— Qual é! Vai fazer só isso? — pergunta Aurélio a Matteo.
Matteo larga o homem à sua frente e encara Aurélio com olhos hostis. Ele não acreditava no que estava ouvindo, ainda mais vindo de Don Aurélio.
Os olhos de Matteo se viram para o homem amarrado à sua frente, examinando o que havia feito com ele. Ele era um dos espiões de Masato e, para a tristeza deles, o homem tinha a boca muito bem fechada.
— Vem fazer melhor, então! Só sabe reclamar. — diz Matteo, jogando a faca que estava usando para Aurélio. Ele pega a faca no ar, girando-a entre os dedos; em seu rosto, um largo sorriso se abria.
— Não precisa pedir duas vezes. — diz Aurélio, se aproximando do homem. — Hora da verdadeira diversão começar.
Matteo se senta em uma cadeira ao lado e observa o que Aurélio iria fazer. Ele já tinha ouvido muita coisa sobre o sádico Don da máfia italiana, mas ver era algo totalmente novo para ele.
— Acha que vai me fazer falar? — diz o homem, rindo da cara de Aurélio.
— Comigo você não apenas vai falar, como vai cantar. — diz ele, se aproximando dele. — Agora seja um bom menino e me diga o que sabe sobre Masato.
— Vai para o inferno. — diz o homem.
— Acho que você não me ouviu direito, mas posso resolver isso. — diz Aurélio, se aproximando dele lentamente, os seus olhos fixos no homem à sua frente. Com um movimento rápido, ele passa a faca na orelha do homem, cortando-a fora.
— Haaaaaa! — grita ele em desespero.
Aurélio ri com a reação dele, pega a orelha e a aproxima da boca.
— O que sabe sobre Masato agora? — pergunta ele, falando na orelha do homem que ele tinha acabado de cortar.
— Que coisa de amador. — diz Matteo.
— Cala a boca e não atrapalha. — diz Aurélio, jogando a orelha nele.
— Não sei como a Fênix te aguenta. — diz Matteo, pegando a orelha e jogando no chão.
— Eles são minha família, é obrigação deles me aturar. — responde ele, convencido, piscando para Matteo. — Vai falar agora?
— Não! Pode me matar, mas não vai arrancar nada de mim! — diz ele.
Aurélio ri das palavras do homem, se aproximando dele. Ele coloca a mão em seu ombro enquanto ria.
— Acho engraçado a forma como você finge ser forte, Jaime, mas achei que fosse mais esperto. — No momento em que o nome do homem deixa os lábios de Aurélio, ele trava na cadeira, a sua respiração se agitando em surpresa.
Matteo para na mesma hora ao ouvir aquilo, se perguntando quando Aurélio tinha descoberto a identidade do homem à sua frente.
— Como... como sabe o meu nome? — pergunta o homem, sem acreditar no que estava ouvindo.
— Como eu sei? — diz ele, ficando de costas para o homem enquanto apertava os seus ombros com força, o fazendo gemer. — Poder, Jaime, poder compra tudo, e, para sua sorte, tenho os contatos certos para isso.
— A Fênix. — diz o homem. Todos sabiam que Don Aurélio era próximo da Fênix, e para Jaime aquela era a única explicação para ele saber seu nome.
— Não incomodaria a Fênix com algo tão pequeno, mas tenho amigos que sabem a qual grupo você pertence. — responde Aurélio, pegando a orelha dele no chão e mostrando uma pequena tatuagem de um ouriço atrás. Aquele era o símbolo de uma organização no submundo que era especialista em espionagem.
Matteo olha aquilo surpreso. Ele se levanta rapidamente, pega a orelha da mão de Aurélio e examina a tatuagem. Ele tinha estado um bom tempo com o homem e não havia percebido aquela tatuagem.
— Como você... — começa Matteo.
— Seytan. — diz ele, dando de ombros.
Os olhos de Matteo pareciam que iriam saltar do seu rosto; ele olhava para Aurélio, se perguntando quem ele realmente era, pois naquele momento ele não via o palhaço de minutos atrás: o sorriso ainda era o mesmo, mas a sombra que os seus olhos tinham era algo totalmente diferente.
— Impossível! — diz o homem, se debatendo na cadeira.
— Não conheço essa palavra e tenho certeza de que a sua mulher também não. — diz ele, enquanto ria da cara do homem. — Foi engenhoso, Jaime, eu confesso. Escondê-la em um lugar como a Antártica foi muito bom, vou usar essa ideia quando precisar.
Se antes Matteo tinha ficado surpreso, agora ele estava além disso. Mas, vindo de Aurélio, ele não devia se surpreender; o homem tinha uma fama muito boa no submundo.
Jaime deixa os ombros caírem enquanto ouvia as palavras de Aurélio; ele não podia acreditar no que estava acontecendo.
— Está blefando. — diz ele, sem querer acreditar naquela história.
— É mesmo? — diz ele, pegando o seu telefone e mostrando uma foto de uma mulher sorrindo enquanto esquiava. — Ana é bonita, mas não chega nem aos pés da minha; aquela russa é que é mulher de verdade.
O resto de esperança que o homem tinha desabou rapidamente diante dos seus olhos ao ouvir o nome da sua esposa. Ele estava com problemas, e não era pouco.
— Por favor! Ela não tem nada a ver com isso! — grita ele, desesperado.
— Apenas me diga o que quero saber e a bela Ana vai continuar segura. — diz ele, olhando fixamente para o homem à sua frente.
— Como vou saber que está dizendo a verdade? — pergunta ele.
— Não sou Masato, e fala sério! Tenho um nome a zelar. — responde Aurélio, como se estivesse brincando com ele.
— Você vai me...
— Te matar? — o homem apenas acena com a cabeça. — Sim, como disse, tenho um nome a zelar e minha misericórdia não se estende a você, mas ela ficará segura.
Jaime olha para Matteo, que observava a conversa com interesse, mas ele entendia o olhar do homem à sua frente.
— Tem minha palavra que ele cumprirá a dele. — diz, olhando para Jaime.
— Tudo bem, eu conto. — diz ele, com um suspiro pesado.