Mei não havia pregado o olho durante toda a noite. O coração de mãe batia inquieto, como se pressentisse que algo estava errado. Hideo não voltara para casa, não atendera o telefone e nenhuma mensagem fora respondida. Apesar de já estar acostumada com os sumiços do filho, algo naquela noite parecia diferente. Ela estava preocupada de que pudesse ter ocorrido algo depois das tenções da noite anterior na festa de aniversário de Sayuri.
Antes mesmo do sol nascer, Mei já estava de pé. Vestiu-se rapidamente, pegou a bolsa e saiu de casa determinada a ir até o apartamento do filho, ela havia penas deixado uma mensagem a Haruki lhe informando de onde estava. Ao chegar ao prédio, cumprimentou o porteiro com um sorriso breve, tentando esconder a sua inquietação, e subiu diretamente.
Diante da porta do apartamento, hesitou por um instante. Suspirou fundo, tirou a chave reserva da bolsa — que Hideo lhe dera tempos atrás — e entrou. A sala estava silenciosa, e tudo parecia em ordem, o que a tranquilizou um pouco. Mas o receio ainda pesava no peito. Sem perder tempo, caminhou direto até o quarto dele. Só ficaria tranquila quando visse o seu filho e comprovasse que ele estava bem.
Empurrou a porta com cuidado, chamando baixo:
— Hideo...? — O quarto estava escuro e ela não conseguia enxergar direito.
Ao entrar, parou de imediato. Os olhos se arregalaram ao ver a cena à sua frente: Hideo dormia profundamente, e sobre o seu peito, enroscada a ele com naturalidade desconcertante, estava uma jovem de cabelos negros — Sayuri.
O rosto de Mei ruborizou-se de vergonha. A boca entreaberta, sem saber o que dizer ou fazer, girou nos calcanhares para sair o mais discretamente possível. Porém, ao virar-se para a porta, ouviu a voz sonolenta do filho:
— Mãe...? — disse Hideo, a voz arrastada e ainda tomada pelo sono.
Ao perceber a presença dela ali, os seus olhos arregalaram-se, e o instinto o fez virar a cabeça para o lado. Foi então que viu Sayuri, dormindo agarrada a ele com o rosto enterrado no seu peito. A confusão e o pânico pintaram-se imediatamente em seu rosto.
— Mãe! Isso não é o que parece! — tentou levantar-se, mas Sayuri, ainda adormecida, resmungou algo ininteligível e o apertou mais forte.
Mei virou-se de volta, um leve sorriso nervoso nos lábios e as mãos levantadas em gesto apaziguador. Se ela soubesse que o seu filho estava com a noiva não teria se preocupado tanto na noite anterior.
— Fique quieto Hideo, eu quero dormir. — Resmunga ela o apertando mais.
— Desculpa, desculpa! Eu... não quis atrapalhar. Só fiquei preocupada... — disse, dando alguns passos para trás. — Depois a gente conversa, tá bem?
Ao ouvir o som daquela voz Sayuri desperta rapidamente, os seus olhos encontrando os de Mei, ela apenas suspira e se deixa cair novamente no peito de Hideo.
— Bom dia tia Mei. — Diz sonolenta.
— Bom dia querida, vou deixá-los descansar.
— Mãe, espera, não é...
Mas ela já havia fechado a porta, deixando Hideo sozinho no quarto, de olhos arregalados, sentindo o peso do momento.
Ele recostou-se na cama, passando a mão pelo rosto.
— Merda...
— Fique quieto Hideo. — Insiste Sayuri.
— Isso é culpa sua Sayuri, se tivesse saído do meu quarto a minha mãe não estaria pensando o que não deve. — Diz ele frustrado.
— Larga de ser criança Hideo. — Diz ela desistindo de dormir e se levantando. Sayuri vai até o armário de Hideo e pega um moletom e uma camisa dele e corre para o banheiro, ele olhava a tudo aquilo consternado com a ousadia que ela tinha.
Depois de alguns minutos Sayuri sai de banho tomado caminhando até ele. Ela pega um comprimido e um copo de água e lhe entrega.
— Beba ou sua cabeça vai acabar explodindo. — Diz dando de ombros.
— POR culpa sua, ou se esqueceu quem que me agrediu ontem? — Ele tinha um brilho perigoso nos olhos, mas aquilo não intimidava Sayuri nem um pouco.
— Se não tomar vou contar para sua mãe que esta fazendo drama. — Responde ela com um sorriso de canto.
— Você não se atreveria! — Diz ele.
— Me desafie então.
Ele não fez, em meio a resmungos pegou o comprimido e o tomou rapidamente. Pisando duro Hideo se levanta e vai tomar o seu banho. Sayuri ria ao ver ele resmungar como uma criança fazendo birra.
No momento em que chega a cozinha Sayuri encontra Mei fazendo o café da manhã, quando a vê a suas bochechas coram.
— Me desculpe querida, se soubesse que estava aqui com ele não teria vindo. — Diz desviando o olhar dos de Sayuri.
— Não se preocupe tia Mei, ontem o Ricardo me pediu para cuidar do Hideo, então apenas o peguei no bar e o trouxe para casa, não aconteceu nada entre nós. — Sayuri sabei que ela e Hideo não poderiam ter contato mais íntimo antes do casamento, já que na máfia eles exigiam que as noivas se casassem virgens, e Sayuri jamais desonraria a sua família daquela forma.
— Fico mais aliviada por saber que estava lá Sayuri. Esse menino quase me mata de preocupação. — Diz ela com um suspiro aliviado.
— Vou ficar de olho nele tia Mei, não precisa se preocupar. — Diz ela tranquilamente se sentando em um banquinho.
— Isso me deixa mais tranquila, mas quero que se cuide também querida. — Diz ela dando um tapinha na mão de Sayuri.
— Vou ficar bem. — Responde ela tranquilamente enquanto pegava uma maça do cesto a sua frente.
— Nem pensar. — Diz Mei pegando a maça das mãos dela. — Estou fazendo o café da manhã, não vai estragar o seu apetite comendo algo assim.
— Tudo bem, vou te ouvir tia. — Responde Sayuri satisfeita. Mei lhe da um sorriso e volta a cozinhar alegremente enquanto conversava com ela. Dá porta Hideo observava a interação da sua mãe e Sayuri com um vinco na testa, ele não esperava por aquilo e não sabia o que pensar do que estava vendo a sua frente.