A porta principal abriu-se com um rangido discreto. Yuki foi o primeiro a erguer-se. Os passos firmes que se aproximavam revelavam uma presença que para ele era desconhecida — mas esperada.
— Xavier. — disse Ricardo, com um aceno. — Chegou a tempo.
Xavier observava as pessoas a sua volta com atenção, analisando com cuidado os rostos que ele não conhecia.
— Desculpe não poder vir antes, estava resolvendo algumas coisas — disse Xavier, pousando uma pequena mala tecnológica sobre a mesa. — Trouxe o necessário para rastrear Masato. Redes, comunicações, acessos — tudo o que conseguirmos interceptar vai passar por aqui.
Ricardo sorri com as palavras do amigo. Xavier sempre estava a um passo a frente deles, quando se tratava de uma missão como aquela, e Ricardo era grato pela mente perspicaz do amigo.
Alicia aproximou-se do equipamento e começou a ligá-lo com precisão cirúrgica. O brilho azulado dos monitores logo iluminou a mesa, enquanto linhas de código percorriam o ecrã.
— Vamos montar uma rede de vigilância paralela. Já sabemos que ele usa identidades falsas para algumas transações, mas há padrões. Ele é cuidadoso, mas não tanto para impedir que consigamos ter acesso as suas informações. — explicou Alicia com um sorriso no rosto.
— Quero morrer amigo de vocês. — Diz Matteo com um sorriso de canto.
— Se pisar na bola, vou ser o primeiro a raquear suas contas e o seu histórico de navegação. — Diz Aurélio com um sorriso no rosto.
— Não pode estar falando sério. — Diz Matteo com a sobrancelha arqueada.
— Infelizmente ele está. O nosso amigo tem mania de esfregar as vergonhas das pessoas nas suas caras. — Diz Síria balançando a cabeça.
— Você tem que entender Sí, é uma das poucas diversões que tenho. — Diz Aurélio de forma relaxada.
— Esqueçam isso, tomos muita coisa para organizar. — Diz Klaus se aproximando de Alícia e ligando um notebook.
Enquanto eles se concentravam, Ricardo virou-se para o resto do grupo.
— Nico, Charles, Max... vão para as ruas. Falem com os informantes. Quero saber quem viu Masato. Movimentos suspeitos, carregamentos, qualquer coisa fora do normal. — Ele joga um aparelho para Max com a lista de todos os seus informantes naquela região. — Se precisarem de algo nos avisem.
— Não precisa se preocupar chefe, vamos cuidar disso. — Diz Charles pegando a sua jaqueta e saindo com os outros.
O som de passos se aproximando fazem eles pararem por um segundo o que estavam fazendo.
— Sayuri...? — chamou uma voz grave do hall de entrada.
Era o pai dela. Kyota tinha voltado de uma viagem rápida de negócios. Ele observa a bagunça na sua sala e compreende o que estava acontecendo.
Ricardo aproximou-se, o olhar sério. O grupo manteve o silêncio respeitoso enquanto ele explicava — o ataque, o envolvimento de Haruki, o estado de Hideo, e a ameaça que Masato representava. Infelizmente Kyota tinha saído antes que pudesse saber de tudo aquilo, mas Ricardo havia explicado bem as coisas que tinham acontecido.
Os olhos de Kyota se escureceram com cada palavra. Quando terminou, havia uma raiva contida no ar. Ele jamais imaginava que Haruki pudesse fazer aquilo com o próprio filho, mas também não duvidava. Haruki fazia de tudo para manter a aparência de líder implacável da máfia, e no processo ele nem mesmo poupava a sua família.
— Haruki ousou tocar em Hideo... — murmurou ele. — E achou que o meu silêncio seria garantido? Não concordo com isso, e se soubesse antes teria falado com ele.
— Acho que não teria adiantado muito se você tivesse falado com ele. — Diz Ricardo de forma tranquila.
— Verdade, papai, eu estava lá e vi o quanto foi difícil para o senhor Algustini chegar a um acordo com Haruki. — Diz Yuki.
Kyota se vira para Ricardo, agora com uma expressão decidida.
— Eu conheço Masato. Ou melhor, conheço o tipo de homens que o protegem. Há anos que mantenho contactos, gente que me deve favores. Se quiser encontrá-lo, vão precisar de ajuda. E deseja manter a minha filha em segurança. — Diz ele.
— Toda ajuda é bem vinda senhor Kyota. — Responde Ricardo.
— Vou mandar alguns dos meus homens para ajudar os seus, eles conhecem bem a região e vão adiantar o trabalho. — Diz ele já pegando o telefone e saindo da sala.
— Bem, eu é que não voou ficar aqui sem nenhuma diversão. — Diz Aurélio se levantando. — Você vem comigo compadre, estou louco para ver se a sua fama é justificada. — Diz ele dando um tapinha no ombro de Matteo.
Matteo sorri com as palavras de Aurélio, ele conhecia bem a fama que o Don da máfia italiana tinha e estava curioso para ver do que ele era capaz.
— Toma cuidado moreno. — Diz Oksana indo até ele e lhe dando um beijo.
— Não pode fazer isso quando estou saindo loira, tenho vontade de te trancar em um quarto e não te deixar sair mais. — Diz ele dando uma mordida nos labios dela.
— Souta minha irmã seu tarado! — Diz Yuri indo até eles e puxando Oksana dos braços de Aurélio.
— Estraga prazeres. — Diz ele emburrado.
— Você já vai ter mais dois filhos, são cinco agora Aurélio, não precisamos de mais crianças com o seu génio e da minha irmã. — Diz ele com um bico no rosto. Oksana levanta a mão e da um tapa na cabeça de Yuri. — O que foi Oksana!
— Não fale assim dos seus sobrinhos, e nem do moreno. — Diz ela com a sobrancelha arqueada.
— Desista Yuri, sabemos que essa é uma briga que você não pode comprar. — Diz Klaus rindo da cara brava dele.
— Vejo vocês mais tarde. — Diz Aurélio dando uma piscadinha para Oksana e saindo.
— Cinco filhos! É sério? — Pergunta Yuki curioso.
— Infelizmente, sim, a minha irmã teve trigémeos na primeira gestação, e agora vem mais dois, duas meninas. — Diz Yuri com um sorriso no rosto. Ele gostava da ideia de ter sobrinhas para variar um pouco.
Yuki olha para Oksana sentada alisando a barriga e sorri, ele podia ver o quanto o Don da máfia russa amava a irmã em cada palavra que ele dizia.
— Não sei como reagiria se Sayuri me dissesse que esta gravida. — Diz ele passando a mão no rosto.
— Acho que não seria diferente do que eles fizeram. — Diz Síria rindo.
— E o que seria? — Pergunta Yuki.
— Levamos para o tatame e acertamos as contas, novas e velhas. — Diz Ricardo com um sorriso de canto.