sob Vito, ofegante, vencido, mas não quebrado. Vito também arfava, mas algo dentro dele parecia mais leve. Aquela luta não trouxera vingança, mas talvez tivesse iniciado um caminho para o perdão.
— Acabou garoto, agora você finalmente pode ser considerado o meu filho. — diz Vito com olhos tranquilos sobre Max.
— Então estamos deixando o passado para trás? — Pergunta Max com um sorriso de canto.
— Já nem me lembro mais por que estamos aqui. — Responde Vito dando de ombros. Max ri das suas palavras se deixando cair no tatame, ele se sentia leve, não tinha vencido Vito como desejava, mas a sensação que o dominava era de vitória.
— O nosso campeão invicto galera! — Grita Charles. — Don Vito Romano!
— Algumas pessoas estão alguns milhões mais pobre. — Diz Hideo rindo da cara dos amigos.
— Isso não é o pior, a partir de hoje o Aurélio vai ter que pagar a aposta, uma semana sem beber. — Diz Charles rindo.
— Cala a boca Charles. — Diz Aurélio. — Maldita hora que apostei isso.
— Não se preocupe Aurélio vamos mandar alguém para ficar de olho em você. — Diz Ricardo apontando Nerone no canto.
— Qual é! Fala Sério! — Diz ele frustrado enquanto os outros riam.